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A modernização conservadora do campo brasileiro

Confira!

Complexos agroindustriais (CAI)

Soja e a evolução espacial

Desmatamento e o avanço da fronteira agrícola

Modernização e novas áreas de conflito

Estrutura fundiária e a modernização conservadora

A estrutura fundiária corresponde a forma que a terra está distribuída. No Brasil é possível observar uma enorme concentração nessa distribuição, o que chamamos de concentração fundiária. Segundo dados do IBGE, aproximadamente 1% dos proprietários agrícolas detém aproximadamente 46% das terras usadas para produção agropecuária no país. Essa concentração possui raízes históricas.

Um primeiro fator que ajuda a explicar isso foi o sistema de Capitanias Hereditárias. Escolhido como um recurso administrativo por Portugal para gerenciar uma região de proporções continentais, as Capitanias eram administradas pelos donatários, pessoas próximas e de confiança da Coroa Portuguesa. Eles poderiam escolher outras pessoas para ajudar nesse processo. Essas pessoas, beneficiários, recebiam porções de terra em forma de doação. Para regular esse sistema foram criadas as Sesmarias. Assim o acesso à terra dependia da sua proximidade com a Coroa Portuguesa. Um segundo fator foi a Lei de Terras de 1850, que transformou a terra em propriedade. Agora ela precisava ser registrada e só podia ser comprada ou vendida. No Brasil do século XIX, aqueles que tinham capacidade para isso já eram proprietários terras, o que foi aumentando a concentração.

O processo de modernização conservadora está associado a Revolução Verde na década de 1960 e 1970 com a introdução de novas tecnologias e máquinas no campo. Assim observou-se um processo de mecanização do campo, mas sem alterar sua estrutura fundiária, intensificando a concentração terras. Com a expansão do agronegócio a produção agrícola passou a exigir cada vez mais investimentos, excluindo ou dificultando o acesso dos pequenos e médios produtores a esses mercados, forçando-os a migrar para cidade em busca de emprego. Esse fluxo populacional é denominado êxodo rural

 

Complexo Agroindustrial

A nova estrutura produtiva do campo é chamada de CAI (Complexo Agroindustrial) ou agroindústria, e consiste em três etapas principais:

  • Primeira etapa – indústria de insumos: Tudo o que é necessário para desenvolver a atividade agrícola, como maquinário, irrigação, adubação, correção do solo, agrotóxico e Organismos Geneticamente Modificados (OGM).
  • Segunda etapa – agricultura e pecuária: Atividade típica do campo, plantação e criação de animais. O Brasil se destaca muito nos dois, tanto na agricultura quanto na pecuária, pois investe em tecnologia e pesquisas.
  • Terceira etapa – indústria de beneficiamento: Consiste na adaptação dos produtos agrícolas para os moldes do mercado, ou seja, a etapa final não é mais a colheita agrícola. Cabe destacar que o beneficiamento agrega valor ao produto.

 

Soja e a evolução espacial

A soja é um grão de clima frio cujo cultivo era praticado principalmente na Região Sul do Brasil. A partir de inúmeras pesquisas a Embrapa (empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) adaptou o cultivo da soja para áreas de clima tropical. Somada a essa adaptação surgiu alguns métodos (calagem) que permitam a correção dos solos ácidos do Cerrado. Tais condições possibilitam a expansão da soja pelo Centro-Oeste ocupando áreas nos estados do Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Goiás, além de outros estados do Brasil, como São Paulo, Minas Gerais, Tocantins, Maranhão, Piauí e Bahia.

 

Quatro décadas de Marcha da Soja – 1975-2015

 Quatro décadas de Marcha da Soja – 1975-2015

Fonte: https://journals.openedition.org/confins/12592

 

 

Desmatamento e o avanço da fronteira agrícola

O desmatamento do Cerrado e da Amazônia está diretamente associado à expansão da fronteira agrícola. Esse avanço corresponde à expansão das atividades agropecuárias sobre o meio natural, isto é, uma área ainda não incorporada ao circuito da produção capitalista. Devido a essa expansão da fronteira agrícola, o Cerrado, hoje, é considerado um hotspot da biodiversidade, isto é, área que possui uma vegetação diferenciada, marcada por espécies endêmicas e com 75% ou mais de sua vegetação destruída. Esse processo ocorreu pela expansão do cultivo da soja pela região.

A Amazônia sofre com processo de desmatamento bem similar, relacionado à soja e à pecuária, embora esse processo seja mais recente. A atual expansão da fronteira agrícola caminha no sentido norte do país. Hoje, é proibido cultivar soja em solo florestal, assim, o desmatamento na região ocorre principalmente para a abertura de campos de pastagem, voltados para a criação de gado bovino. Com solos pobres, lixiviados e laterizados, o desmatamento leva à rápida perda de fertilidade. O elevado custo para incrementar a produtividade do solo para pastagens induz os pecuaristas a buscarem novas áreas para o desmatamento. Com isso, esses solos não mais florestados dão lugar à soja, ao milho, ao feijão, cujo cultivo justifica a recuperação dos solos.

 

Modernização e novas áreas de conflito

Com avanço do agronegócio propiciado pela modernização produtiva do país é possível observar novas áreas de conflitos. O avanço da soja sobre o Norte e o Nordeste criou duas áreas de intenso conflito no campo brasileiro, o MAPITOBA (acrônimo de Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia) e o Bico do Papagaio (fronteira do extremo norte do estado de Tocantins). Cabe destacar que o agronegócio é muito importante para a economia brasileira e está organizado, principalmente, em torno do complexo agroindustrial (agricultura mais indústria). Todavia o avanço dessas atividades