Fala galera, beleza? Como vocês já estão sabendo, nas últimas três semanas nós procuramos conhecer um pouquinho melhor o pensamento de Platão. Vimos, sobretudo, a sua famosa Teoria das Ideias, pela qual ele procura explicar tanto a natureza da realidade quanto as origens do conhecimento humano. Nosso estudo do pensamento platônico, porém, não vai parar por aí. De fato, eu já falei para vocês que Platão é o primeiro filósofo sistemático da história, isto é, que ele é o primeiro cara a procurar construir um conjunto de teorias filosóficas capaz de explicar todos os aspectos da realidade. Como ele faz isso? Simples. É sempre da Teoria das Ideias que Platão extrai os elementos para suas explicações, seja de que coisa for. Vamos ver hoje como ele faz isso em matéria política.
Para sabermos o posicionamento político de Platão, precisamos antes entender sua visão ética. Tal como seu mestre Sócrates, nosso filósofo acreditava que ninguém faz o mal por vontade própria, mas sim porque ignora o que é o bem. Isto se dá por um motivo simples: quem seria capaz de, em sã consciência, escolher o mal para si mesmo? Se as pessoas escolhem o mal é, portanto, somente por ignorância. Bem, se unirmos isto à Teoria das Ideias, que conclusão poderemos retirar? Quem será o homem virtuoso e correto segundo Platão? Quem é o único que conhece o verdadeiro bem? Isto mesmo: o filósofo. Afinal, só ele é capaz de alcançar a essência do Bem, que se encontra no Mundo das Ideias.
Como disse, a visão ética que leva Platão a valorizar o filósofo como o ser humano mais virtuoso é a mesma que irá orientar sua visão política. Em matéria de governo da sociedade, Platão deixa muito claro que, antes de tudo, é um antidemocrata. Membro de uma família tradicional na democracia ateniense e com uma carreira política já certa, o pensador grego decepcionou-se profundamente com a forma de governo de seu país e abandonou qualquer pretensão de ocupar cargos públicos. Desde a condenação de Sócrates, ele se convenceu de que o governo do povo pode facilmente causar grandes injustiças, afinal, a maioria não conhece como de fato as coisas são, não tem vocação política e facilmente se engana. E é a maioria, como se sabe, que guia o processo democrático.
Portanto, tal como deixa claro em sua obra República, Platão defendia que a sociedade ideal, ao contrário do regime democrático, que concede poder político a qualquer um, seria, na verdade, estruturada de maneira aristocrática. Nela, todos os cidadãos seriam divididos segundo suas respectivas vocações e, portanto, somente receberiam poder político aqueles que têm talento para tal. Assim, já desde a infância, as crianças seriam todas educadas pelo Estado e caberia aos professores discernir qual a vocação de cada aluno. Na prática, Platão defendia a estruturação em três classes: os trabalhadores, os guerreiros e os guardiões. Os trabalhadores, como o próprio nome indica, seriam os responsáveis pela sobrevivência material da sociedade e realizaram toda sorte de trabalhos manuais. Os guerreiros, por sua vez, exclusivamente voltados para a vida militar, teriam o papel de defender a sociedade. Por fim, aos guardiões caberia o governo. Como se sabe, a divisão social platônica tem, segundo nos diz o próprio pensador, uma base antropológica. Para ele, há nos homens três tipos de alma, que correspondem precisamente às três classes sociais, cada uma com sua virtude moral própria a desenvolver de maneira especial.
Para terminar, não é difícil saber quem seria os guardiões da sociedade ideal platônica. Como somente os filósofos conhecem de fato a justiça e o bem, graças a seu acesso privilegiado ao Mundo Inteligível, então, idealmente, só a eles caberia o comando, pois só eles seriam capazes de não se guiar por seus interesses particulares, mas sim pelo bem comum. É a chamada teoria dos reis-filósofos, uma forma de sofocracia (“governo dos sábios”). Obviamente, muito se debate até que ponto Platão acreditava literalmente em suas teorias políticas. De qualquer modo, história elas fizeram.