O judaísmo é a religião do povo judeu. Dentre as religiões monoteístas, isto é, que pregam a existência de um único Deus, é a mais antiga. O povo judeu tem uma história marcada por exílios e diásporas, criando um modo de viver próprio em diversas partes do mundo, sempre levando consigo sua fé.
A essência do judaísmo é a de que existe um pacto entre Deus e seus adeptos. Assim, são estabelecidas certas instruções e leis que os judeus devem seguir.
O judaísmo não diz respeito apenas a religião, mas sim sobre o modo de vida do povo judeu. Dessa maneira, apresenta diversos mandamentos e ensinamentos práticos que dizem respeito a todos os aspectos da vida.
Em tudo o que fazem, os judeus estão conscientes de sua ligação com Deus.
Além disso, possuem um vasto calendário religioso. São diversas práticas e festas que celebram momentos históricos importantes, festas alegres ou dias santos, nos quais refletem sobre arrependimentos, castigos etc.
Desde sua consolidação até os dias de hoje, o povo judeu passou por perseguições e adversidades e por isso sua fé foi reinterpretada e adaptada, acompanhando a modernidade.
Hoje existem diferentes ramos do judaísmo que vão desde o chassidismo místico, no qual as tradições são seguidas de forma mais conservadora, até o judaísmo de Reforma, mais adaptado ao mundo moderno.
Origens e história do judaísmo
Não se sabe ao certo como e quando o judaísmo surgiu. Segundo a bíblia dois nomes foram fundamentais para a sua criação: Abraão e Moisés. O primeiro é conhecido como o pai dos judeus.
Ele migrou da mesopotâmia (atual Iraque) para a terra de Canaã no Mediterrâneo oriental. Em virtude da fome, seus descendentes migraram para o Egito, onde viveram como escravos.
Moisés nasceu no Egito e em determinado momento foi ordenado que todos os bebês judeus do sexo masculino fossem mortos.
Seus pais o esconderam nas margens do rio Nilo onde foi encontrado pela filha do faraó e por ela adotado. Quando cresceu teve a visão de que Deus o teria mandado conduzir seu povo para fora do Egito.
Assim, Moisés os conduziu de volta para Canaã, terra prometida por Deus aos judeus no tempo de Abraão. Nesse caminho, Moisés recebeu de Deus as tábuas da lei (a Torá) no conhecido Monte Sinai.
Esse evento teria ocorrido no século XIII a.C. e marcou o início da aliança com Deus, o início do judaísmo. Para os judeus, Moisés é considerado uma combinação de líder, profeta, legislador e fundador do judaísmo.
O povo judeu viveu um período de autonomia sob reis como Davi e Salomão. Entretanto, em 586 a.C., o reino judaico ao sul da Canaã foi conquistado pelos babilônios. O templo judaico em Jerusalém foi destruído e muitos judeus se exilaram. Com o intuito de preservar sua história e tradições, eles passaram a escrever os primeiros livros da bíblia.
Nos séculos seguintes novos conflitos e dominações estrangeiras se consolidaram sobre o povo judeu, até que, em 538 a.C. os persas conquistaram a Babilônia e permitiram que os judeus voltassem para sua terra. Entretanto, oprimidos pelos gregos no século II a.C. os judeus se rebelaram e vitoriosos, construíram o Segundo Templo em Jerusalém.
Em 63 a.C. novamente o templo foi derrubado, dessa vez por romanos, que passaram a governar através de Reis. Herodes, o Grande, um desses reis, reconstruiu o Segundo Templo mas este passou a ser governado por seus próprios funcionários, gerando insatisfações e revoltas entre os judeus.
Dessa vez os revoltosos foram reprimidos e o templo foi destruído em 70 d.C.
Todo esse histórico fez com que o povo judeu abandonasse suas pretensões políticas e passasse a se dedicar ao saber. Os fariseus (grupos judaicos devotos à Torá) passaram a produzir conhecimento e interpretações acerca dos mandamentos da religião judaica.
Séculos depois, especificamente em 392 d.C. o cristianismo passou a ser a religião oficial do Império Romano. Com isso, os judeus foram perseguidos em diversos países, obrigados a se converter ao cristianismo e ainda excluídos do mundo do trabalho formal.
Com isso, passaram a viver em guetos e a desenvolver suas próprias atividades econômicas, muitos se tornaram comerciantes ou agiotas. Grande parte permaneceu na pobreza mas continuavam a se dedicar aos estudos, tornando-se grandes sábios.
Dois diferentes grupos de judeus se consolidaram à margem da sociedade na Europa: os Asquenazes e os Sefaradis. Os primeiros viviam sobretudo na Alemanha, Rússia e Polônia.
Já os Sefaradis viviam na Espanha até serem expulsos e se deslocarem para a África setentrional, para a Itália e Países Baixos. Os judeus expulsos da Espanha levaram seu conhecimento adquirido no mundo árabe para a Itália, contribuindo para a consolidação do Renascimento.
Com o advento do Iluminismo a vida do povo judeu na Europa melhorou substancialmente. Em muitos países seus direitos foram devolvidos, embora em alguns locais ainda fosse obrigatória a conversão para o cristianismo.
Nesse momento, importantes pensadores da religião judaica, conhecidos como judeus da Reforma abandonaram leis que atrapalhavam seu convívio com seus vizinhos e passaram também a dar menos importância ao até então esperado retorno à pátria judaica.
Entretanto, esse movimento de flexibilização gerou reações negativas de outras correntes do judaísmo e muitos praticantes se uniram em correntes mais tradicionais como o judaísmo ortodoxo e o judaísmo conservador. Nesse momento também se fortaleceu o chamado Sionismo que prega o retorno de todos os judeus à Jerusalém, a pátria judaica.
O antissemitismo, nazismo e o holocausto
Entre o século XVIII e meados do XIX, os judeus viveram um período de relativa paz e liberdade. Entretanto, no final do século XIX o preconceito contra esse povo deixou de ser religioso e passou a ser uma questão racial.
Isso significa que os judeus passaram a ser vistos como racialmente inferiores e foi negada a sua participação nas sociedades que eles compunham.
Na Alemanha, a ascensão da extrema direita e do nazismo, liderados por Adolf Hitler, estava embasada nos ideais nacionalistas e na suposta pureza da raça ariana e culminou no antissemitismo e no anticomunismo. O judeus foram perseguidos, encarcerados e executados em massa pelas tropas hitleristas.
Mesmo antes da eclosão da Segunda Guerra Mundial, tiveram seus bens confiscados, foram impedidos de trabalhar e confinados em bairros fechados.
Durante a guerra, os judeus passaram a ser sistematicamente exterminados nos campos de concentração e estima-se que o número de mortes chegou a seis milhões: o chamado holocausto judeu.
A fundação do Estado de Israel
Em 1948, a Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu, na região da Palestina, o Estado de Israel. Seu objetivo era abrigar os judeus na diáspora desde o Império Romano.
Entretanto, os governos árabes de diversos países da região, já antecipando essa possível decisão criaram, em 1945, a Liga Árabe com o intuito de conter o expansionismo judeu no Oriente Médio.
Desde a criação do Estado de Israel diversos conflitos entre árabes e judeus se iniciaram na região, tornando-se um dos principais focos de disputas e guerras do mundo.
Mesmo assim, o povo judeu construiu um Estado forte e próspero que conta com apoio de importantes potências mundiais como os Estados Unidos e alguns países europeus.
Após serem expulsos dos territórios conquistados por Israel, aproximadamente 1 milhão de palestinos se dispersaram por países vizinhos.
Os que permaneceram em territórios israelense perderam direitos e passaram a ser tratados como cidadãos inferiores.
Principais crenças e práticas do judaísmo
- Monoteísmo: os judeus acreditam que só há um único Deus, fonte de toda a bondade e moral. Ele é tão sagrado que mesmo seu nome, representado pelas letras YHWH não deve ser pronunciado. Para se referir a Deus, escritores e rabinos usavam expressões como ha-shem “o Nome” e Adonai “Meu Senhor”, como forma de se referir a ele com total respeito.
O judaísmo entende que Deus é absoluto e está presente em toda a vida, é um ser transcendente, que habita outro plano que não o terrestre. Os judeus entendem que Deus não pode ser retratado em imagens apenas pode-se referir às suas qualidades, como a justiça e a misericórdia.
Para os judeus, Deus está sempre presente para seus seguidores e todos podem se comunicar diretamente com ele por suas rezas pessoais ou a partir das leis entregues a Moisés.
- Crenças messiânicas: mais comuns entre os judeus ortodoxos, certos profetas e rabinos esperam que um dia um Messias aparecerá em Jerusalém e virá fundar o reino de Deus na Terra. Outras correntes do judaísmo estão mais atentas aos modos e práticas dos mandamentos de Deus e dão menos importância a essas crenças messiânicas.
- Os mandamentos: as bíblias hebraicas esclarecem o pacto judaico, contam a história de Moisés e enfatizam a ideia de comunidade judaica, ainda que espalhada por todo o mundo. Asseguram ainda a presença de um só Deus e afirmam que os judeus devem guardar as palavras de Deus em seus corações, bem como ensiná-las aos seus filhos. Vale ressaltar que a educação é uma das bases do judaísmo, sendo central para a propagação de sua fé.
- A Torá: pode ser traduzida como lei ou instrução. Compreende 613 leis que regulam as práticas a serem seguidas pelos judeus como vestimentas, festas e rituais. Judeus ortodoxos seguem essas instruções de forma literal enquanto outro ramos do judaísmo são mais flexíveis, ainda que entendam- as como um caminho centram a ser seguido em suas vidas. Na cerimônia conhecida como bar mitzvah (para meninos) e o bat mitzvah (para meninas) que o indivíduo promete seguir os mandamentos de Deus.
- Solidariedade: a ajuda e a caridade são centrais no judaísmo. Diversas organizações judaicas praticam atividades filantrópicas por todo o mundo. De acordo com a história bíblica, Deus visitou Abraão (pai do povo judaico) quando eles estava doente. Isso é visto como um sinal de que a ajuda aos necessitados faz parte das práticas essenciais do judaísmo.
Além disso, essa longa história de conflitos e exílios fez com que o povo judeu valorizasse muito a hospitalidade e a ajuda mútua.
- Justiça: os judeus desenvolveram um sistema legal desde os primórdios do judaísmo. O primeiro deles foi uma corte suprema chamada Sanedrim, que julgava disputas e interpretava as leis da Torá. Hoje existe o Bet Din, um tribunal voltado a resolver questões religiosas relacionadas a casamentos, transações financeiras e comerciais.
- Respeito a outros povos e religiões: os judeus acreditam que todos os homens devem ser tratados com respeito independente de raça ou religião. Pregam também o respeito aos animais, o que inclusive interfere em suas costumes alimentares.
- Alimentação: os judeus ortodoxos e conservadores possuem uma rígida alimentação. Eles só comem alimentos kosher, isto é vacas e frangos. Não comem carne de porco, mariscos ou aves de rapina. O preparo desses alimentos deve ser feito por um açougueiro judaico profissional, religioso e praticante e os animais são mortos de forma respeitável e prescrita em suas leis.
- Família: pelas leis religiosas, os judeus devem se casar e procriar. Eles entendem que ter uma família é uma benção divina e os pais são muito respeitados. Mesmo assim, não existe nenhuma restrição aos celibatários.
O judaísmo prega que as mulheres devem ser tratadas com igualdade, mas na prática as mulheres e os homens desempenham papéis diferentes nas sociedades judaicas tradicionais. À mulher são destinados os afazeres domésticos, mas em função da sacralidade do lar para os judeus, esse papel não é visto como inferior. Em correntes mais progressistas do judaísmo, como a Reforma, a mulher ocupa cargos relevantes, existindo até rabinos mulheres. - Educação: a educação ocupa um lugar central no judaísmo. A Torá atribui um alto valor ao conhecimento. Os judeus devem aprender hebraico para compreender e interpretar a Torá e os rabinos são considerados grandes sábios responsáveis pela continuidade das tradições milenares do judaísmo.
Nas famílias, os pais valorizam uma educação escolar de qualidade e esperam que seus filhos ocupem profissões como médico, advogado e que sejam eruditos e respeitados na sociedade judaica. - Sinagoga: etimologicamente significa reunião. As sinagogas são os centros religiosos dos judeus. São usados para culto e estudo onde pode-se aprender hebraico e discutir as interpretações da Torá. Nas sinagogas não há nenhuma pintura ou estátuas, pois os judeus não cultuam santos ou ídolos, apenas Deus.
- Sabá: momento sagrado na semana judaica. Ocorre do pôr do sol de sexta-feira a sábado. É um momento de repouso, culto e convívio com a família e a comunidade. Em casa, os judeus acendem velas e fazem suas preces.
- Festas e dias santos: o ano novo judaico é chamado Rosh Hashanah, nesse momento os judeus lembram a criação divina e renovam suas alianças com Deus. Dez dias depois é celebrado o Yom Kippur, o Dia da Expiação, no qual todos entram em jejum e pedem perdão por seus pecados.
O dia em que Moisés libertou os judeus do cativeiro no egito também é celebrado. No chamado Pessach, eles fazem uma refeição comemorativa e leem sobre sua história.
O Hanukkah (festa das luzes), importante comemoração judaica, celebra sua vitória sobre os selêucidas, governantes da Síria e de outros países vizinhos em 170 a.C. Nesse dia eles celebram com músicas e acendem velas.
Correntes do Judaísmo
O judaísmo é marcado por diferentes ramos que ao longo da história passaram a interpretar a sua fé de diversas maneiras. Os mais tradicionais seguem as instruções e leis da Torá de forma mais rígida enquanto outros ramos procuraram se adaptar ao mundo moderno.
1. Judaísmo ortodoxo: obedecem rigorosamente a Torá. Tudo em suas vidas está ligado a essas instruções sagradas: suas vestimentas, sua vida familiar, sua alimentação e diversos outros fatores seguem as tradições milenares do judaísmo. Esses grupos eram mais presentes na Europa Oriental, sobretudo na Polônia e na Rússia mas devido às perseguições que sofreram ao longo da história, muitos se deslocaram para os Estados Unidos e posteriormente para Israel, onde o judaísmo ortodoxo é a religião oficial.
2. Chassidismo: vertente do judaísmo ortodoxo que enfatiza a relação mítica com Deus. Os Chassis se afastam do mundo, meditam e estudam a Torá e acreditam que Deus é ao mesmo tempo o centro do cosmo é infinito, evidenciando a sua centralidade nesse ramo do judaísmo.
3. Judaísmo neo-ortodoxo: surgiu em decorrência da perseguição aos judeus na Europa ocidental. Foi uma espécie de caminho intermediário entre os praticantes ortodoxos que se fechavam em sua comunidade e os que optaram por abandonar a religião. Os adeptos seguiam as instruções da Torá mas de forma mais flexível, se adaptando às mudanças do mundo moderno.
4. Judaísmo da Reforma: essa vertente prega a conciliação do pensamento judaico com os avanços da filosofia e da ciência. Seus adeptos entendem que o judaísmo é uma religião progressiva é compatível com a razão e rejeitam ideias e hábitos que não se adaptam à civilização moderna.
Os judeus da Reforma não acreditam que a Torá seja a palavra direta de Deus mas uma obra de diferentes autores inspirados por ele. Assim, privilegiam às escolhas morais à interpretação literal da Torá.
5. Judaísmo Conservador: foi criado como uma espécie de oposição ao judaísmo da Reforma. Seu objetivo é preservar a fé e o conhecimento do judaísmo histórico tal como expresso na bíblia. Essa vertente não refuta os avanços da civilização moderna, mas oferece modos de adaptação à modernidade ainda de forma a preservar sua história e cultura. Muitas das decisões tomadas por rabinos dessa vertente foram refutadas por judeus ortodoxos, mas ela teve ampla aceitação em especial nos Estados Unidos.
6. Reconstrucionismo: enfatiza o senso de etnicidade dos judeus. Entendem que as leis da Torá devem ter uma utilidade, um propósito claro para o povo judeu e a humanidade. Em uma perspectiva humanista, seu principal objetivo é trabalhar pela melhoria dos indivíduos e pelo progresso social.
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