Quando os membros da Civilização do Vale do Indo precisaram transmitir os ensinamentos, já fizeram uso danarrativa ficcional ainda na Antiguidade. Fábulas eram registradas por meio de pinturas nos artefatos de cerâmica.
A narrativa ficcional passou a fazer parte de muitas culturas da Antiguidade. Isso inclui Egito, Grécia e China, envolvendo os mitos e as parábolas usadas pra transmitir histórias. Essa foi uma das primeiras formas de entretenimento.
Na literatura, a narrativa ficcional funciona a partir da comunicação direta com o leitor. Pra ajudar você nos estudos, a gente fez um resumo sobre o assunto, tirando as principais dúvidas e colocando alguns exercícios e exemplos. Bora saber mais?
O que são os gêneros textuais?
Oa gêneros textuais seguem os traços em comum que os textos têm na linguagem e na mensagem, dividindo-se em tipos. Por exemplo, o narrativo, o descritivo, o dissertativo-argumentativo, o injuntivo e o expositivo.
Cada um tem uma função. Os descritivos, por exemplo, são cheios de adjetivos e servem pra relatar pessoas, objetos, lugares e eventos. Assim, diários, relatos de viagens e biografias são alguns exemplos.
Já os dissertativos-argumentativos revelam um ponto de vista enquanto persuadem o leitor. Por exemplo, resenhas, ensaios ou monografias. Por fim, os narrativos apresentam atividades dos personagens no espaço e no tempo. Romances, crônicas, contos e fábulas entram aqui.
O que significa narrativa?
A narrativa diz respeito aos textos que contam histórias. Isso é feito por meio de um narrador, com espaço, tempo, personagem e enredo. Assim, o narrador pode ser observador, onisciente ou até um personagem.
O gênero conta com alguns subgêneros. A narrativa ficcional, por exemplo, se desenvolve em epopeias, romances, fábulas, novelas econtos literários. A narrativa não ficcional, por sua vez, pode aparecer em memórias, biografias, documentários e reportagens.
A narrativa ficcional é antiga e sua forma oral era popular na Antiguidade. Assim, o narrador se comunica de forma direta com o leitor. Às vezes, algumas técnicas da ficção aparecem em textos não ficcionais, como no caso do jornalismo literário.
O que é narrativa ficcional?
A narrativa ficcional retrata acontecimentos, cenários e pessoas de forma não necessariamente compatível com a realidade. Esse tipo aparece em meios literários, como romances, contos e novelas.
Mas um uso menos restrito do termo também leva à narrativa imaginária. Por exemplo, teatro, filmes, jogos de videogame e quadrinhos. Na narrativa ficcional, o autor precisa construir um mundo imaginário, desviando-se da realidade às vezes.
Por não ter um pé na realidade, a narrativa ficcional não se preocupa em ser precisa. Isso, porque os eventos são abertos às interpretações e os personagens podem fazer parte de um universo totalmente fictício.
Quais são os elementos da narrativa ficcional?
O primeiro elemento é o enredo. Por meio dele, os fatos se desenrolam. Uma narrativa conta com conflito e clímax. Em alguns casos, os autores se apoiam em uma estrutura chamada de “jornada do herói”.
O segundo elemento é o narrador. É quem conta o que vai acontecer na história. Os personagens são o elemento responsável por fazer viver os fatos da história. Podem ser mocinhos, vilões, coadjuvantes ou pares românticos, por exemplo.
Mas a história precisa se passar em algum lugar, né? É aqui que entram o ambiente e o tempo. Assim, é neles que acontecem os fatos, definido pela época em que as coisas acontecem e o mundo da história.
Exemplos de narrativa ficcional e não ficcional
A narrativa ficcional foca em descrever os eventos imaginados pelo autor, seus personagens e o ambiente. No exemplo a seguir, do livroA Hora da Estrela,Clarice Lispector descreve Macabéa por meio do autor e narrador fictício “Rodrigo S.M.”.
“Nascera inteiramente raquítica, herança do sertão — os maus antecedentes de que falei. Com dois anos de idade lhe haviam morrido os pais de febres ruins no sertão de Alagoas, lá onde o diabo perdera as botas. Muito depois fora para Maceió com a tia beata, única parenta sua no mundo. Uma outra vez se lembrava de coisa esquecida.
Por exemplo a tia lhe dando cascudos no alto da cabeça porque o cocuruto de cabeça devia ser, imaginava a tia, um ponto vital. Dava-lhe sempre com os nós dos dedos na cabeça de ossos fracos por falta de cálcio.
Batia mas não era somente porque ao bater gozava de grande prazer sensual — a tia que não se casara por nojo — é que também considerava de dever seu evitar que a menina viesse um dia a ser uma dessas moças que em Maceió ficavam nas ruas de cigarro aceso esperando homem.”
A narrativa não ficcional pode ser parecida com a ficcional, mas com um narrador presente e que viu os fatos pessoalmente. Como na Carta de Pero Vaz de Caminha descrevendo apopulação nativa brasileira, revelada a seguir.
“A feição deles é serem pardos, maneira de avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem-feitos. Andam nus, sem nenhuma cobertura. Nem estimam de cobrir ou de mostrar suas vergonhas; e nisso têm tanta inocência como em mostrar o rosto. Ambos traziam os beiços de baixo furados e metidos neles seus ossos brancos e verdadeiros, de comprimento duma mão travessa, da grossura dum fuso de algodão, agudos na ponta como um furador.
Metem-nos pela parte de dentro do beiço; e a parte que lhes fica entre o beiço e os dentes é feita como roque de xadrez, ali encaixado de tal sorte que não os molesta, nem os estorva no falar, no comer ou no beber.”
Exercício de narrativa ficcional
(Enem 2018) “Qualquer que tivesse sido o seu trabalho anterior, ele o abandonara, mudara de profissão e passara pesadamente a ensinar no curso primário: era tudo o que sabíamos dele.
O professor era gordo, grande e silencioso, de ombros contraídos. Em vez de nó na garganta, tinha ombros contraídos. Usava paletó curto demais, óculos sem aro, com um fio de ouro encimando o nariz grosso e romano. E eu era atraída por ele. Não amor, mas atraída pelo seu silêncio e pela controlada impaciência que ele tinha em nos ensinar e que, ofendida, eu adivinhara. Passei a me comportar mal na sala. Falava muito alto, mexia com os colegas, interrompia a lição com piadinhas, até que ele dizia, vermelho:
— Cale-se ou expulso a senhora da sala.
Ferida, triunfante, eu respondia em desafio: pode me mandar! Ele não mandava, senão estaria me obedecendo. Mas eu o exasperava tanto que se tornara doloroso para mim ser objeto do ódio daquele homem que de certo modo eu amava. Não o amava como a mulher que eu seria um dia, amava-o como uma criança que tenta desastradamente proteger um adulto, com a cólera de quem ainda não foi covarde e vê um homem forte de ombros tão curvos.”
LISPECTOR, C. Os desastres de Sofia. In: A legião estrangeira. São Paulo: Ática, 1997.
Entre os elementos constitutivos dos gêneros está a sua própria estrutura composicional, que pode apresentar um ou mais tipos textuais, considerando-se o objetivo do autor. Nesse fragmento, a sequência textual que caracteriza o gênero conto é a
- a) expositiva, em que se apresentam as razões da atitude provocativa da aluna.
- b) injuntiva, em que se busca demonstrar uma ordem dada pelo professor à aluna.
- c) descritiva, em que se constrói a imagem do professor com base nos sentidos da narradora.
- d) argumentativa, em que se defende a opinião da enunciadora sobre o personagem-professor.
- e) narrativa, em que se contam fatos ocorridos com o professor e a aluna em certo tempo e lugar.
Gabarito: e)
Embora o trecho de “Os Desastres de Sofia” combine vários tipos textuais, o mais frequente é o narrativo. Contos como o escrito pela Clarice Lispector são um subgênero da narrativa ficcional.
A narrativa ficcional é predominante em trabalhos criativos e funciona de forma diferente da não ficção, sem contar com a preocupação de revelar algo factual ou histórico. Embora essa distinção seja importante, muitas obras se dedicam a obscurecer a distinção.
Mas pra ficar com os elementos da narrativa ficcional na ponta da língua, você pode contar com a ajuda de um cursinho preparatório. O Descomplica tem mais de 45 horas de aulas semanais ao vivo e uma filosofia de ensino fácil e descontraído.Bora estudar com a gente!