Exclusivo para alunos

Bem-vindo ao Descomplica

Quer assistir este, e todo conteúdo do Descomplica para se preparar para o Enem e outros vestibulares?

Saber mais

Critica aos sofistas

Professora Lara Rocha descomplica Socrates e teoria das ideias, confira!

Método socrático

Ignorância socrática

Alegoria da caverna

Teoria das ideias

Sócrates

Sócrates (c. 470-399 a.C) foi um filósofo ateniense do período clássico da Grécia Antiga e é considerado um dos fundadores da filosofia ocidental. Curiosamente, ele está entre os poucos pensadores da humanidade que não registraram as suas ideias por escrito. Por isso, tudo o que sabemos sobre o seu pensamento e a sua biografia vem dos relatos produzidos pelos seus discípulos, sobretudo Platão e Xenofonte. A presença de Sócrates como personagem principal dos diálogos platônicos, bem como a escassez de registros históricos fez com que, durante séculos, a sua real existência fosse amplamente questionada. Somente no século XIX, com o avanço das pesquisas, houve a possibilidade de comprovação da existência de Sócrates que, dentre outras coisas, teria participado da Guerra do Peloponeso.

O pensamento socrático é considerado um marco para a filosofia, na medida em que inaugura um período que ficou conhecido como antropológico. Partindo da máxima: Conhece-te a ti mesmo, inscrita na entrada do Oráculo de Delfos, Sócrates deslocou o foco da investigação filosófica das questões cosmológicas (acerca da origem e da composição do universo), para as questões antropológicas, isto é, questões relativas ao próprio homem, tais como:  “O que é a coragem?”, “O que é a virtude?”, “O que é a justiça?” etc. A filosofia socrática era baseada na dialética. Ou seja, Sócrates buscava, por meio do diálogo, produzir uma transformação nos seus interlocutores. Mas, antes de passarmos ao método socrático, falemos um pouco da retórica dos sofistas, à qual esse método se opunha.

 Sofistas: os mestres da retórica

No período clássico (séc. V e IV a.C), o centro cultural deslocou-se das colônias gregas para a cidade de Atenas. Nesse período, Atenas vivia uma intensa produção artística, filosófica, literária, além do desenvolvimento da política. Nesse contexto, surgem os sofistas, pensadores que ficaram conhecidos como os mestres da retórica. Ironicamente, tudo aquilo que sabemos sobre eles procede das obras dos seus adversários (os filósofos). Por isso, eles passaram para a história como impostores, demagogos e enganadores. Na verdade, os sofistas eram professores itinerantes que cobravam por seus ensinamentos.

Mas o que ensinavam os sofistas? A retórica, isto é, a atacar e defender o mesmo assunto com argumentos igualmente fortes, técnicas de memorização, para que o orador fosse capaz de proferir longos discursos sem recorrer ao auxílio da leitura e técnicas de dicção, para que o orador fosse capaz de pronunciar as palavras clara e corretamente, de modo a ser entendido por todos que o escutassem durante a assembleia. Seus alunos aprendiam, sobretudo, a dominar a arte da palavra, ou seja, a falar com ritmo, graça e elegância. Tais habilidades eram fundamentais na democracia ateniense, em que os cidadãos participavam ativamente dos debates públicos.

Entretanto, a argumentação retórica não pretendia alcançar a verdade, mas sim a persuasão. Em outras palavras, seu objetivo era convencer os interlocutores. Para os sofistas, a verdade é relativa (o que vale para um determinado lugar, não vale para outro), portanto o que importa é dispor de argumentos capazes de, em qualquer circunstância, vencer o debate. Essa postura lhes rendeu a fama de relativistas. Dentre os sofistas de maior relevância estão Protágoras e Górgias, ambos presentes nos diálogos de Platão.

Durante séculos perdurou uma visão pejorativa dos sofistas, mas a partir do século XIX uma nova historiografia surgiu realçando suas principais contribuições.  Dentre elas, a contribuição para a sistematização do ensino, elaborada a partir de um currículo de estudos dividido entre gramática (da qual são os iniciadores), retórica e dialética. Além disso, eles contribuíram decisivamente para o estabelecimento do sistema político democrático na Grécia.

O método socrático

É justamente em oposição à argumentação retórica dos sofistas que Sócrates desenvolve a dialética socrática, com o objetivo de mostrar um caminho racional para que os homens pudessem alcançar um conhecimento verdadeiro. Para ele, a discussão não visa vencer ou persuadir. Sua função é, sobretudo, alcançar a verdade. Ao contrário dos sofistas, Sócrates não cobrava por seus ensinamentos e não fazia qualquer distinção entre seus discípulos, pois acreditava que todos os homens, independente da condição financeira ou posição social, são dotados de razão.

Em Apologia de Sócrates, temos uma pista da origem do método socrático. Após descobrir que a pitonisa de Delfos havia dito que ele era “o mais sábios dos homens”, Sócrates, que se considerava ignorante, decidiu interrogar os homens que possuíam a reputação de sábios, para que assim pudesse desmentir o oráculo. Interrogou os políticos, os poetas e os artesãos. Percebeu então, que todos afirmavam conhecer alguma coisa, mas estavam estagnados e não conheciam nada exatamente. Por isso, ao reconhecer a própria ignorância, Sócrates concluiu que era mais sábio do que aqueles homens, pois acreditar saber aquilo que não sabe era a ignorância mais reprovável.

A dialética socrática consistia, basicamente, num duplo movimento. O primeiro chamado de ironia e o segundo de maiêutica. Embora, para nós, a ironia esteja ligada à figura de linguagem em que se diz o contrário do que se quer dar a entender, ou ainda à manifestação de descaso, ou de deboche, o sentido dentro do método socrático é outro. Ironia, do grego eironeia corresponde à “ação de perguntar, fingindo ignorar”. Desse modo, a ironia socrática diz respeito ao conjunto de perguntas por meio das quais Sócrates interrogava os seus interlocutores, a respeito dos conhecimentos que, até então, eles tomavam como verdadeiros. Tais perguntas tinham o objetivo de a evidenciar a sua ignorância desses interlocutores.

Concluído o primeiro movimento, passa-se ao segundo: a maiêutica. A maiêutica consiste na investigação dos conceitos. Sócrates faz novas perguntas para que seu interlocutor reflita. Dessa reflexão, surge a possibilidade de formular um novo conhecimento, agora fundamentado na razão. Note-se que Sócrates não ensina, é o interlocutor que descobre, dentro de si, o que já sabia (reminiscência). Maiêutica, do grego maieutiké significa “a arte de fazer um parto”. Sócrates dizia que, enquanto sua mãe fazia parto de corpos, ele ajudava a trazer à luz as ideias. 

Teoria das ideias

Platão se dedicou a resolver o impasse filosófico criado pelo antagonismo entre o pensamento de Heráclito e Parmênides. Heráclito estaria certo ao observar o movimento, a mudança a impermanência, pois focava no mundo sensível. A matéria é imperfeita, por isso, não consegue manter sua identidade. A experiência no mundo material é uma experiência contraditória, qualquer observação sobre o mundo das aparências produzirá opiniões contraditórias. Já Parmênides, estava correto ao exigir que a filosofia abandonasse o mundo material. O que é verdadeiro, e deve ser buscado, é o que permanece, o Ser, uno imutável, idêntico, eterno, inteligível. Assim surge uma das teorias mais fundamentais para a compreensão do pensamento platônico é, sem dúvida, a sua famosa teoria das ideias. Ela afirma que existem dois mundos, a saber: o mundo sensível e o mundo inteligível.  O mundo sensível é exatamente este mundo que nós habitamos, ou seja, o mundo terreno da matéria, onde estão presentes todos os objetos materiais.  Todas as coisas do mundo sensível, então, estão sujeitas à geração e à corrupção, podendo deixar de ser o que são e se transformar em outra coisa, esse é o mundo da variação, da mudança, da transformação.  No entanto, por que Platão nomeia este mundo de habitamos de mundo sensível? Exatamente porque nós apreendemos esse mundo através de nossos sentidos, ou seja, nós percebemos as coisas desse mundo por intermédio dos cinco sentidos (visão, tato, olfato, paladar, audição). Mas e o que é, então, o mundo inteligível para Platão?

O mundo inteligível ou mundo das ideias é um mundo superior, apenas acessível ao nosso Intelecto e não aos nossos sentidos, que nada mais é do que o mundo do conhecimento ou da sabedoria.  É contemplando as ideias do mundo inteligível através de nossa alma que podemos conhecer as coisas. Assim, o mundo inteligível é composto de ideias perfeitas, eternas e imutáveis, que podemos acessar através da nossa razão. Todas as coisas (materiais) que existem aqui no mundo sensível correspondem a uma ideia ou Forma lá no mundo das ideias.  No mundo inteligível, estão as essências ou a origem de todas as coisas que observamos no mundo sensível.  Assim, a origem das cadeiras que existem no mundo sensível é a ideia de cadeira.  O que existe realmente é a ideia, enquanto a coisa material só existe enquanto participa da ideia dessa coisa.  Essa é a teoria da participação em Platão: Uma coisa só existe na medida em que participa da ideia dessa mesma coisa.  Portanto, segundo Platão, a ideia é anterior às próprias coisas.  Seguindo o nosso exemplo, a ideia de cadeira é anterior à existência das cadeiras particulares.