Todo mundo já leu uma crônica na vida, né? Se você nunca leu, vai ler AGORA! Mas, antes, vamos entender algumas características importantes desse tipo textual tão único?
A crônica é uma análise pessoal e reflexiva sobre qualquer tema do cotidiano, e desfruta de uma linguagem mais informal e pessoal, subjetiva. Por ser curta, é muito mais direta e envolve vários elementos de outros tipos textuais, como a narrativa, o que confirma a presença de elementos descritivos. As divagações, “viagens” também são muito presentes, e as marcas mais pessoais, como comentários também são muito bem-vindas.
Na questão da linguagem, a crônica traz um tom muito mais emotivo (lembra da função da linguagem conhecida como emotiva?), pessoal, além de informal, coloquial. Não há problema em dizer “cheguei em casa”, já que o texto funciona como um “bate-papo”. Além disso, o uso de pontuações que demonstrem essa pessoalidade também é muito interessante: as crônicas costumam abusar de exclamações, reticências, interrogações e fragmentações.
As temáticas seguem sempre o mesmo assunto: qualquer um. Tudo pode ser comentado em uma crônica, e um exemplo está presente neste lindo texto de Clarice Lispector.
SER CRONISTA
Sei que não sou, mas tenho meditado ligeiramente no assunto. Na verdade eu deveria conversar a respeito com Rubem Braga, que foi o inventor da crônica. Mas quero ver se consigo tatear sozinha no assunto e ver se chego a entender.
Crônica é um relato? É uma conversa? é o resumo de um estado de espírito? Não sei, pois antes de começar a escrever para o Jornal do Brasil, eu só tinha escrito romances e contos. Quando combinei com o jornal escrever aqui aos sábados, logo em seguida morri de medo. Um amigo que tem voz forte, convincente e carinhosa, praticamente intimou-me a não ter medo. Disse: escreva qualquer coisa que lhe passe pela cabeça, mesmo tolice, porque as coisas sérias você já escreveu, e todos os seus leitores hão de entender que sua crônica semanal é um modo honesto de ganhar dinheiro. No entando, por uma questão de honestidade para com o jornal, que é bom, eu não quis escrever tolices. As que escrevi, e imagino quantas, foi sem perceber.
E também sem perceber, à medida que escrevia para aqui, ia me tornando pessoal demais, correndo o risco daqui em breve de publicar minha vida passada e presente, o que não pretendo. Outra coisa notei: basta eu saber que estou escrevendo para o jornal, isto é, para algo aberto facilmente por todo o mundo, e não para um livro, que só é aberto por quem realmente quer, para que, sem mesmo sentir, o modo de escrever se transforme. Não é que me desagrade mudar, pelo contrário. Mas queria que fossem mudanças mais profundas e interiores que então viessem a se refletir no escrever. Mas mudar só porque isto é uma coluna ou uma crônica? Ser mais leve só porque o leitor assim o quer? Divertir? fazer passar uns minutos de leitura? E outra coisa: nos meus livros, quero profundamente a comunicação profunda comigo e com o leitor. Aqui no jornal apenas falo com o leitor e agrada-me que ele fique agradado. Vou dizer a verdade: não estou contente. E acho mesmo que vou ter uma conversa com Rubem Braga porque sozinha não consegui entender.
Clarice Lispector, em Jornal do Brasil de 22 de junho de 1968.
E aí, gostou?
Eu sempre soube que dessa cara feia surgiria um sorriso! Ó: vamos fazer um desafio? Quero que você, aqui nos comentários, aponte todas as características – que citamos lá no início do post – presentes nesse texto incrível da Clarice. Eu sei que você consegue! E acredite: interpretação é essencial na produção textual. Entender as características de uma crônica que você lê é o grande passo para que você consiga escrever uma crônica – e uma crônica nota 10!
Te desafio! Estou esperando! Bom texto e bom 10!