Análise da proposta de redação do ano de 2015.

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O tema do ENEM de 2015 ganha importância considerando a construção do Brasil, desde o período de colonização. Casa Grande & Senzala, de Gilberto Freyre, por exemplo, já denunciava os casos de agressão, assédio, abuso de mulheres escravizadas, o que mostra que o problema não é de hoje. A atenção voltada para a questão deu ao Brasil a chance de criar medidas para resolvê-la, mas, claramente, o que foi feito até hoje não tem funcionado como deveria – o que, de certa forma, explica a persistência em destaque na frase-tema. É importante perceber, também, a limitação à questão brasileira. O aluno que não obedecer a essa restrição não estará, de fato, no tema.

Análise das Referências

Texto I

Nos 30 anos decorridos entre 1980 e 2010 foram assassinadas no país acima de 92 mil mulheres, 43,7 mil só na última década. O número de mortes nesse período passou de 1.353 para 4.465, que representa um aumento de 230%, mais que triplicando o quantitativo de mulheres vítimas de assassinato no país.

WALSELFISZ, J. J. Mapa da Violência 2012. Atualização: Homicídio de mulheres no Brasil. Disponível em: www.mapadaviolencia.org.br. Acesso em: 8 jun. 2015.

O valor triplicado de mortes de mulheres no Brasil evidencia, com muita clareza, que o problema persiste. Novamente, o ENEM dá atenção ao termo destacado na frase-tema, mostrando que as medidas criadas ao longo de toda a história do país (e que serão desenvolvidas nos outros textos) não foram eficazes, sugerindo, inclusive, a necessidade de novas propostas.

Texto II

O texto 2 evidencia os muitos casos de violência contra a mulher e seus tipos – abrindo, inclusive, espaço para uma argumentação mais ousada e criativa, que vá além da violência física e doméstica, o que seria um desenvolvimento comum a diversos candidatos. Ainda assim, o gráfico destaca a violência física e a psicológica, com as maiores estatísticas, deixando clara a necessidade de propostas voltadas, principalmente, para essa questão.

Texto III

O texto 3 faz referência à ideia de feminicídio, ou seja, homicídio praticado contra o sexo feminino pela sua condição de mulher – menosprezando seus direitos e lugar na sociedade. A necessidade de uma campanha como essa confirma, mais uma vez, a persistência da violência e, neste texto, do conservadorismo presente na sociedade – visto que a morte de mulheres por sua simples existência como mulher é resultado de uma construção machista da sociedade. Dessa forma, o cartaz sugere uma discussão sobre os valores e tradições brasileiras e a existência de campanhas que, de alguma forma, tentam conscientizar a população com relação a essas construções arcaicas.

 

Texto IV

O texto 4, mais uma vez, apresenta números. Desta vez, estatísticas com relação aos processos e denúncias de violência contra a mulher. Os dados mostram a existência – e persistência – real do problema, mas deixam clara, também, a ineficácia de algumas medidas – uma vez que, se há canais de denúncia, relatos e uma lei que busca resolver a questão, resultados mais expressivos são, teoricamente, esperados. Novamente, o ENEM volta a discussão para uma insistência na presença da violência na sociedade, apesar dos caminhos já tomados.

Análise Geral

Deve-se, claramente, voltar a discussão para a persistência da violência. O tema, então, já admite que há essa agressão e pede, apenas, que o aluno fundamente o porquê de o problema continuar existindo, no Brasil. Isso dá ao candidato a oportunidade de mostrar, também, o que tem sido feito – como as leis, projetos de mulheres na política e campanhas – e os obstáculos no combate à questão.

Sugestão de Teses

Há dois caminhos interessantes, no desenvolvimento da proposta de 2015.

1. Como primeira sugestão de texto, o aluno poderia, na tese, partindo do princípio de que a violência contra a mulher já existe (afinal, ela persiste), confirmar a persistência e a necessidade de analisar suas causas e consequências. Dessa forma, seria possível, no desenvolvimento, apontar os porquês de o problema continuar existindo e que impactos isso gera na sociedade brasileira. Nas propostas, o ideal seria atacar essas causas e resolver ou amenizar a problemática.

2. O candidato poderia, também, desenvolver o que tem sido feito para resolver a problemática e, depois disso, mostrar os obstáculos que impedem o funcionamento de tais medidas. Em um primeiro parágrafo de desenvolvimento, seria interessante mostrar projetos, campanhas e até leis relacionadas à violência contra a mulher; no segundo, trabalhar o que impediu, até agora, que essas medidas funcionassem. Por fim, nas propostas, resolver esses impeditivos e chegar ao ponto principal do tema: a persistência da violência e como resolvê-la.

Conclusão

É necessário, então, que o aluno esteja atento a duas coisas: à questão da persistência – que, no tema, é mais importante que a própria violência – e ao contexto brasileiro, essencial, uma vez que foi citado na frase-tema. Argumentar usando outros locais como forma de comparação é viável, mas a problemática precisa se resumir ao Brasil, às causas e consequências brasileiras. As propostas, então, devem atacar a persistência, e não a violência em si – uma vez que o tema já deixa claro que a existência dessa agressão já não é mais uma discussão necessária; já se sabe muito bem da sua presença, no Brasil.