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Questão 01 - O conhecimento

Acompanhe a resolução das questões.

Questão 02 - Tempo

Questão 03 - Experiência

Questão 04 - Revolução copernicana

Questão 05 - Teoria do conhecimento

Questão 06 - Filosofia kantiana

Questão 07 - revolução copernicana

Kant e o criticismo

Conhecido como o maior filósofo do Iluminismo, o alemão Immanuel Kant é também um dos maiores pensadores de todos os tempos e se notabilizou nas mais diversas áreas da filosofia: da lógica à filosofia política, da ética à estética. Nesse sentido, uma de suas contribuições mais importantes para a história da filosofia – talvez a maior de todas elas – foi a criação de uma nova corrente na teoria do conhecimento, corrente esta que, de acordo com o Kant, resolveria definitivamente todos os problemas da epistemologia: o criticismo. Ora, no que esta corrente crê?

Em primeiro lugar, precisamos recordar que, na época de Kant, a teoria do conhecimento já ocupava a alguns séculos o centro das especulações filosóficas e vivia dividida em duas grandes correntes: o racionalismo, que considerava a razão o fundamento básico do conhecimento humano, e o empirismo, que dava centralidade aos sentidos no processo de conhecimento. De modo mais ou menos radical, essas duas correntes vinham sempre se contrapondo sem nunca chegar a um acordo. E foi aí que Kant se destacou. Segundo ele, o primeiro passo para a resolução dos problemas epistemológicos seria uma reavaliação geral de toda a discussão desde o seu ponto de partida. Era preciso fazer uma crítica do conhecimento (daí o nome criticismo): perguntar, como se isso nunca tivesse sido feito antes, quais as condições de possibilidade do conhecimento humano.

Curiosamente, a conclusão de Kant em sua Crítica da Razão Pura foi de que tanto o racionalismo quanto o empirismo tinham o seu quê de verdadeiro, que merecia ser reconhecido, mas que também, justamente por isso, nenhum dos dois podia ser admitido sem ressalvas ou ser absolutizado. Ao contrário, para Kant, o papel do verdadeiro filósofo seria unir o que essas duas correntes tinham de verdadeiro, expurgando o que fosse falso. Era necessário fazer uma conciliação, uma síntese transcendente entre as duas teorias.

A ontologia crítica de Kant

Para isso, Kant se volta os componentes do processo de conhecer. Podemos dizer que o conhecimento é sobre um sujeito que conhece um objeto. As duas correntes tratam exatamente sobre como o conhecimento surge a partir da interação com o objeto conhecido, através da interação pela experiência ou pelo intelecto e reflexão. Kant define as coisas que existem (os objetos) como númeno. O númeno é uma existência essencial.

E como Kant consegue conciliar o racionalismo e o empirismo? Bem, para Kant, a primeira coisa que uma crítica séria do conhecimento nos revela é que não podemos nunca acessar o número, isto é, nunca podemos descobrir a essência das coisas, a realidade tal como ela é em si mesma, mas apenas os fenômenos, ou seja, a realidade tal como aparece para nós. Fenômenos são como as coisas se manifestam para uma consciência, ou seja, o máximo que conseguimos perceber os númenos. Aliás, segundo o autor, foi esse o erro básico das teorias do conhecimento precedentes, que, sem reconhecer os limites da inteligência humana, achavam possível descobrir a realidade tal como ela é em si mesma, objetivamente. Indo justamente numa direção contrária, Kant rejeita toda perspectiva objetivista, realista. Para ele, nós nunca saberemos como as coisas são. Podemos apenas descobrir como as coisas são para nós, como elas aparecem para os seres humanos. Não à toa, a filosofia kantiana é considerada subjetivista, idealista. Historicamente, aliás, essa inovação de Kant ficou conhecida como revolução copernicana. Com efeito, assim como Copérnico, com sua defesa do heliocentrismo, teria modificado o centro do universo, transplantando-o da Terra para o Sol, da mesma maneira Kant teria modificado o centro da filosofia, transplantando-o de uma perspectiva realista (centrada no objeto do conhecimento) para uma perspectiva idealista (centrada no sujeito do conhecimento). No entanto, é necessário perceber aqui que o idealismo kantiano não é individual. Não se trata de como a realidade aparece para cada ser humano, mas sim de como ela aparece para todos os indivíduos, uma vez que temos todos a mesma estrutura cognitiva. Trata-se, pois, de um idealismo transcendental. 

Possibilidades humanas de conhecer

Como adiantado acima, a conclusão retirada por Kant de sua investigação das condições de possibilidade do conhecimento humano foi uma síntese entre o racionalismo e o empirismo. Segundo o autor, tanto a razão quanto os sentidos são fundamentos básicos do conhecimento, mas sob aspectos diferentes, cada um com o seu papel. Assim, ao invés de um ou os outros serem a fonte primária do conhecer, o que há é a função de cada um e a interdependência de ambos.

Dito de modo simples, pode-se resumir a coisa da seguinte maneira. São duas as faculdades ou capacidades básicas do conhecimento humano: o entendimento (correspondente à razão) e a sensibilidade (correspondente aos sentidos).

Faculdade idêntica em todos os seres humanos e possuída pelos homens desde que nasceram, o entendimento gera conceitos e fornece o conhecimento a priori (prévio à experiência), o qual consiste nas doze categorias básicas do conhecimento (substância, relação, quantidade, qualidade, etc.). Tal conhecimento a priori fornece a forma do conhecimento humano em geral, isto é, a estrutura a partir da qual conhecemos as coisas. O entendimento seria o correspondente às leis que os sujeitos impõem à realidade, como formas de conhecimento prévias. A sensibilidade, por sua vez, sendo uma capacidade com que os homens também nascem, é, porém, a princípio vazia, uma vez que depende da experiência para ser preenchida – e varia de um indivíduo para o outro. Sendo assim, ela gera intuições e fornece o conhecimento a posteriori (posterior à experiência), o qual se constitui dos dados oferecidos pelos sentidos. Tal conhecimento fornece não a forma, mas a matéria, o conteúdo do conhecimento humano em geral, o qual é estruturado pelas categorias da razão. A sensibilidade dá significação ao conhecimento. Assim, o conhecimento é uma junção de razão e sentidos, entendimento e sensibilidade. A razão dá a forma do conhecimento, os sentidos dão a matéria. O entendimento fornece a estrutura a priori, a sensibilidade o conteúdo a posteriori. Em síntese, a conceito sem intuição é vazio, a intuição sem conceito é disforme. 

Naturalmente, as consequências dos princípios do criticismo kantiano foram muito para além da teoria do conhecimento. Uma vez que todo conhecimento teórico depende simultaneamente do entendimento e da sensibilidade, Kant concluiu que é impossível provar racionalmente a existência de Deus, a imortalidade da alma e a liberdade humana. De fato, nenhum desses três objetos (Deus, alma e liberdade) pode ser percebido diretamente pelos sentidos, sendo assim, nenhum deles pode ser conhecido com segurança. Essa rejeição de Kant dos temas clássicos da metafísica, porém, foi provisória. Como veremos a seguir, Kant resgatará os temas Deus, alma e liberdade quando tratar das questões éticas.

Juízos a priori e a posteriori

Para compreender melhor como o entendimento e a sensibilidade atuam na produção do conhecimento humano, Kant conceitua os julgamentos e conclusões a partir dessas faculdades. Um conhecimento independente dos sentidos é chamado a priori. O exemplo clássico é o conhecimento relacionado à matemática. Equações não dependem da experiência para serem solucionadas. Quando o conhecimento depende das sensações e da experiência ele é considerado a posteriori. Qualquer conhecimento que dependa da experiência (seja o dia está nublado hoje até a Lei da gravidade) está incluído nessa categoria. Kant relaciona os juízos a essas duas formas de conhecimento. Um juízo em que o sujeito já carrega todo o conhecimento que encontramos no predicado, ele é conhecido como analítico. Quando afirmamos “um triângulo tem três lados” o sujeito triângulo já apresenta essa informação. Mas quando faço um juízo em que um predicado é acrescentado ao sujeito, ele é chamado sintético. Quando se afirma “esse polígono é um triângulo” há um acréscimo, uma nova informação.

Qualquer juízo advindo da experiência é sintético, já que é um juízo que depende dos sentidos. Também podemos afirmar que os juízos analíticos são a priori e os juízos sintéticos são, a princípio, a posteriori. A questão principal apresentada por Kant em Crítica da Razão Pura, que é "juízos sintéticos a priori são possíveis?". Kant está aqui tentando expandir a compreensão de como o ser humano produz conhecimento. Sua defesa é central para a ciência. Sua proposta é formular um tipo de juízo que seja capaz de expandir o conhecimento e que seja universalizável ou generalizável e não ligado a casos isolados. O juízo sintético a priori é exatamente esse tipo de conhecimento, onde, observando um elemento X, podemos afirmar algo a respeito de um elemento Y, mesmo só tendo a experiência do elemento X. O juízo sintético a priori permite o surgimento de um conhecimento novo a partir da experiência porque estabelece a universalidade do fenômeno experimentado. É esse juízo que promove a revolução copernicana que mudou a Teoria do conhecimento para sempre.