Hoje é dia de Festa de Iemanjá na Bahia. Quer saber como ela pode te ajudar a aprender sobre intolerância religiosa? Vem ver!
Você pode estar de voltas às aulas ou curtindo as últimas semanas de férias, mas, para muita gente, hoje é um dia de festa. 2 de fevereiro é o dia em se comemora tradicional a Festa de Iemanjá na Bahia. Pescadores e fiéis participam de um cortejo marítimo, levando flores, perfumes, velas, bilhetes e até champanhe como oferenda para Rainha do Mar, na esperança de que ela possa abençoar cada vez mais os pescadores.
A festa é tão grande que começa de madrugada, e já se estendeu para outras regiões do país. Devotos do candomblé, da umbanda e do catolicismo participam lado a lado, sambando na cara de quem ainda tem preconceito. Por falar nisso, quer exemplo melhor sobre a luta contra a intolerância religiosa que a Festa de Iemanjá? Aliás, já pensou se esse assunto cai na sua prova do vestibular ou até mesmo na sua redação? Melhor ficar por dentro de tudo, né? Confira 3 textos sobre a intolerância para mandar bem na hora H!
TEXTO I
A intolerância religiosa é um conjunto de ideologias e atitudes ofensivas a diferentes crenças e religiões. Em casos extremos esse tipo de intolerância torna-se uma perseguição. Sendo definida como um crime de ódio que fere a liberdade e a dignidade humana, a perseguição religiosa é de extrema gravidade e costuma ser caracterizada pela ofensa, discriminação e até mesmo atos que atentam à vida de um determinado grupo que tem em comum certas crenças.
As liberdades de expressão e de culto são asseguradas pela Declaração Universal dos Direitos Humanos e pela Constituição Federal. A religião e a crença de um ser humano não devem constituir barreiras a fraternais e melhores relações humanas. Todos devem ser respeitados e tratados de maneira igual perante a lei, independente da orientação religiosa.
O Brasil é um país de Estado Laico, isso significa que não há uma religião oficial brasileira e que o Estado se mantém neutro e imparcial às diferentes religiões. Desta forma, há uma separação entre Estado e Igreja; o que, teoricamente, assegura uma governabilidade imune à influência de dogmas religiosos. Além de separar governo de religião, a Constituição Federal também garante o tratamento igualitário a todos os seres humanos, quaisquer que sejam suas crenças. Dessa maneira, a liberdade religiosa está protegida e não deve, de forma alguma, ser desrespeitada.
É importante salientar que a crítica religiosa não é igual à intolerância religiosa. Os direitos de criticar dogmas e encaminhamentos de uma religião são assegurados pelas liberdades de opinião e expressão. Todavia, isso deve ser feito de forma que não haja desrespeito e ódio ao grupo religioso a que é direcionada a crítica. Como há muita influência religiosa na vida político-social brasileira, as críticas às religiões são comuns. Essas críticas são essenciais ao exercício de debate democrático e devem ser respeitadas em seus devidos termos.
Fonte: Guia de Direitos
TEXTO II
Islamofobia, o preço do medo nos EUA
Yolanda Monge
Os Estados Unidos vivem dias de histeria, medo do estrangeiro e pânico de que os vindos de fora possam impor o terror dentro das suas fronteiras. Pouco ou nada importam os dados que apontam que nenhum dos 750.000 refugiados que se estabelecerem nos EUA dede os ataques de 11 de setembro de 2001 foi detido até hoje por suspeita de envolvimento com o terrorismo doméstico, como observou nesta semana o deputado californiano Xavier Becerra, citando a revista The Economist.
Os ataques de Paris fizeram aflorar o medo e a ignorância. O prefeito de Roanoke, pequena localidade no Estado da Virgínia, sugeriu na semana passada que os refugiados sírios sejam recolhidos a campos de internação, assim como aconteceu com os cidadãos norte-americanos de ascendência japonesa depois do ataque a Pearl Harbor (1941). Esse prefeito, chamado David Bowers, deve ter achado que bastaria recorrer à história e mencionar o presidente Franklin D. Roosevelt para que sua proposta ganhasse legitimidade. Movido pela premência em tomar medidas contra a barbárie, Bowers falou sem antes fazer nenhuma verificação, o que o levou posteriormente a pedir desculpas por seus comentários.
“O presidente Roosevelt se viu obrigado a encerrar a cidadãos japoneses depois do bombardeio de Pearl Harbor, e agora parece que a ameaça contra a América por parte do Estado Islâmico é tão real e séria como foi a dos nossos inimigos naquela época”, disse o prefeito. Na verdade, Roosevelt deteve não cidadãos japoneses, e sim norte-americanos cujo único crime era terem tido antepassados japoneses. O Governo dos EUA pediu perdão por isso em 1988, afirmando que a prática havia sido motivada por “preconceitos racistas, pela histeria da guerra e por uma falha da liderança política”.
E, no entanto, vários aspirantes a liderar os Estados Unidos parecem ansiosos por repetir esses erros do passado. Marco Rubio já comparou os muçulmanos aos nazistas. Ted Cruz e Jeb Bush querem proibir a entrada no país de refugiados sírios – mas só dos muçulmanos, já que os cristãos teriam portas abertas. Ben Carson, líder nas pesquisas, chegou a comparar os refugiados sírios a “cães raivosos”, e todos sabem que final aguarda estes últimos. Chris Christie, para citar outro exemplo de histeria norte-americana, chegou a dizer que “nem mesmo os órfãos menores de cinco anos deveriam ser admitidos nos Estados Unidos”.
E finalmente há Donald Trump, que merece um comentário à parte, porque sua proposta é pura e simplesmente um apelo ao renascimento do fascismo que arrasou a Europa. O magnata multimilionário, que diz ter soluções expressas para praticamente qualquer assunto que for debatido, disse na quinta-feira passada que seria necessário criar um cadastro nacional de muçulmanos, algo que não se afasta muito da estrela amarela com a qual os nazistas marcavam os judeus.
Como exemplo prático de uma reação de urgência ao pânico instaurado pelos atentados de Paris, a Câmara de Deputados aprovou nesta semana um projeto de lei que freia os planos do presidente Barack Obama para dar proteção a 10.000 refugiados sírios. “Não podemos deixar nenhum deles entrar enquanto não estivermos 100% seguros de que eles não representam um perigo para a pátria”, afirmou o presidente da Câmara, Paul Ryan.
Uma semana depois de os terroristas do EI matarem 130 pessoas em vários ataques em Paris, a comunidade muçulmana nos Estados Unidos se viu obrigada, como já ocorrera após o 11 de Setembro, a se colocar na defensiva. Ela não só precisa argumentar em prol da sua fé, recordando que o islamismo é uma religião de paz, como também enfrenta ataques físicos. A profanação com fezes de uma mesquita no Texas e as páginas arrancadas de um Corão; outra mesquita vandalizada em Nebraska; ataques verbais e nas redes sociais contra locais religiosos em Tampa e em Houston… “Temo que, infelizmente, estejamos assistindo a uma corrente generalizada de islamofobia”, diz Ibrahim Hooper, diretor nacional de comunicação do CAIR (Conselho de Relações Islâmico-Americanas, na sigla em inglês).
Em seu livro American Hysteria (histeria americana), o jornalista Andrew Burt, hoje pesquisador visitante da Escola de Direito de Yale, sustenta que a histeria política surge em períodos de profunda incerteza sobre a identidade norte-americana. “Quando os norte-americanos perdem o sentido de quem são, agridem aqueles que são percebidos como ameaças, criando listas negras, bodes expiatórios, conspirações ou acobertamentos”, escreve Burt no prólogo de um volume que revê momentos cruciais do extremismo político nos EUA, tais quais o macarthismo dos anos 1950.
Burt conclui as páginas de seu livro citando o terceiro presidente dos Estados Unidos, Thomas Jefferson: “A melhor maneira de proteger as liberdades que tanto amamos é deixando-as intactas – não só em tempos de normalidade, mas também em períodos de crise”. Do contrário, paga-se o preço do medo, cuja moeda os Estados Unidos tão bem conheceram na última década, seja invadindo o Iraque sob mentiras ou violando os direitos de centenas de prisioneiros sequestrados na base naval de Guantánamo, encravada em território cubano.
Fonte: El País
TEXTO III
Na luta contra a intolerância religiosa
Walmyr Junior
Segundo o artigo 18 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, “todo o homem tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou em particular”.
A luta se projeta num cenário nacional em que todas as religiões diferentes do cristianismo, são perseguidas, demonizadas e personificadas como “o mal”. Por conseguinte, “o mal” deve sempre ser exterminado, expurgado. Não é preciso fazer muito esforço na internet para encontrarmos casos e mais casos de violência, depredação e destruição de espaços afrocentrados e de outras denominações. Uma adolescente que leva pedrada por estar vestida de branco; um terreiro que é destruído com pichações com palavras que demarcam toda a violência simbólica que esses grupos marginalizados sofrem.
De acordo com dados divulgados pela Secretaria Nacional de Direitos Humanos, da presidência da República, apenas em 2014 foram registradas mais de 20 denúncias de ofensas à religião no Rio de Janeiro, sendo o 2º estado com maior número de violações. Não é preciso se esforçar muito, para ver vídeos, imagens ou textos de líderes religiosos incitando o fechamento e a erradicação do centros e terreiros de religiões de matrizes africanas.
Tais ataques não podem ser dissociados da perspectiva racista que carregam. Afinal, dados do Disque 100 do governo federal em 2014 destacam que a maioria dos ataques sofridos foram por negros e negras. Tem uma relação direta com a ideia primitiva e de ojeriza a todo processo cultural e sociológico vindo da África.
A luta se faz enquanto ato político que reivindica o direito de ir e vir de todo cidadão, livre de opressões e de agressões, de permanecer com sua crença, de ter sua vontade respeitada. Que possamos nos unir pelo bem comum para que juntos e juntas gritar: Não a Intolerância e SIM a liberdade religiosa!
Fonte: Jornal do Brasil
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