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Acidente e essência

A definição de substância

Um dos maiores pensadores de todos os tempos, Aristóteles foi, durante a juventude, o mais brilhante discípulo de Platão, pensador com o qual estudou durante o período de vinte anos. Sua filosofia, entretanto, pode ser considerada essencialmente um anti-platonismo. De fato, não obstante manter até sua morte uma profunda admiração pelo mestre, Aristóteles considerava que as bases do pensamento platônico, em especial a Teoria das Ideias, estavam profundamente equivocadas. Daí, aliás, a célebre frase que lhe é atribuída: “Sou amigo de Platão, mas sou mais amigo da verdade”.

Como se sabe, para Platão, a realidade está dividida em dois níveis: o mundo das Ideias ou mundo inteligível, onde se encontram as essências imutáveis das coisas; e o mundo sensível, onde se encontram as coisas concretas e materiais, reflexos imperfeitos de suas essências. Em outras palavras, toda a filosofia de Platão repousava sobre a separação entre, de um lado, as coisas, e, de outro, suas essências. Ora, para Aristóteles, tal separação soava absurda, pois contraria o próprio significado da palavra “essência”. De fato, essência é aquilo que faz com que uma coisa seja o que ela é e não outra. Ou seja, a essência de uma coisa é a sua característica primordial, aquilo que a define, aquilo que a faz ser o que ela é e que, portanto, caso ela perca, ela deixará de ser o que é. Pois bem, se as essências fossem separadas das coisas, isto significaria que as características primordiais das coisas não estariam nas próprias coisas, mas fora delas. Isso faz algum sentido? Segundo Aristóteles, não. Daí que o ponto de partida de seu pensamento não é a defesa da separação da realidade em dois níveis, tal como propunha Platão, mas sim a afirmação da unidade inseparável entre essência e coisa. Não há dois mundos, um de essências e outro de coisas. O que há é uma única realidade, onde as coisas e suas essências se encontram juntas. Esta tese central da ontologia aristotélica, conhecida como teoria da substância, é o ponto a partir do qual podemos compreender toda a ontologia aristotélica.

Segundo Aristóteles, toda coisa é uma substância, ou seja, é uma realidade que subsiste em si mesma. Isto, inclusive, é o que diferencia as coisas de suas características. Enquanto a característica subsiste apenas na coisa, a coisa subsiste por si mesma. Por exemplo, Pedro subsiste em si mesmo, mas a sua cor de pele só subsiste através dele e não em si mesma. Toda a filosofia de Aristóteles parte da análise que ele faz dos elementos que constituem as substâncias.

 Dentre as características que compõem uma substância, podemos distinguir dois tipos: a essência (ou forma) e os acidentes. A essência de uma coisa, como vimos, é a sua característica primordial, aquilo que a define, que a faz ser o que é. Por sua vez, os acidentes são todas as características de uma coisa que não lhe são essenciais, ou seja, são as características secundárias, aquelas que a substância pode perder ou ganhar sem deixar de ser o que é. Assim, por exemplo, na substância João, que é um ser humano, a essência é racionalidade e os acidentes são todas as demais características de João, tais como sua altura, corte de cabelo, cor de pele etc.

Depois de analisar as partes componentes da substância, Aristóteles procura compreender como elas se transformam. Aristóteles define a mudança como uma passagem da potência ao ato. No linguajar aristotélico, potência é uma possibilidade de ser que a substância tem, mas que ela não está realizando em dado momento. Por outro lado, ato é aquilo que a substância realmente é em dado momento. Por exemplo, quando Maria vai de casa para o colégio, ela realizou uma mudança, pois modificou o lugar onde estava presente. Tal mudança se deu quando aquilo que era mera potência, possibilidade (estar no colégio) se tornou ato, realidade. O ser em potência é aquele que é apenas enquanto possibilidade; o ser em ato é aquele que é como realidade, efetivamente. Mudar é transferir algo do domínio do possível para o domínio do real.  Com sua teoria do ato e potência, Aristóteles procurou explicar que mudar não é simplesmente se tornar algo diferente do que se é (tal como pensavam os pré-socráticos). Mais que isso, mudar é se tornar algo diferente do que se é, mas que é possível, que é compatível com a própria natureza.

Por fim, para explicar como se dá a mudança das substâncias e como ela subsistem, é preciso saber quais são os elementos que fazem com que algo passe de potência a ato. Os princípios responsáveis pela existência das substâncias e que realizam suas mudanças são chamados por Aristóteles de causas. Segundo o filósofo, há ao todo quatro causas:

·         Causa formal: é a característica primordial da substância, a sua forma. Por exemplo, no caso de uma cadeira, a causa formal é a essência da cadeira.

·         Causa material: é a matéria da substância, aquilo que de que ela é feita. No caso da cadeira, por exemplo, é a madeira.

·         Causa eficiente: é aquilo que produz a substância, que a põe no ser, que a faz existir. No caso do exemplo da cadeira, é o carpinteiro.

·         Causa final: é a finalidade da substância, aquilo para que ela foi feita, o seu propósito. No caso da cadeira, a causa final é servir como assento.

 

De modo didático, podemos dizer que as quatro causas respondem a quatro perguntas: O que é? De que foi feito? Quem fez? Para que serve?