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Crônicas narrativas e poéticas

Neste vídeo, o professor Alexandre começa a explicar os tipos de crônicas, conceituando o tipo narrativo e a poético.

Crônicas humorísticas e narrativas

Crônicas reflexivas e metalinguísticas

Crônicas descritivas e jornalísticas

Crônicas históricas e crônicas ensaio

Crônica

A crônica é um gênero que pode ter características literárias ou defender uma ideia por meio de argumentos É, portanto, um gênero que transita entre o jornalismo e a literatura, com características opinativas e pessoais.

A palavra crônica deriva da palavra “chronos" que significa "tempo". Assim, esse gênero textual tem como objetivo apresentar um fato acerca do cotidiano. É um texto subjetivo, no qual o autor busca despertar o olhar o leitor para determinados aspectos e detalhes de uma situação cotidiana, que não costumam ser revelados pelo sendo comum. 

A crônica, muitas vezes, é a favorita dos mais jovens. Com linguagem mais informal, com marcas da coloquialidade e trabalhando com temas do cotidiano, a crônica surge para trazer o leitor para perto do texto. Muitas vezes, com histórias da vida em sociedade ou dos tantos problemas comuns das pessoas, o leitor se vê refletido nas histórias. Muitas vezes cômica, muitas vezes trágica, a crônica nos contempla com a mais variada gama de assuntos, visando o teor filosófico, crítico ou até mesmo humorístico. As marcas linguísticas são livres e não se prendem a nenhuma norma, podendo o autor selecionar a linguagem que mais achar adequada ao seu escrito.

Tipos de crônica

  • Crônica narrativa: É constituído a partir dos elementos da narração: personagens, tempo, espaço e enredo. O assunto, em geral, é sobre um tema vinculado ao cotidiano das cidades.
  • Crônica jornalística/argumentativa: Contém a mistura de fragmentos narrativos, além de trechos de reflexão e argumentação sobre o fato narrado. Geralmente, é um tema de interesse de um grupo social e não apenas do próprio cronista. 

Vejamos uma crônica do aclamado Luis Fernando Veríssimo:

A metamorfose

Uma barata acordou um dia e viu que tinha se transformado num serhumano. Começou a mexer suas patas e viu que só tinha quatro, que eram grandes e pesadas e de articulação difícil. Não tinha mais antenas. Quis emitir um som de surpresa e sem querer deu um grunhido. As outras baratas fugiram aterrorizadas para trás do móvel. Ella quis segui-las, mas não coube atrás do móvel. O seu segundo pensamento foi: “Que horror… Preciso acabar com essas baratas…”

Pensar, para a ex-barata, era uma novidade. Antigamente ela seguia seu instinto. Agora precisava raciocinar. Fez uma espécie de manto com a cortina da sala para cobrir sua nudez. Saiu pela casa e encontrou um armário num quarto, e nele, roupa de baixo e um vestido. Olhou-se no espelho e achou-se bonita. Para uma ex-barata. Maquiou-se. Todas as baratas são iguais, mas as mulheres precisam realçar sua personalidade. Adotou um nome: Vandirene. Mais tarde descobriu que só um nome não bastava. A que classe pertencia?… Tinha educação?…. Referências?… Conseguiu a muito custo um emprego como faxineira. Sua experiência de barata lhe dava acesso a sujeiras mal suspeitadas. Era uma boa faxineira.

Difícil era ser gente… Precisava comprar comida e o dinheiro não chegava. As baratas se acasalam num roçar de antenas, mas os seres humanos não. Conhecem-se, namoram, brigam, fazem as pazes, resolvem se casar, hesitam. Será que o dinheiro vai dar ? Conseguir casa, móveis, eletrodomésticos, roupa de cama, mesa e banho. Vandirene casou-se, teve filhos. Lutou muito, coitada. Filas no Instituto Nacional de Previdência Social. Pouco leite. O marido desempregado… Finalmente acertou na loteria. Quase quatro milhões ! Entre as baratas ter ou não ter quatro milhões não faz diferença. Mas Vandirene mudou. Empregou o dinheiro. Mudou de bairro. Comprou casa. Passou a vestir bem, a comer bem, a cuidar onde põe o pronome. Subiu de classe. Contratou babás e entrou na Pontifícia Universidade Católica.

Vandirene acordou um dia e viu que tinha se transformado em barata. Seu penúltimo pensamento humano foi : “Meu Deus!… A casa foi dedetizada há dois dias!…”. Seu último pensamento humano foi para seu dinheiro rendendo na financeira e que o safado do marido, seu herdeiro legal, o usaria. Depois desceu pelo pé da cama e correu para trás de um móvel. Não pensava mais em nada. Era puro instinto. Morreu cinco minutos depois , mas foram os cinco minutos mais felizes de sua vida.

Kafka não significa nada para as baratas…