O nascimento da tragédia
Apolo e Dionísio
A importância da arte
A tragédia
Superação do pessimismo
Quem foi Nietzsche?
Friedrich Nietzsche (1844-1900) nasceu em Rocken, ainda na Prússia. Teve uma excelente formação tendo acesso a estudos de filologia, teologia, grego e latim. Formado num cenário de hegemonia do hegelianismo, Nietzsche questionou profundamente os rumos do pensamento filosófico vigente, bem como do mundo ocidental.
Nietzsche escolheu um caminho diferente para sua filosofia, a começar pela escrita. Sua obra é marcada pela presença de aforismos, que são sentenças curtas que exprimem o pensamento do autor de maneira eficaz. Essas máximas carregam conceitos, conselhos ou ensinamentos, tais como: “Deus está morto” ou “Cada pessoa tem que escolher quanta verdade consegue suportar”. Através de seus aforismos Nietzsche abordou temas como religião, moral, artes, ciências etc. Sua filosofia, intencionalmente polêmica, sacudiu a sociedade europeia e balançou mais uma vez o edifício do conhecimento.
Para tal, Nietzsche afirma em seu “Crepúsculo dos Ídolos” que entende por ídolos tudo o que até então era considerado verdade no pensamento moderno. A história da metafísica seria a história de um erro. Não por acaso o subtítulo do livro é “Como se filosofa com o martelo”. Nietzsche brada seu martelo contra esses ídolos e tais golpes são dirigidos, especialmente, aos conceitos de razão e moralidade que dominaram as correntes filosóficas ao longo da história, incluindo Kant, Hegel e Schopenhauer. Nietzsche declara guerra contra os conceitos e valores, identificando os primeiros como ineficazes na orientação da humanidade e os segundos como um desrespeito a natureza.
Influência de Schopenhauer
Nietzsche leu “O mundo como vontade e como representação”, de Schopenhauer e passou a se dedicar a filosofia a partir daí. Já em Schopenhauer havia uma forte crítica aos pensadores alemães. Mesmo sendo um grande devedor de Kant, Schopenhauer aponta aquilo que compreende como ponto fraco da teoria kantiana. Hegel também foi criticado, sendo chamado de “charlatão” e “acadêmico mercenário”. Isso porque o pensamento hegeliano abria espaço para a legitimação de todas as formas de governo, mesmo as mais nefastas, já que são consequência do desenrolar racional da história. Para Schopenhauer a história é caos e irracionalidade.
A essência do mundo em Schopenhauer é a vontade, um princípio que permeia tudo. A vontade é uma pulsão, uma força cega e irracional. No ser humano a vontade se manifesta como desejo consciente que pode gerar frustração – caso não satisfeito – ou tédio – caso satisfeito. A felicidade para Schopenhauer é o centro desse pêndulo entre frustração e tédio, esse momento fugidio, ausente de sofrimento.
Vontade de potência
Dando outra interpretação para a vontade, Nietzsche rompe com o pensador pessimista, pois acreditava que a felicidade verdadeira era possível. Sua crítica a Schopenhauer se expressa no conceito de vontade de potência, que, apesar de ser semelhante ao conceito anterior, revela uma afirmação da possibilidade de felicidade.
A vontade de potência chegou a ser usada pelo nazismo, numa interpretação que reduz o conceito a teses biológicas e de competição entre os seres humanos. Entretanto, a interpretação hegemônica atualmente é a de que a vontade de potência é mais que um impulso competitivo de sede por poder, ela é a afirmação da existência. A vontade de potência direciona o ser humano à transcender seus limites existências alcançando a plenitude.
Apolíneo e dionisíaco
Um dos alvos mais martelados por Nietzsche foi Sócrates. Para Nietzsche o pensador grego iniciou uma tradição filosófica que nega o próprio ser humano, por negar a possibilidade de sermos, também, irracionais. Nietzsche acusa Sócrates de negar a intuição criadora dos pensadores que o precederam, os filósofos da natureza ou da physis, conhecidos por pré-socráticos. Nietzsche aponta que essa nomenclatura esconde dois preconceitos. O primeiro consiste em supor o pensamento anterior à Sócrates como um pensamento “menor”, uma “infância” da filosofia. Isso significa negar que foram os filósofos da natureza que fundaram o pensamento racional e negar seu pensamento como uma visão completa da existência que via o humano como parte da natureza. O segundo erro se refere a considerar o pensamento socrático uma ruptura com o pensamento da fase anterior, já que é possível observar a continuidade do pensamento pré-socrático na teoria das ideias de Platão, por exemplo, com a influência de Heráclito e Parmênides.
Nietzsche é contra essa visão inferiorizante dos pensadores da natureza. Para ele, esses filósofos lançaram as bases da ciência com conceitos universais que contribuíram para o desenvolvimento do conhecimento humano. Basta pensar no conceito de átomo ou no desenvolvimento da matemática. Olhar a natureza de forma racional e fazer proposições a partir dela também é uma herança dessa época. Lembre como Tales conclui que “tudo é água”, observando a importância do elemento na natureza. A partir de Platão (e Sócrates) a filosofia perde seu brilho por abandonar o mundo real e se fundar num mundo puramente conceitual. Por isso, para Nietzsche, o pensamento socrático-platônico é um erro, um desvio da filosofia que afastou o homem da natureza e o levou a desprezar o mundo se voltando para um lugar que não existe.
Isso porque, para Nietzsche, a realidade e o próprio ser humano são formados por dois princípios que são complementares – o apolíneo e o dionisíaco. O primeiro faz referência ao deus Apolo (deus da razão, da clareza, da ordem) e o segundo a Dionísio (deus da aventura, da música, da fantasia, da desordem). Ao enfatizar o apolíneo e reprovar o dionisíaco, a Grécia socrática cria um verdadeiro culto à razão que anula a força criadora do ser humano em todas as suas atividades, inclusive na filosofia. Para Nietzsche o mundo é consequência da interação entre os dois princípios gerando uma mistura, uma turbulência, uma complexidade. Separações como ideal e real, superior e inferior e sensível e inteligível não ampliam nosso conhecimento, mas limitam.