Etnocentrismo e alteridade entraram no debate público no século 19, quando o sociólogo polonês Ludwig Gumplowicz popularizou a crítica aos povos que se colocam como o ponto mais alto da história.O intelectual de nome difícil comparou o etnocentrismo a dois outros conceitos ultrapassados: o geocentrismo e o antropocentrismo. O primeiro diz que a terra é o centro do universo, enquanto o segundo coloca o ser humano como a coisa central do mundo.A ideia de considerar o próprio grupo como centro de tudo e de julgar outras culturas de acordo com o padrão da sua própria tem repercussões até hoje e é assunto na sociologia e nas ciências sociais. Você já vai entender como esse rolê funciona. O que é etnocentrismo?
O etnocentrismo é sobre usar a pŕopria cultura como um quadro de referência pra julgar a outra. Esse julgamento leva a algumas conclusões equivocadas, como a de que a cultura de referência é superior.Isso é principalmente verdadeiro quando a análise é ligada às coisas que definem sua identidade. Por exemplo, os costumes, o idioma e a religião. Assim, o etnocentrismo traz à tona juízos culturalmente tendenciosos e aparece na origem vários problemas sociais. Isso inclui a discriminação, a criação de estereótipos, o racismo e a xenofobia.Na sociologia, o sociólogo William G. Summer descreve a ideia pela primeira vez. Na sua visão, é o etnocentrismo que é o responsável pela crença da superioridade de um povo e o desprezo por estrangeiros. Essa visão impede os observadores de reconhecerem a alteridade e se opõe ao “relativismo cultural” — a ideia de que uma pessoa só pode ser compreendida de acordo com os valores da própria cultura.O que é alteridade?
A alteridade é a qualidade do que é diferente. O termo aparece em alguns campos do conhecimento, como sociologia, antropologia cultural, psicologia, filosofia continental e teologia. Assim, a palavra tem origem no latim “alter”, que significa “de outra forma”. Pra entender o outro, os sociólogos estudam como as identidades sociais se constroem.As identidades sociais envolvem a forma com a qual as pessoas assimilam seus traços individuais. Por exemplo, identidade étnica, de gênero e de classe. Essas categorias dão pistas sobre o senso de pertencimento das pessoas e a forma que gostariam de serem percebidas pelos outros.O termo demarca identidade e diferença em relação ao outro. Por isso, envolve ideias de individualidade e tolerância. O conceito se baseia no princípio de que existe distância subjetiva entre pessoas e culturas diferentes. Assim, a alteridade tem um papel importante pra criação de uma sociedade democrática e tolerante.Como etnocentrismo e alteridade se relacionam?
A antropologia teve uma origem etnocêntrica.Herbert Spencer, por exemplo, um dos primeiros antropólogos ingleses, é considerado um dos defensores do chamado “darwinismo social” — a teoria social que pretendia levar a seleção natural à sociologia e que é associada à popularização do racismo científico.Alguns dos intelectuais defendiam a existência de hierarquias de acordo com a cor de pele.Isso começou a mudar com o pensamento de Franz Boas, o pai da antropologia moderna e um dos fundadores do relativismo cultural. O intelectual defendia que o estudo de uma cultura deveria acontecer por referências de alteridade.Assim, o pensador criou o “particularismo histórico”, a concepção de que não existem sociedades superiores e inferiores. Desse modo, conhecer uma sociedade passou a envolver entrar na cultura, assimilar o idioma, interagir com os estrangeiros e, principalmente, não julgar de acordo com os próprios princípios culturais.Quais são os exemplos de etnocentrismo?
Um exemplo comum que você talvez tenha visto na escola é o pensamento colonizador. Algumas das cartas dos cronistas que acompanharam as explorações portuguesas têm um viés etnocêntrico, hierarquizando os povos nativos como inferiores aos europeus. Mas vale ter em mente que o conceito ainda não existia na época.As interações racistas deram origem à escravidão indígena e, depois, ao tráfico negreiro. O Brasil teve mais de 350 anos da escravidão, que seria extinta apenas com a Lei Áurea. Europeus de diversos países adotaram a prática em suas colônias, com o maior número de escravos vindo pra América Portuguesa, atual Brasil.Outro exemplo importante é o que aconteceu durante o governo hitlerista que deu origem à Segunda Guerra Mundial. O ditador se apoiou em ideias de antissemitismo, racismo científico e eugenia, definindo os alemães como a parte superior de uma hierarquia racial. Desse modo, incorporando ideias de darwinismo social à “raça ariana”.
