Fala, galera do Descomplica! Tudo bem com vocês?
Na semana passada, nós conhecemos um pouco dos mitos e de como eles funcionam. Vimos que, assim como o argumento é o meio pelo qual a filosofia busca explicar a realidade à sua volta, da mesma maneira, o mito é o meio pelo qual a religião procura nos fazer compreender o mundo. Se um filósofo procura apresentar provas, justificativas, demonstrações das ideias que defende; o homem religioso, por outro lado, apresenta mitos, isto é, histórias sagradas que procuram responder alguma questão que angustia o homem. É justamente porque são uma expressão religiosa, aliás, que os mitos não são argumentos racionais, mas assim estão baseados na fé.
Pensemos, por exemplo, no caso da religião cristã, que é em geral a mais próxima de nós. No sentido em que estou falando aqui, podemos dizer perfeitamente que o capítulo 3 de Gênesis, que relatava o pecado original, é um mito. Sim, afinal, em primeiro lugar, é uma história e não uma sucessão de argumentos; além disso, é uma história sagrada, contada pela religião; e, por fim, é uma história que procura responder a uma questão fundamental do homem. Como todos sabemos, nesse caso específico, a pergunta é “De onde vem a tendência ao mal que existe no coração de todo ser humano?”. A solução bíblia, por sua vez, de maneira absurdamente resumida, é de que o homem se tornou mal na medida em que rompeu sua unidade com Deus, simbolizada pelo Éden. Concordemos ou não com a resposta, consideremo-la boa ou ruim, o fato é que ela é uma resposta.
Ora, mas por que estou falando disso tudo se o nosso temade hoje é o surgimento da filosofia? Por um motivo simples. Não podemos nos esquecer que a filosofia não surgiu no vazio, ocupando um espaço que estava vago. Pelo contrário. Quando os primeiros filósofos surgiram na Grécia, lá pelo século VII a.C., o homem já tinha uma série de respostas para as questões que a filosofia iria levantar. Essas respostas eram dadas através da religião e de seus mitos. Também na Grécia era assim. Por meio de seus deuses e ritor, de suas práticas e crenças, a religião grega antiga oferecia toda uma visão bastante complexa a respeito do mundo e do homem. Essa visão religiosa não foi destruída com o surgimento da filosofia, de modo algum. Ao contrário, ela continuou se desenvolvendo. O ponto, porém, é que através da filosofia surgiu uma alternativa, nasceu uma nova atitude diante do mundo. Com ela, a fé deixou de ser o único meio pelo qual se podia conceber as coisas. Agora era possível tentar explicar o universo através da razão, de nossa capacidade de conhecer por nós mesmo, de argumentar, de justificar o que cremos.
Repito: a filosofia não acabou com o mito e nem pretendeu fazê-lo. Ela apenas ofereceu uma alternativa. Muitos filósofos ao longo da história, inclusive, foram profundamente religiosos. Até hoje filósofos católicos, protestantes, ortodoxos, muçulmanos, judeus. Assim como há filósofos ateus e agnósticos. É por isso que não há uma posição consensual da filosofia em relação ao mito e esse tema é tão debatido até hoje. A única coisa que temos que ter em mente é que o surgimento da filosofia representa o surgimento de uma explicação diferente do mundo, de uma explicação. Desde Tales de Mileto, desde aquele que foi o primeiro filósofo, a razão entrou na história. Desde então criou-se um lugar onde quem manda única e exclusivamente é o melhor argumento.
Assista uma aulasobre o assunto.
Esse resumo foi produzido pelo monitor de Filosofia Pedro Ribeiro.