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Morte de Deus

A professora Lara Rocha fala sobre a morte de Deus. Confira!

Niilismo

Além do homem

Genealogia da Moral

História da moral

Apolíneo e dionisíaco

Retomando os princípios fundamentais da realidade de Nietzsche, o apolíneo e o dionisíaco, podemos dizer que o primeiro faz referência ao deus Apolo (deus da razão, da clareza, da ordem) e o segundo a Dionísio (deus da aventura, da música, da fantasia, da desordem). Ao enfatizar o apolíneo e reprovar o dionisíaco, a Grécia socrática cria um verdadeiro culto à razão que anula a força criadora do ser humano em todas as suas atividades, inclusive na filosofia. Para Nietzsche o mundo é consequência da interação entre os dois princípios gerando uma mistura, uma turbulência, uma complexidade. Separações como ideal e real, superior e inferior e sensível e inteligível não ampliam nosso conhecimento, mas limitam.

Nietzsche afirma que, ao convencer a sociedade ateniense de que a perfeição deveria ser alcançada e isso deveria ser feito por meio da razão, Sócrates interferiu na trajetória das atividades humanas, da arte à política, direcionando o ser humano para o caminho de algo que não existe, ou seja, para o nada. A separação do ser humano da natureza abriu espaço para interpretações religiosas que tornaram o homem fraco e impotente. 


Genealogia da moral

Nietzsche desenvolveu uma nova abordagem para pensar o comportamento humano, a genealogia. Partindo de uma perspectiva histórica, o filósofo analisa os valores e a filosofia moral desenvolvida até então. A conclusão a que chega é a de que bem e mal não são noções absolutas, mas concepções circunstanciais relativas aos interesses dos indivíduos. Ou seja, o bem e o mal é um produto histórico-cultural.

Como filólogo, Nietzsche investiga morfologicamente a palavra alemã schlecht (mau) e descobre sua relação com a palavra schlicht (simples). Sua origem está na definição do homem simples, plebeu, que era visto como mau pela classe nobre, o oposto dela mesma que espelhava o conceito de bom. Também no latim o pensador aplica a mesma investigação chegando a malus que se relaciona com melas (negro) que era usada para definir o plebeu de cor morena e cabelos pretos. O bom era o nobre, o puro, o loiro. Assim demostra a moral como intrinsecamente política e psicológica, a afastada de qualquer transcendência. Bom era o que era útil, mesmo que essa relação entre o bom e o útil tenha se perdido na prática. Ou seja, não há bondade como princípio metafísico ou essência divina.

Enquanto a definição anterior da conta da definição da moral do senhor, há ainda a descrição da moral do escravo, uma moral reativa, covarde e, por isso mesmo, ainda pior no pensamento nietzscheriano. Essa é uma moral do ressentimento, do indivíduo que vê no senhor o mal porque esse o domina e o castiga.

Apesar dessa origem prática da moral, essas concepções de bem e mal são impostas por religiões como produto da “vontade de deus”. Essa foi uma prática da classe sacerdotal (parte da elite) para se voltar contra os nobres. A religião é impregnada da moral do escravo, uma moral que adoece e enfraquece o ser humano, fazendo-o carregar um fardo de dever, culpa, dívida e pecado por ser apenas quem é. Nietzsche afirma que a moral do escravo tem maior destaque na cultura judaica e é herdade pelo cristianismo, subjugando inclusive os senhores. O resultado foi a configuração de indivíduos medíocres, tímidos, insossos, não criativos, depauperados e submissos.

Essa é a maior crítica à civilização cristã e burguesa iniciada por Sócrates. É uma moral de rebanho, pois essa moral estaria baseada na submissão irrefletida e acomodada de grande parte das pessoas aos valores dominantes. Para o filósofo os indivíduos devem compreender os valores que guiam suas vidas e saber que são artificiais, produtos histórico-culturais. Isso permite ao indivíduo refletir sobre suas concepções morais (o que para Nietzsche é um dever) e enfrentar o desafio de viver por sua conta e risco. Não há mais uma concepção universal metafísica ou religiosa para nos guiar: “Deus está morto!”.

Niilismo

Quando o cristianismo perdeu espaço como única verdade e forma de explicar o mundo e começou a competir com outras interpretações sobre o mundo a civilização ocidental sofreu um abalo em suas crenças. Assim o niilismo se ampliou, sendo esse niilismo interpretado por Nietzsche como uma expressão intelectual e afetiva da decadência das estruturas culturais e sociais. Niilismo vem da palavra nihil que significa nada e é um sentimento manifesto em diversas atividades humanas que exprime o vazio de sentido daquilo que antes era uma verdade absoluta.

Com a morte de Deus (como forma de explicar o mundo e ordenar a sociedade, ou seja, metafisicamente), morto por nós mesmo que destruímos os fundamentos que sustentavam a ideia de Deus, restou o nada. Para Nietzsche esse é o grande feito de Schopenhauer, identificar o grande vazio, a falta de sentido nas concepções filosóficas dominantes (de Hegel e Kant), e apontar a angústia gerada pelo nada.

Contra o vazio, Nietzsche defendeu valores afirmativos da vida. Para isso é necessário reconhecer os princípios de existência humana, apolíneo e dionisíaco e ser capaz de afirma-los. É preciso expandir as energias latentes em nós. A grande proposta do filósofo é a transvaloração dos valores. Superar os valores morais artificiais e tornados absolutos e afirmar o que foi negado e proibido. Confiar e dizer sim ao ser humano abraçando o que foi desprezado e maldito. A transvaloração é um questionamento dos valores colocados e um rompimento com o homem ideal (que também é uma forma de niilismo há que aponta para algo que não existe) para que voltar para o homem real, sem medo de ser julgado e tachado de imoral por não aderir a valores impostos. Nietzsche afirma que a missão de sua geração é preparar o caminho da humanidade em direção ao super-homem, o ser humano capaz de transvalorar.