Vida do autor
A representação
A vontade
O paradoxo da vontade
O pessimismo
Arthur Schopenhauer (1788 - 1860) foi um grande filósofo alemão, conhecido principalmente por sua obra “o mundo como vontade e representação”, tendo influenciado pensadores como Nietzsche, Kierkegaard, Freud, Jung, e artistas como Jorge Luis Borges, Rilke, entre outros. Schopenhauer caracteriza o mundo fenomenal como expressão de uma irracional e talvez maligna vontade metafisica. Para chegar a essa conclusão o pensador se apropria de elementos do budismo e de alguns aspectos da filosofia kantiana, construindo uma ética da compaixão. Segundo ele, a filosofia tradicional errou em não dar à compaixão o valor que era devido.
Um dos aspectos que o filósofo alemão vai recuperar da filosofia kantiana é a ideia de que nós não podemos conhecer as coisas em si mesmas, ou seja, não podemos conhecê-las exatamente como são, restando-nos conhecê-las a partir de representações. Portanto, o que conhecemos são os fenômenos - as coisas tais como aparecem para nós - mas não a realidade em si mesma. Já o conceito de vontade diz respeito a uma vontade cega e irracional que move todos os seres vivos. Assim, todos os seres, em última análise, lutam pela sua própria vida a partir de uma vontade que é egoísta e voltada para a subsistência. O termo “vontade” foi escolhido por Schopenhauer na ausência de um que expressasse melhor sua ideia. Não se trata de uma vontade leve e ingênua, mas da própria definição do que existe. Mas, como assim?
Retornemos para a influência kantiana no pensador. Para ele o mundo real é inalcançável como o númeno kantiano. O fenômeno, em Schopenhauer, é conceituado como representação. Entretanto, em vez de buscar a conexão entre a representação e o real, Schopenhauer condiciona a existência àquilo que vai dentro de nós, ao “Eu”. Enquanto no fenômeno em Kant é relevante por ser o mais próximo que chegaremos da realidade, em Schopenhauer a representação é importante por expressar nosso interior, a Vontade. Ela é a assência da subjetividade, aquilo que forma o “eu” em cada coisa. Não pode conhecer, não pode raciocinar nem tampouco ser compreendida. Não tem fundamento nem origem, é imanente (é sua própria causa, sua razão se encerra em si mesma).
A vontade é geradora de um profundo desejo, busca sempre se afirma. A vontade é o que fazem as aves migrar, o que faz filhotes de tartaruga correr para o mar ao eclodir seus ovos, o que faz o tubarão ser atraído pelo sangue, o que faz animais duelarem e acasalarem. Nos outros animais a vontade se expressa como instinto. Mas o ser humano sabe que tem vontade e por isso, para nós, é diferente. Nas palavras de Schopenhauer “A Vontade é um cego robusto que carrega um aleijado que enxerga”. A vontade é a força motriz da vida e a nossa consciência (inclusive de que temos ou somos vontade) é a que guia essa energia. Veja que, na história da filosofia, a razão nunca esteve tão desprestigianda. De fato, Schopenhauer é o primeiro filósofo do ocidente a conseguir dar um estatuto de tanta importância para a irracionalidade, que se torna a base da essência ontológica de seu mundo.
Com base nessas ideias de vontade e representação, Schopenhauer vai criticar confiança exagerada na razão - presente, por exemplo, em filósofos como Descartes e Kant - pois o homem, segundo ele, não possui o controle racional sobre as coisas e nem sobre si próprio, pois há um desejo cego e incontrolável que os afeta. Assim, é uma ilusão suposto controle racional defendido pela metafísica tradicional, o que nos leva para um visão pessimista sobre a realidade. Essa relação entre vontade e consciência é paradoxal, pois estamos sempre em busca de saciar nossa vontade, o que nos leva aos desejos gerados por ela que inevitavelmente levam a dor e sofrimento, seja pela frustração e angústia, seja pela saciedade rapidamente suplantada por mais e mais desejo.
O mundo é marcado, seguindo esse ponto de vista, pela dor e pelo sofrimento, pois o homem nunca pode satisfazer completamente o seu desejo. A ética da compaixão e da caridade oferece um contraponto ao egoísmo. Enquanto o egoísmo parte da ideia de que somos o centro do mundo e, nessa mesma medida, acaba por separar os homens, o exercício da compaixão pode, inversamente, unir os homens naquilo que eles têm em comum. Assim, percebemos que todas as coisas estão unidas quando estabelecemos uma relação de compaixão com elas.
Schopenhuer, contudo, nos oferece algum instrumento para mitigação do sofrimento. Para ele a contemplação artística desinteressada permite se encontrar com a vontade, fazer o movimento que Kant negou, comtemplar nosso “eu” e exercer algum domínio. A arte permite a inversão da relação entre a representação e a vontade, já que a representação é a própria verdade artística que, em alguma escala, cria a vontade. A razão para de atriz dirigida pela vontade para espectadora. A atividade artística tem graus diferentes de revelação dessas verdades e a mpusica ocupa o principal lugar para Schopeuhauer. Ela pode exprimir a vontade em sua essência, libertando o homem de seu controle.
Mas nem tudo são flores. Essa solução não é permanente para o autor. Para mitigar o sofrimento permanentemente, Schopenhauer propôs uma postura estoica, de negação do desejo. Contudo, sua maior inspiração é o pensamento oriental. Apoiado em ideias como a de nirvana, o filósofo confia no poder da intelectualidade na superação do sofrimento. É uma felicidade negativa, onde, em vez de alcançar alguma felicidade, o ser humano vive isento de angústias. Segundo o pensador: “ “Sem a negação completa do querer, não há salvação verdadeira, libertação efetiva da vida e da dor”.