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Questão 01 - Epistemologia

A professora Larissa resolve uma questão sobre epistemologia, confira!

Questão 02 - Investigação científica

Questão 03 - Ontologia

Questão 04 - Teoria do ato e potência

Questão 05 - Primeiro motor

Questão 06 - metafísica

Platão

Discípulo mais importante de Sócrates, responsável por quase tudo que sabemos sobre seu mestre, Platão é tido por muitos como o maior filósofo de todos os tempos. De fato, produziu ele uma obra imensa, da qual nos restaram cerca de 28 livros, abrangendo e todos os temas possíveis para a investigação filosófica. Não obstante toda essa variedade, porém, a obra platônica possui uma unidade, um eixo central:  a chamada Teoria das Ideias.

Elaborada basicamente como um esforço de síntese entre o mobilismo de Heráclito e o imobilismo de Parmênides, a Teoria das Ideias de Platão era dualista: segundo ela, a realidade se encontra dividida em dois níveis: o mundo sensível e o mundo inteligível. No que diz respeito ao mundo sensível, Heráclito estaria correto, ao assinalar o devir e o conflito; no que diz respeito ao mundo inteligível, Parmênides seria o correto, ao ressaltar a permanência e a identidade.

De acordo com Platão, o mundo sensível, realidade mais imediata e aparente, é o conjunto de tudo aquilo que percebemos com os cinco sentidos, através de nosso corpo; por sua vez, o mundo inteligível, realidade mais profunda, invisível aos sentidos, só é captável pela razão, pela inteligência, através da alma. Para esta divisão platônica, no mundo sensível se encontram as coisas, realidades concretas, palpáveis, determinadas; já no mundo inteligível se encontram as Ideias, essências abstratas das coisas. Enquanto as Ideias são eternas e imutáveis, as coisas são mutáveis e passageiras; enquanto as Ideias são unas e espirituais, as coisas são múltiplas e corpóreas; enquanto as Ideias inteligíveis são modelos perfeitos e acabados, as coisas sensíveis são cópias imperfeitas e corruptíveis. Em suma, neste mundo sensível em que vivemos se encontra apenas o reflexo imperfeito do mundo inteligível (ou mundo das Ideias) que só pode ser acessado pela alma. Lembre-se sempre, é claro, que entre as próprias Ideias há uma hierarquia ontológica, e a Ideia suprema é a ideia do Bem.

Esta diferença ontológica é que serve de base para a teoria do conhecimento de Platão. Uma vez que o mundo inteligível é superior ao sensível, sendo perfeito e servindo de base para ele, apenas a razão, apenas a alma, que é capaz de alcançar o mundo das Ideias, pode efetivamente obter conhecimento genuíno, a verdade absoluta. Por sua vez, preso que é ao mundo sensível, o corpo, dotado dos cincos sentidos, só pode obter opinião, alcançar verdade relativa. Não à toa, para Platão, o método que dá ao homem condições de alcançar as Ideias é a dialética, isto é, a discussão racional - influência de Sócrates. Aliás, a diferença fundamental entre o filósofo e o homem comum, de acordo com Platão, é justamente que, enquanto o primeiro se guia por sua alma e, portanto, pelo que é eterno, o segundo se guia por seu corpo, sendo escravo de impulsos passageiros.

Platão apresenta sua concepção através de um instrumento ilustrativo, a alegoria ou mito da caverna. Nela, Platão nos pede para imaginarmos uma série de homens presos em uma caverna desde a sua infância. Tais homens, porém, encontram-se presos de um modo especial: estão algemados de uma maneira com que jamais conseguem olhar para entrada da caverna, mas apenas para o seu fundo. Do lado de fora da caverna, por sua vez, há uma mureta e, atrás dela, alguns transitando com objetos nas mãos. Mais além da mureta, há uma fogueira. Ora, a fogueira, projetando luz sobre os homens da mureta, gera sombras no fundo da caverna. Os prisioneiros, algemados desde a infância, capazes apenas de ver o fundo da caverna, naturalmente consideram as sombras, única realidade que conseguem ver, a única realidade verdadeira.

Diz Platão: imaginemos, porém, que um dos prisioneiros se liberte, perceba que aquela realidade de sombras é apenas o reflexo imperfeito de uma realidade superior, livre-se das algemas e saia da caverna. Obviamente, tal prisioneiro terá dificuldade, a princípio, de adaptar-se ao ambiente externo: a luz do Sol tenderá a cegá-lo, uma vez que ele estava acostumado à escuridão. Com o tempo, porém, ele se adaptará, diz Platão, verá com nitidez os homens da mureta e poderá enfim ver o próprio Sol de frente. Depois, alegre e satisfeito, sentindo-se na obrigação de esclarecer seus amigos, voltará à caverna para revelar o engano dos demais prisioneiros. Estes, porém, inteiramente acostumados às sombras, não o compreenderão, o verão como louco e o matarão.

A alegoria da caverna é um exemplo de como Platão compreende a realidade. Os prisioneiros da caverna somos nós, seres humanos. As sombras representam o mundo sensível. A mureta e os homens da mureta, original do qual derivam as sombras, são o mundo inteligível ou mundo das Ideias. As algemas que aprisionam os homens e só os permitem ver as sombras são os sentidos. O homem que se liberta da caverna e volta para esclarecer os demais é o filósofo (sua morte pelos demais prisioneiros é uma referência à Sócrates). O exercício e a dificuldade do homem em adaptar-se à luz do ambiente externo é a dialética. O Sol é a Ideia suprema, a Ideia do Bem.

Aristóteles

Um dos maiores pensadores de todos os tempos, Aristóteles foi, durante a juventude, o mais brilhante discípulo de Platão, pensador com o qual estudou durante o período de vinte anos. Sua filosofia, entretanto, pode ser considerada essencialmente um anti-platonismo. De fato, não obstante manter até sua morte uma profunda admiração pelo mestre, Aristóteles considerava que as bases do pensamento platônico, em especial a Teoria das Ideias, estavam profundamente equivocadas. Daí, aliás, a célebre frase que lhe é atribuída: “Sou amigo de Platão, mas sou mais amigo da verdade”.

Como se sabe, para Platão, a realidade está dividida em dois níveis: o mundo das Ideias ou mundo inteligível, onde se encontram as essências imutáveis das coisas; e o mundo sensível, onde se encontram as coisas concretas e materiais, reflexos imperfeitos de suas essências. Em outras palavras, toda a filosofia de Platão repousava sobre a separação entre, de um lado, as coisas, e, de outro, suas essências. Ora, para Aristóteles, tal separação soava absurda, pois contraria o próprio significado da palavra “essência”. De fato, essência é aquilo que faz com que uma coisa seja o que ela é e não outra. Ou seja, a essência de uma coisa é a sua característica primordial, aquilo que a define, aquilo que a faz ser o que ela é e que, portanto, caso ela perca, ela deixará de ser o que é. Pois bem, se as essências fossem separadas das coisas, isto significaria que as características primordiais das coisas não estariam nas próprias coisas, mas fora delas. Isso faz algum sentido? Segundo Aristóteles, não. Daí que o ponto de partida de seu pensamento não é a defesa da separação da realidade em dois níveis, tal como propunha Platão, mas sim a afirmação da unidade inseparável entre essência e coisa. Não há dois mundos, um de essências e outro de coisas. O que há é uma única realidade, onde as coisas e suas essências se encontram juntas. Esta tese central da ontologia aristotélica, conhecida como teoria da substância, é o ponto a partir do qual podemos compreender toda a ontologia aristotélica.

Segundo Aristóteles, toda coisa é uma substância, ou seja, é uma realidade que subsiste em si mesma. Isto, inclusive, é o que diferencia as coisas de suas características. Enquanto a característica subsiste apenas na coisa, a coisa subsiste por si mesma. Por exemplo, Pedro subsiste em si mesmo, mas a sua cor de pele só subsiste através dele e não em si mesma. Toda a filosofia de Aristóteles parte da análise que ele faz dos elementos que constituem as substâncias.

 Dentre as características que compõem uma substância, podemos distinguir dois tipos: a essência (ou forma) e os acidentes. A essência de uma coisa, como vimos, é a sua característica primordial, aquilo que a define, que a faz ser o que é. Por sua vez, os acidentes são todas as características de uma coisa que não lhe são essenciais, ou seja, são as características secundárias, aquelas que a substância pode perder ou ganhar sem deixar de ser o que é. Assim, por exemplo, na substância João, que é um ser humano, a essência é racionalidade e os acidentes são todas as demais características de João, tais como sua altura, corte de cabelo, cor de pele etc.

Depois de analisar as partes componentes da substância, Aristóteles procura compreender como elas se transformam. Aristóteles define a mudança como uma passagem da potência ao ato. No linguajar aristotélico, potência é uma possibilidade de ser que a substância tem, mas que ela não está realizando em dado momento. Por outro lado, ato é aquilo que a substância realmente é em dado momento. Por exemplo, quando Maria vai de casa para o colégio, ela realizou uma mudança, pois modificou o lugar onde estava presente. Tal mudança se deu quando aquilo que era mera potência, possibilidade (estar no colégio) se tornou ato, realidade. O ser em potência é aquele que é apenas enquanto possibilidade; o ser em ato é aquele que é como realidade, efetivamente. Mudar é transferir algo do domínio do possível para o domínio do real.  Com sua teoria do ato e potência, Aristóteles procurou explicar que mudar não é simplesmente se tornar algo diferente do que se é (tal como pensavam os pré-socráticos). Mais que isso, mudar é se tornar algo diferente do que se é, mas que é possível, que é compatível com a própria natureza.

Por fim, para explicar como se dá a mudança das substâncias e como ela subsistem, é preciso saber quais são os elementos que fazem com que algo passe de potência a ato. Os princípios responsáveis pela existência das substâncias e que realizam suas mudanças são chamados por Aristóteles de causas. Segundo o filósofo, há ao todo quatro causas:

·         Causa formal: é a característica primordial da substância, a sua forma. Por exemplo, no caso de uma cadeira, a causa formal é a essência da cadeira.

·         Causa material: é a matéria da substância, aquilo que de que ela é feita. No caso da cadeira, por exemplo, é a madeira.

·         Causa eficiente: é aquilo que produz a substância, que a põe no ser, que a faz existir. No caso do exemplo da cadeira, é o carpinteiro.

·         Causa final: é a finalidade da substância, aquilo para que ela foi feita, o seu propósito. No caso da cadeira, a causa final é servir como assento.

 

De modo didático, podemos dizer que as quatro causas respondem a quatro perguntas: O que é? De que foi feito? Quem fez? Para que serve?