Entenda melhor sobre este campo que estuda o próprio conhecimento humano
Como você sabe o que você sabe? Parece até trava línguas, mas essa é a questão fundamental que define a Epistemologia.O conhecimento humano sempre foi objeto de atenção dos filósofos, desde a antiguidade.
No artigo de hoje, vamos aprender o que constitui a reflexão epistemológica e como os diferentes filósofos responderam ao “problema do conhecimento” ao longo do tempo.
1 – O que é
De uma maneira geral,podemos dizer que a epistemologia é o campo da filosofia que estuda as diferentes formas pelas quais o ser humano adquire conhecimento. Esse conhecimento, dentro da discussão epistemológica, é tido como genuíno e verdadeiro.
Seu nome vem da junção dos termos episteme: conhecimento e logia: estudo. Embora sua existência remonte a Filosofia Clássica, o termo Epistemologia foi utilizado pela primeira vez pelo filósofo escocês James Frederick Ferrier (1808 – 1864).
A Epistemologia se configura em torno de três questões principais:
- o que é o conhecimento
quais são as fontes de conhecimento
quais são as possibilidades e limites do conhecimento.
É importante ressaltar que a discussão sobre o conhecimento se manifesta durante toda a história da filosofia. Vamos então conhecer como a epistemologia foi se constituindo ao longo do tempo, principalmente a partir da modernidade.
2 – A epistemologia na Filosofia Moderna
2.1 – Empirismo X Racionalismo
No período moderno a discussão sobre o conhecimento passa a ser definida pela oposição entre empiristas e racionalistas. Os racionalistas defendem que o conhecimento é adquirido a partir da razão, de acordo com o método dedutivo. Os empiristas, por sua vez, acreditam que o conhecimento é adquirido a partir de nossa experiência, segundo o método indutivo.
Dedução: é um tipo de raciocínio que apresenta conclusões verdadeiras se todas as premissas também forem verdadeiras. Um exemplo clássico de raciocínio dedutivo são os Silogismos:
“Todo homem é mortal – Sócrates é um homem – Logo, Sócrates é mortal”.
Indução: é um raciocínio, que, diferente do dedutivo, apresenta suas conclusões a partir de indícios, elementos já disponíveis no ambiente. A conclusão só é válida após a observação de um número suficiente de elementos.
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2.2 – Descartes
René Descartes (1569-1650) foi um dos principais representantes do Racionalismo.Ele é quem vai levar a razão até às últimas consequências através de sua dúvida metódica. Segundo essa proposta, para se chegar à verdade, é preciso colocar todos (mas todos mesmo) os nossos conhecimentos em dúvida.
Nesse cenário de incerteza total, Descartes percebeu que a única coisa da qual ele não poderia duvidar de forma alguma era o fato de que ele estava pensando. O exercício da razão era o ponto de partida pelo qual todas as afirmações poderiam ser feitas.
Outros Filósofos Racionalistas:
Espinosa
Leibniz
2.3 – Locke
John Locke, ao contrário de Descartes, foi um importante filósofo Empirista.É dele que vem a famosa afirmação de que a mente humana é como uma “tábula rasa”. Com essa afirmação, Locke reafirmava a importância que a experiência tinha como única fonte viável de conhecimento.
Segundo essa concepção,é como se ao nascermos nossa consciência fossa literalmente uma “folha em branco”. Com o passar do tempo e das experiências vividas nossa consciência iria se preenchendo, e aí sim adquirindo conhecimento.
Outros Filósofos Empiristas:
David Hume
Thomas Hobbes
2.4 – Kant
A discussão entre racionalistas e empiristas vai continuar sem solução até que kant desloca o centro do debate: ao invés de discutir eternamente sobre a forma pela qual o ser humano adquire conhecimento, o filósofo propõe que se discuta o homem em si.
Em sua obra Crítica da Razão Pura,Kant afirma que o ser humano faz dois tipos de ‘juízos’ (afirmações) sobre a realidadeque constroem sua relação com o conhecimento: os juízos a priori e os juízos a posteriori. Juízos a priori são feitos sem recorrer à nenhuma experiência. Já os juízos a posteriori só podem ser feitos mediante experiências que validam a afirmação.
2.5 – A Epistemologia encontra a ciência
O debate entre Racionalismo e Empirismo, junto à concepção dos juízos a priori e a posteriori de Kant ajudaram a definir muito do que conhecemos hoje como método científico. Toda ciência começa com uma suposição ou hipótese (um juízo a priori), que é verificado a partir de experimentação para então se tornar uma tese (juízo a posteriori).
Com as transformações científicas dos séculos XIX e XX, a reflexão epistemológica se aproximou bastante da “Filosofia da Ciência”, sendo inclusive tomada por esse nome. Apesar dessa identificação, é importante salientar que Epistemologia e Filosofia da Ciência não são a mesma coisa.
A partir de então, a epistemologia vai se preocupar em definir a natureza do conhecimento científico e os processos pelos quais esse conhecimento é validado como verdadeiro.
3 – Os paradigmas científicos
No contexto do conhecimento científico, é importante observar que nenhuma teoria é absoluta. Apesar de reconhecido como como um conhecimento verdadeiro sobre a realidade, o conhecimento científico não é estável. Ele está em constante atualização.
É nesse contexto que os paradigmas científicos se inserem. Eles são como “verdades provisórias”, afirmações que podem ser feitas no atual estado do desenvolvimento científico. Mas quando e como um paradigma é substituído?
Apesar da extensa discussão sobre este tema, dois filósofos se destacaram a partir de suas reflexões específicas sobre o paradigma: Karl Popper e Thomas Kuhn.
4.1 – Karl Popper e o critério de refutabilidade
Karl Popper, físico, matemático e um importante filósofo da ciência,foi o responsável por definir o critério da refutabilidade como parâmetro para a aceitação ou abandono de uma teoria científica. Toda teoria científica pode ser provada falsa.
Isso significa dizer que um paradigma só é aceito como verdadeiro até que seja comprovada sua falsidade ou seus limites. Os paradigmas científicos se sucedem na medida em que seus limites são demonstrados. O conhecimento científico evidentemente pode progredir na busca de explicar o real, mas deve estar aberto a seus limites.
4.2 – Thomas Kuhn e as revoluções científicas
Thomas Kuhn, por sua vez, entende o movimento de alternância entre paradigmas de maneira diferente da elaborada por Kuhn. Ao invés de um processo linear baseado na falseabilidade das teorias científicas, Kuhn defende que os paradigmas se sustentam a partir de sua aceitação pela comunidade científica.
Isso significa que, mesmo se os limites e falhas de um paradigma forem demonstrados, ele pode continuar influenciando o trabalho científico, se os cientistas continuarem o aceitando como válido.
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