O “espectro” do comunismo ronda o mundo há séculos, mas, desde o século XIX, este se tornou ainda mais presente. Tanto nos gritos de esperança dos operários, quanto no medo da
Afinal, como chegar ao comunismo? Como ele impactaria no mundo? O que poderia beneficiar ou destruir? Essas perguntas ainda hoje circulam entre todas as classes que, enfim, também se perguntam: o que é comunismo?
O que é comunismo?
O comunismo é uma ideologia política e socioeconômica que tem como premissa a libertação do proletariado oprimido. Essa libertação, seria feita com a vitória na luta de classes contra a burguesia e com a democratização e coletivização dos meios de produção.
Assim, entendemos que no capitalismo há a propriedade privada dos meios de produção, a exploração proletária e a valorização da concorrência. No comunismo, por sua vez, as propriedades são coletivas, as produções democratizadas e não haveria a exploração do trabalhador. Por fim, os lucros seriam compartilhados e não supervalorizados apenas em um indivíduo.
Desta forma, no capitalismo o Estado seria fundamental para garantir os lucros da burguesia e a conciliação das classes. No comunismo, como não há lucros exorbitantes e classes sociais, o Estado, por sua vez, deixaria de existir. Logo, o comunismo pode ser definido como uma experiência de sociedade comunitária, democrática, sem Estado, sem hierarquias, sem luta de classes e sem exploração do homem pelo homem.
Atualmente, a principal corrente ideológica na construção da teoria comunista é o socialismo. Os socialistas entendem o comunismo como a última etapa de um processo evolutivo que visa a superação do capitalismo. Ou seja, o comunismo só seria possível através de um progresso teleológico, com a revolução industrial, a construção da sociedade burguesa, a formação da classe operária e, por fim, a revolução do proletariado.
Socialismo, anarquismo e comunismo
Como visto, atualmente, o principal defensor do comunismo é a corrente socialista. Entretanto, muitos anarquistas também se aproximam dessa ideia. A corrente anarco-comunista entende a possibilidade de superação do capitalismo e da sociedade de classes. Projetam assim a construção de um mundo sem hierarquias, opressão e autoritarismo, formado com base no coletivismo.
Entretanto, diferente dos socialistas, os anarquistas entendem que a transição para uma sociedade sem Estado deve ser radical. Ou seja, a Revolução não deve ainda passar pelo patamar da ditadura do proletariado, mas sim para a sociedade comunitária.
Os anarquistas compreendem dessa forma pois acreditam que a permanência do Estado e de outra ditadura seria problemática. Haveria no socialismo, por fim, apenas uma mudança do autoritarismo, formando mais uma opressão sobre os proletários, mas dessa vez partindo da elite socialista.
Naturalmente, os socialistas divergem dessa perspectiva. Para estes, a desconstrução do mundo capitalista deve, de fato, passar pela revolução. Entretanto, apenas com a ditadura do proletariado poderia ser possível garantir o sucesso revolucionário. Assim como, apenas com a orientação do Partido Comunista que a classe operária conseguiria construir as bases para o mundo comunista.
Desta forma, após a transição do capitalismo para o socialismo, enfim, posteriormente, seria possível o início do comunismo. Um dos principais teóricos que visaram essa perspectiva foram os sociólogos Karl Marx e Friedrich Engels, no século XIX.
Resumo sobre comunismo
- Para Marx, sociedades desde a pré-história experimentaram a construção de relações igualitárias e justas. Na modernidade, algumas experiências igualitárias chegaram a acontecer, mas ficaram conhecidas como “socialismos utópicos”;
- O socialismo científico recebe suas bases teóricas com os estudos de Marx e Engels no século XIX;
- Publicados respectivamente em 1848 e 1857, o “Manifesto Comunista” e “O Capital”, tornam-se obras fundamentais sobre a crítica ao capitalismo e a construção do comunismo;
- No século XIX o anarquismo de Bakunin e Proudhon se estabelece como uma via alternativa ao comunismo;
- Ainda no século XIX, Karl Marx apoia a formação das Internacionais Comunistas. Estas tinham como objetivo unir trabalhadores e membros da esquerda de todo o mundo para apoiar os movimentos sociais;
- Em 1917, a Revolução Bolchevique realiza na Rússia a primeira experiência socialista concreta da história. Em 1919, o líder revolucionário Vladmir Lênin cria a Terceira Internacional;
- Apesar da experiência socialista em Cuba, na U.R.S.S e em outros países, o comunismo de bases científicas jamais foi implantado na história. A desarticulação dos Estados socialistas para a formação do comunismo sempre ficou na promessa.
Principais obras da literatura comunista
- O Manifesto Comunista – Karl Marx e Friedrich Engels;
- O Capital – Karl Marx;
- A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado – Friedrich Engels;
- Do socialismo utópico ao socialismo científico – Friedrich Engels;
- O Estado e a Revolução – Vladimir Lenin;
- Que é a Propriedade? – Pierre Joseph Proudhon;
As obras de Karl Marx e Friedrich Engels
Marx e Engels realizaram uma parceria que explorou a filosofia, história, economia e sociologia, tendo como frutos diversos livros, como:
- A questão Judaica – Karl Marx (1843);
- Teses sobre Feuerbach – Karl Marx (1845);
- A ideologia alemã – Karl Marx e Friedrich Engels (1846);
- O Manifesto Comunista – Karl Marx e Friedrich Engels (1848);
- O Capital – Karl Marx (1867);
- Do socialismo utópico ao socialismo científico – Friedrich Engels (1890).
Apesar de muitas produções e reflexões ao lado de Marx, Engels também se destacou no estudo da sociedade capitalista. Entretanto, diferente do companheiro, Engels além de um intelectual também era um empresário e, horrorizado com a miséria, decidiu lutar pelo interesse dos trabalhadores.
Em sua obra “A situação da classe trabalhadora na Inglaterra” (1845), Engels revela o horror das condições de vida dos operários. Esse panorama foi o que levou Engels a produzir suas principais obras com Marx e a definir os caminhos para o socialismo científico. Ainda nesta perspectiva, para diferenciar suas propostas de outras tentativas socialistas, Engels também publicou “Socialismo: utópico e científico” (1880).
Nesta obra o autor analisou diversas experiências comunitárias do passado e o motivo de seus fracassos. Percebendo os erros das propostas anteriores e elaborando estratégias mais complexas, Engels separou o que denominou como “socialismo utópico” do seu científico.
Simbologia comunista
O comunismo se difundiu pelo mundo como uma ideologia social que pretendia atrair as massas trabalhadoras. Para realizar isso, os Partidos Comunistas se tornaram figuras centrais na orientação política dos trabalhadores. Entretanto, o comunismo foi além dos partidos, muitas vezes autoritários, ganhando cada vez mais novas vertentes e teóricos.
Um fator muito importante, em todos esses segmentos, foi a construção de símbolos que atraíssem a classe trabalhadora. O principal deles foi a foice e o martelo, mas outros também se destacaram, como a bandeira vermelha.
- Foice e cereais – Representação dos trabalhadores rurais;
- Martelo e engrenagens – Representação dos trabalhadores operários urbanos;
- Foice e martelo – União revolucionária dos trabalhadores rurais e urbanos na luta contra o capitalismo;
- Bandeira vermelha – Representação do desafio em guerras e símbolo da luta revolucionária russa em 1917;
- Armas cruzadas – simboliza a luta revolucionária armada.
Quais países são comunistas?
Atualmente, apesar de alguns países se considerarem regimes comunistas, teoricamente não o são. Tendo em vista que o conceito histórico de comunismo se relaciona a ausência de um Estado, essa experiência ainda não foi realizada. Ou seja, todos os países que realizaram revoluções socialistas, permanecem até hoje como ditaduras do proletariado.
Assim, no plano teórico, os regimes atuais ao redor do mundo se encontram em fases socialistas. Países como Cuba, China, Coreia do Norte e até mesmo a U.R.S.S, no passado, são controlados por uma elite socialista autoritária. O poder exercido por esses grupos, muitas vezes de forma violenta, não permitiu uma transição para o comunismo. Assim, apesar de se configurarem como sociedades sem classes, ainda possuem hierarquia e autoritarismo.
No caso brasileiro, há bastante desinformação sobre a relação do país com o comunismo. Assim, é importante destacar que o Brasil jamais adotou o socialismo, ainda menos o comunismo.
No século XX, algumas experiências com a socialdemocracia e com o nacional desenvolvimentismo construíram governos mais intervencionistas. No entanto, essas intervenções muitas vezes promoviam apenas o bem-estar social ou eram motivadas pelo nacionalismo. Portanto, a formação de uma ditadura do proletariado nunca foi organizada.
Além disso, no Brasil, o Partido Comunista, ao longo do século XX, foi sistematicamente perseguido e cassado. Muitas das suas lideranças, além de exiladas, foram assassinadas, o que desmobilizou a luta socialista no país.
O “comunismo primitivo”
A construção das teorias e da prática comunista, como observamos, não surgiu de uma hora para a outra. Assim, a crítica à propriedade privada, o desejo de desarticulação do Estado burguês e a luta pela igualdade são frutos de uma observação minuciosa de experiências e autores do passado.
Engels definiu algumas dessas experiências como “socialismos utópicos”. Apesar de buscarem melhorar a vida dos trabalhadores, entusiastas como Saint-Simon e Robert Owen não chegaram ao cerne da exploração capitalista. Para Engels, as propostas lançadas por eles não visavam, de fato, derrubar o capitalismo, apenas realizar reformas, logo, eram experiência utópicas.
Visto isso, vale destacar que outras civilizações também passaram por coletivização e experiências de igualdade no passado. O próprio Marx, inclusive, entendia que algumas características do comunismo poderiam ser observadas em civilizações “pré-históricas”.
Para Marx e Engels, mesmo não sendo sociedades comunistas, em algumas civilizações do passado podemos observar um “comunismo primitivo”. Estes homens “pré-históricos” se organizariam:
- sem Estado
- sem escravidão
- sem classes
- sem propriedade privada.
Desta forma, nessas civilizações, o trabalho e a produção eram compartilhados e visavam apenas a subsistência e não os excedentes. Essas características, portanto, seriam fundamentais para que os autores modernos pudessem refletir sobre o que seria uma sociedade justa e igualitária.
Já no século XVIII, o pensador Jean-Jacques Rousseau, por exemplo, também destacava a característica de subsistência do homem em natureza. Para o iluminista, o homem em seu estado de natureza não valoriza a propriedade privada e, por isso, vive em igualdade e liberdade.
Rousseau é, inclusive, considerado por muitos como uma espécie de precursor do pensamento socialista.
A Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT)
Em 1864, visando reunir trabalhadores e pensadores militantes do comunismo, Marx ajudou a criar a Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT). Conhecida popularmente como a Primeira Internacional, esta associação reuniu membros da Europa e dos E.U.A. Dentre seus objetivos, encontrava-se o apoio às lutas operárias e a discussão, em seus congressos, das principais teorias comunistas.
A Internacional, portanto, facilitava a articulação e a aproximação de diversas vertentes de esquerda e trabalhadores ao redor do mundo. Destarte, unia sob uma bandeira diferentes segmentos, como os seguidores de Marx, os reformistas e até os anarquistas de Bakunin e Proudhon.
Entretanto, apesar da diversidade, em 1872, Mikhail Bakunin, que era um membro ativo, foi expulso da Internacional após graves divergências com Marx. As tensões internas, assim, acabaram levando ao fim a Primeira Internacional em 1877.
Apenas em 1889, que Friedrich Engels, com outros intelectuais e líderes operários, iniciaram as atividades da chamada Segunda Internacional. Mais uma vez, a Internacional afastou os anarquistas por divergências internas e, em 1916, encerrou suas atividades.
Enfim, em 1919, decidindo reunir os comunistas de todo o mundo, Vladimir Lênin criou a Terceira Internacional (Comintern). Diferente das anteriores, essa Internacional contava com uma presença muito mais forte dos Partidos Comunistas, que se consolidaram no início do XX. Para Lênin, deveriam ser características fundamentais de todos os Partidos Comunistas:
- Incorporar os proletários ao socialismo científico;
- Incentivar e conduzir a luta pelo comunismo;
- Defender a classe operária;
Apesar do Comintern contar com Partidos Comunistas internacionais, a força da U.R.S.S de Stálin logo submeteu a Internacional ao bolchevismo. Com isso, o comunismo passou a ter sua simbologia frequentemente associada a própria U.R.S.S. Neste período a foice e o martelo, que representa a união dos camponeses e operários, popularizou-se como a bandeira do comunismo.
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