Exclusivo para alunos

Bem-vindo ao Descomplica

Quer assistir este, e todo conteúdo do Descomplica para se preparar para o Enem e outros vestibulares?

Saber mais

A indústria cultural

A professora Larissa Rocha fala sobre Benjamin e a reprodutibilidade. Confira!

A necessidade de capital

A padronização

Pensamento não critico

Reprodutibilidade técnica


O filósofo e sociólogo judeu alemão Walter Benjamin (1892 – 1940) foi um pensador que esteve fortemente associado à famosa Escola de Frankfurt e, portanto, à tradição marxista de pensamento, tendo também traduzido para a língua alemã grandes obras literárias da cultura francesa, como Quadros parisienses de Charles Baudelaire e Em busca do tempo perdido de Marcel Proust.  A obra mais conhecida e comentada de Benjamin chama-se A obra de Arte na Era de Sua Reprodutibilidade Técnica, tendo sido publicada primeiramente em 1936 e, posteriormente, em 1955.  Esse ensaio de Benjamin tem sido muito relevante na área dos Estudos Culturais e na história da arte e consiste na apresentação de uma teoria materialista da arte. Trata-se de compreender as mudanças que ocorreram na produção artística, que deixou de se realizar enquanto um ritual para ser apropriada pela indústria da arte, que a reproduz no sentido de que possa ser experimentada pelas grandes massas.  O aqui e agora da obra de arte é deixado de lado em prol da reprodução em escala industrial, o que faz com que ela perca a sua “aura”.  Nesse sentido, o surgimento da reprodutibilidade técnica faz com que a obra de arte perca a sua singularidade, sua unicidade e sua autenticidade próprias, dando lugar a produtos culturais de massa como o cinema.

A capacidade de reproduzir a obra de arte em diversas cópias desfaz a condição da obra de arte de objeto único e individualizado. A arte é destituída de sua raridade e frequentemente desconectada com a pessoa do artista. A execução de uma obra requer um ritual, uma forma específica de fazer que antecede a obra e também é a própria obra em si. Tocar violão clássico exige uma série de gestos, palavras e formalidades que carregam um valor simbólico dentro desse campo artístico, compondo um ritual. Entretanto, a reprodutibilidade técnica extingue essa exigência, tornando possível reproduzir uma obra a qualquer momento em qualquer lugar, desde que com os aparatos corretos.

Assim, a qualidade da arte de ser um objeto único se perde em meio a sua reprodutibilidade técnica, na mesma medida em que também deixa de ser voltada para um público restrito no sentido de atingir cada vez mais pessoas, repercutindo na sociedade como um todo.  Uma comparação interessante feita por Benjamin é entre o teatro e o cinema.  Enquanto o primeiro mantém a sua “aura”, a sua singularidade, ou seja, o aqui e agora da obra de arte – que é captado pela plateia presente no espetáculo -, já o segundo perde sua “aura” na medida em que o expectador não está presente e a câmera (um equipamento técnico) é quem reproduz a imagem dos atores. Numa apresentação teatral a obra de arte está incontornavelmente ligada ao ator, já no cinema o ator pode se tornar um acessório à cena, enquanto os próprios acessórios (cenário, câmeras) podem desempenhar o papel de atores.A reprodutibilidade técnica exclui a obra da arte das esferas aristocrática e religiosa, que a elitizam. Assim, a dissolução da aura alcança dimensões socias. A perda da aura e suas consequências sociais são bem notáveis no cinema. As massas passam a se relacionar de maneira qualitativa com a arte pelas transformações na percepção estética. 

O cinema tem um caráter revolucionário por possibilitar um acesso ao inconsciente visual. Diferente do teatro que ocorre num espaço consciente de ação, a câmera produz um espaço de ação inconsciente, exibindo a reciprocidade de ação entre matéria e homem (processo dialético). O cinema seria de grande valia para o pensamento materialista e muito útil na construção de uma nova sociedade na qual a classe proletária alcançaria a liderança política desejada.  Dessa maneira, há dois aspectos a serem levados em consideração: De um lado, a reprodutibilidade das obras artísticas traz consigo a perda de sua singularidade própria.  De outro, pode ser entendida como uma ferramenta muito importante para a construção de uma sociedade mais justa do ponto de vista social. Walter Benjamin tem uma postura otimista da reprodutibilidade técnica, já que, apesar de essa destruir a aura da obra de arte, esta abre espaço para profundas transformações sociais.