Questão 01- Dialética
Questão 02- Liberdade
Questão 03- História da filosofia
Questão 04 - Evolução da dialética
Questão 05 - Movimento histórico em Hegel
Questão 06 - Reflexão de Hegel
Nascido em 1770 e morto em 1831, o alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel é sem dúvida alguma o mais importante filósofo da primeira metade do século XIX. Dedicado às mais diversas áreas do conhecimento filosófico, Hegel tornou-se particularmente famoso por ser o fundador de uma nova área da filosofia: a filosofia da história
Como seu próprio nome indica, a filosofia da história é a reflexão filosófica a respeito do sentido da história humana. Pois bem, apesar de outros autores antes de Hegel, como Santo Agostinho, já terem sinalizado algo neste sentido, o pensador alemão foi o primeiro a estabelecer com clareza tal disciplina. Cabe aqui, porém, uma observação importante: a filosofia da história não se confunde com a ciência histórica que estudamos no colégio. Enquanto o historiador busca entender os fatos do passado e descrevê-los detalhadamente, cada um no seu respectivo período, o filósofo da história olha a história como um todo e busca avaliar se há, em meio a todas as transformações e mudanças dos tempos, um sentido geral e permanente. Em síntese, a pergunta central da filosofia da história não é “o que aconteceu?”, mas sim “a história humana é uma sucessão de eventos fortuitos e casuais ou há, em tudo isto, um propósito, uma lógica, um destino?”
Ora, de acordo com Hegel, mediante uma rigorosa análise filosófica, é possível ver que a historicidade humana tem sim um sentido. Isto acontece porque ela não se dá pelo acaso ou pelo simples conjunto das ações humanas, mas é antes movida por uma força, por um princípio que a sustenta e orienta, o qual Hegel chamava de Espírito ou Absoluto.
Conduzindo a história humana, o Espírito a leva gradualmente para ao seu télos, sua finalidade, seu propósito: a maximização da liberdade, ou seja, tornar os homens sempre mais livres. Aliás, diz Hegel, se parece difícil perceber esse propósito de imediato, é porque a história não se encaminha para ele de modo simples e direito. Ao contrário, criticando nisto duramente os pensadores iluministas, que viam o progresso histórico como algo linear e cumulativo, Hegel salienta que história progride sim, mas por meio de contradições, de idas e vindas, de conflitos e concessões. Em suma, não é por uma linha reta e contínua, mas por meio de sinuosas contradições que o Espírito move a história.
O modo contraditório pelo qual o Espírito conduz a história humana é chamado por Hegel de dialética. Tal dialética aqui, porém, não se trata de um mero debate de ideias, como em Platão, mas sim de um movimento da própria realidade, através do qual, por meio de momentos sucessivos e aparentemente opostos, a história se desenrola e progride.
Dito de maneira mais ou menos sistemática, poderíamos afirmar que a dialética do real compõe-se para Hegel sempre de três momentos: a tese (ou afirmação), quando uma determinada ideia ou perspectiva se põe na história; a antítese (ou negação), momento em que a tese original é substituída por uma que lhe é inteiramente contrária; e a síntese (ou superação), em que surge uma terceira perspectiva, a qual soluciona o problema em questão de um ponto de vista mais alto, integrando aspectos tanto da tese quanto da antítese.
Para ficar mais claro, usemos um exemplo do próprio Hegel. Segundo o autor alemão, o processo dialético é facilmente perceptível na história das religiões. De fato, o primeiro modelo religioso a se manifestar na história, ainda nas sociedades primitivas, foi o politeísmo - ele é, portanto, a tese ou afirmação. Posteriormente, ao longo do desenvolvimento histórico da humanidade, tal modelo foi questionado por um outro que é o seu exato oposto: o monoteísmo - que é, portanto, antítese ou negação. Por fim, com o surgimento do cristianismo, surgiu a síntese ou superação, que é o dogma da Santíssima Trindade.
Com efeito, ao crer em um único Deus, dotado de uma única essência, mas composto de três pessoas (Pai, Filho e Espírito Santo), o cristianismo supera a contradição entre monoteísmo e politeísmo, pois integra elementos de ambos numa síntese maior. Esta síntese revela, pois, que aquela contradição entre politeístas e monoteístas não era uma oposição real, mas apenas uma preparação para um maior aperfeiçoamento da humanidade.
Outros exemplos dados por Hegel dizem respeito à história da filosofia. Por exemplo, entre os pré-socráticos, o primeiro filósofo, Tales de Mileto, propôs que a arché, o princípio de tudo, era a água, algo material (tese); por sua vez, o segundo filósofo, Anaximandro, negou isto e afirmou que a arché era algo imaterial: o ápeiron, o infinito, o ilimitado (antítese). Por fim, Anaxímenes, o terceiro filósofo, operou a síntese ao escolher como arché o ar, que é um elemento material, mas, dos materiais, o menos material de todos, uma vez que é volátil e não pode ser visto, nem tocado, nem apreciado pelo paladar - e ouvido apenas quando está em movimento. No mesmo sentido, diz Hegel, pode-se dizer que o racionalismo de Descartes é tese, o empirismo de Hume é antítese e o criticismo de Kant síntese.
Perceba-se em todos esses exemplos que há um progresso, uma melhora, um aperfeiçoamento histórico, mas que este não se dá de modo linear e contínuo, mas sim dialeticamente, isto é, por meio de contradições. É necessário, aliás, salientar, que tal processo é infinito, uma vez que, tão logo se estabelece, a síntese transforma-se em uma tese, que será negada por uma nova antítese e assim por diante. Não à toa, o dogma da Trindade encontrou seus críticos, bem como o as teses de Anaxímenes e de Kant. A história, assim, progride de maneira espiralada, num ciclo sem fim, que se encaminha sempre para o aperfeiçoamento do homem e a maximização de sua liberdade.
Convencido não apenas de que a história é importante, mas que ela é o próprio eixo da experiência humana, Hegel criticava duramente certos autores, como Kant, Descartes e os contratualistas, que sempre falavam do homem de maneira abstrata e geral, como se a condição humana fosse universal e imutável. Indo precisamente na direção contrária, o pensador alemão dizia que “todo homem é filho de seu tempo”, isto é, que todo homem é profundamente moldado pela sociedade e pelo período histórico em que vive, de modo que, para se compreender verdadeiramente um ser humano, é preciso olhar para ele não de maneira genérica e abstrata, mas de modo concreto, atento às condições históricas específicas nas quais aquele homem vive. O próprio pensamento filosófico, dizia Hegel, é profundamente condicionado pelo seu período histórico de elaboração.