Depois de uma maratona de Eixos Temáticos, voltamos às questões estruturais do nosso texto. Dessa vez, trataremos das formas de raciocinar num texto dissertativo-argumentativo. Na verdade, nosso objetivo, aqui, é identificar maneiras de organizar o que já está pronto na nossa cabeça. Afinal, todo mundo raciocina, né? O que nós precisamos, então, é conhecer métodos para deixar esse raciocínio mais evidente e, é claro, convincente. É como num quebra cabeça: muitas vezes, você sabe o resultado final daquele jogo. O problema é conseguir montá-lo de forma que, organizadamente, se alcance esse resultado. Hoje, falaremos de dois dos métodos de raciocínio mais interessantes para a sua redação – e para as questões de prova que cobram suas construções! Você sabe quais são eles?
Dedução
Vamos começar pela Dedução. O método dedutivo costuma ser o mais conhecido por um motivo muito simples: todo mundo conhece o famoso raciocínio de Aristóteles sobre Sócrates. Você não? Então veja:
Todo homem é mortal; ora, Sócrates é homem, logo, Sócrates é mortal.
Tenho certeza de que você já ouviu falar nisso. Esse é um exemplo bem básico de como funciona o método dedutivo. A dedução é aquela que se organiza do geral para o particular, ou seja, parte de uma verdade universal, geral, para chegar a afirmações e conclusões mais individuais. Tal ideia geral é conhecida como premissa inicial, ou premissa maior. Após isso, com uma ou mais premissas intermediárias (menores) é possível chegar a uma conclusão, de caráter particular. Vamos ver um exemplo?
Podemos ver, no exemplo acima, um raciocínio essencialmente dedutivo, já que se parte de uma verdade universal, atingindo todas as fontes de informação, passando por premissas intermediárias e atingindo uma conclusão particular.
E o silogismo?
Essa observação é muito importante! Tanto o caso que acabamos de observar quanto o raciocínio construído por Aristóteles são exemplos do que conhecemos como silogismo, uma espécie do raciocínio dedutivo. É formado por duas — e apenas duas — premissas, conhecidas como Premissa Maior e Premissa Menor. A conclusão, como discutimos no início, mantém seu caráter particular.
Por fim, cabe analisar as vantagens e desvantagens do raciocínio dedutivo, de forma que você, aluno, seja capaz de identificar o que utilizar em qual momento do texto e de que forma apresentar sua argumentação. Como principal vantagem, está o fato de, se escolhidas boas premissas, a conclusão atingida ser inquestionável. Por outro lado, a desvantagem está – principalmente em textos dissertativos – na previsibilidade existente no processo de construção do raciocínio. Trabalhar muito a argumentação, transformando a conclusão em uma persuasiva apresentação da opinião, é o grande desafio. Mas nós estamos aqui pra isso, né? 🙂
Indução
Agora, pense em tudo o que você aprendeu na dedução, inverta, e você terá a indução. Ok, não é tão simples assim, mas é quase isso. A indução é caracterizada por partir de afirmações particulares, individuais, e atingir conclusões gerais, universais.
Assim como na dedução, a indução também apresenta vantagens e desvantagens. O principal benefício desse tipo de raciocínio é o fato de ele permitir que se faça novas descobertas através de sua apresentação. As grandes invenções da humanidade surgiram a partir de raciocínios essencialmente indutivos. Por outro lado, a maior desvantagem que podemos apontar está no fato de que o método indutivo atua no campo das probabilidades, ou seja, se uma das evidências não for condizente com a verdade universal anunciada, todo o raciocínio deve ser revisto. Fique atento a isso, ok? 😀
Eu sei, é coisa pra caramba, mas é muito importante que você conheça bem esses dois métodos de raciocínio. As provas de vestibular têm cobrado sua construção e aplicação. Além disso, a indução e a dedução são excelentes formas de construção da argumentação na redação do ENEM. Por que você não tenta? Antes, vamos fazer alguns exercícios? 🙂 Continue treinando!
Bom texto e bom 1000!
Exercícios
1. (UERJ/2003 – exame de qualificação)
“Médias, normalmente, mais escondem do que revelam. Não podemos supor, por exemplo, que todas as áreas pobres da cidade têm as mesmas condições de saneamento e acesso à água.”
O trecho transcrito acima critica um uso específico do seguinte método de raciocínio:
a) Dedutivo
b) Indutivo
c) Dialético
d) Silogístico
2. (UERJ/2013 – exame de qualificação)
“Eu não sou literato, detesto com toda a paixão essa espécie de animal. O que observei neles, no tempo em que estive na redação do O Globo, foi o bastante para não os amar, nem os imitar. São em geral de uma lastimável limitação de ideias, cheios de fórmulas, de receitas, só capazes de colher fatos detalhados e impotentes para generalizar, curvados aos fortes e às ideias vencedoras, e antigas, adstritos a um infantil fetichismo do estilo e guiados por conceitos obsoletos e um pueril e errôneo critério de beleza.”
LIMA BARRETO Recordações do escrivão Isaías Caminha. São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2010.
“só capazes de colher fatos detalhados e impotentes para generalizar, (l. 3-4)”
Esse trecho se refere à utilização do seguinte método de argumentação:
a) indutivo
b) dedutivo
c) dialético
d) silogístico
3. (Upe 2013)
A validade de nossos conhecimentos é garantida pela correção do raciocínio. São dois os modos de raciocínio: o indutivo e o dedutivo. Sobre isso, assinale a alternativa correta.
a) O raciocínio indutivo é amplamente utilizado pelas ciências experimentais.
b) O raciocínio indutivo parte de uma lei universal, considerada válida para um determinado conjunto, aplicando-a aos casos particulares desse conjunto.
c) O raciocínio dedutivo parte de uma lei particular, considerada válida para um determinado conjunto, aplicando-a aos casos universais desse conjunto.
d) O raciocínio dedutivo é uma argumentação na qual, a partir de dados singulares suficientemente enumerados, inferimos uma verdade universal.
e) O raciocínio indutivo é o argumento cuja conclusão é inferida necessariamente de duas premissas.
4. (UERJ/2014 – exame de qualificação)
ler nos faz mais felizes. É um caminho para o autoconhecimento, e o exercício constante de autoconhecimento é um caminho para a felicidade.
Neste argumento, Rodrigo Lacerda formula uma premissa geral e uma premissa particular, para relacioná-las na conclusão.
Essa estrutura caracteriza o argumento como:
a) indutivo
b) dialético
c) dedutivo
d) comparativo
5. (UERJ/2013 – exame de qualificação)
No desenvolvimento da argumentação, o autor enumera razões específicas, facilmente constatadas no cotidiano, para sustentar sua opinião, anunciada no título, de que todos nós seríamos ainda escravocratas.
Esse método argumentativo, que apresenta elementos específicos da experiência social cotidiana, para deles extrair uma conclusão geral, é conhecido como:
a) direto
b) dialético
c) dedutivo
d) indutivo
Gabarito
1. B
2. A
3. A
4. C
5. D