O contexto histórico
Fatos sociais
Anomia
Ação social
Tipos de ação social
Ética protestante
Principais análises
Durkheim
Tal como Comte e todo os demais grandes nomes da sociologia, Émile Durkheim destacou-se pela explicação que desenvolveu para a origem da sociedade capitalista moderna. Diferente, porém, de seu predecessor, que via no surgimento da sociedade moderna a passagem de um estado metafísico, dominado por explicações filosóficas, para um estado positivo, dominado por explicações científicas, Durkheim via na passagem das sociedades tradicionais para a Modernidade acima de tudo uma mudança na solidariedade social, isto é, no mecanismo de coesão e unidade da sociedade.
Fortemente influenciado pelas ciências naturais - seu modelo de pensamento -, o sociólogo francês afirmava que as virtudes principais de um pesquisador social são a neutralidade e a objetividade. Na prática, isto significa que um sociólogo jamais deve permitir que os seus valores pessoais ou a sua visão de mundo interfiram no seu trabalho. Sua análise deve ser meramente descritiva, nunca avaliativa, concentrada apenas em compreender a sociedade que está pesquisando, não em julgá-la ou classificá-la.
De acordo com Durkheim, nas sociedades tradicionais, pré-modernas, anteriores ao capitalismo, a divisão social do trabalho, isto é, a especialização profissional era pequena. Isto ocasionava poucas diferenças entre os indivíduos e fazia da sociedade algo mais homogêneo. Assim, a coesão social era realizada e garantida através do compartilhamento de uma mesma visão de mundo, de um mesmo conjunto de ideias e valores dominantes. Este modelo de coesão social é chamado por Durkheim de solidariedade mecânica. Nas sociedades modernas, por sua vez, o capitalismo promoveu uma enorme acentuação na divisão social do trabalho. Isso exacerbou a especialização profissional e, portanto, a individualidade. Por isso, a sociedade moderna é heterogênea, contando com grande diversidade de religiões e de visões de mundo no interior de um mesmo contexto social. Daí também porque, na Modernidade, o que une e congrega a sociedade não é o fato das pessoas partilharem uma mesma visão de mundo, mas sim o fato de elas serem mais interdependentes no mundo do trabalho. É o que Durkheim chamava de solidariedade orgânica.
Para chegar a essas conclusões, o sociólogo teve que desenvolver uma metodologia particular. Em busca de leis gerais que regessem o funcionamento da sociedade, ele elaborou um novo paradigma epistemológico. Como podemos observar, o foco de Durkheim na estrutura da sociedade era pensar o que a mantinha unida. Essa coesão social era o que gerava a solidariedade em cada modelo social. Mas, como observamos, a coesão dos modelos estudados tem diferentes origens, ou não? Aprofundando um pouco mais o pensamento do autor, podemos elencar como gerador dessa coesão o consenso em torno das regras assumidas como fundamentais pelo grupo social para manter a sociedade de pé. Ou seja, independente de por semelhança ou interdependência, o que promove a coesão social é a adesão às normas, regras e valores sociais compartilhados pelo grupo. Essas regras, normas e valores, a partir da adesão grupal, formam um padrão de comportamento. Veja, se todos nós seguimos determinada regra, ela será repetida por todos nós, ela configurará um padrão de comportamento. Esse padrão social de comportamento é o foco principal do estudo de Durkheim. Ele considerava que o sociólogo deve, tal como o físico e o químico, buscar por padrões de regularidade, que, no caso dele, seriam os fatos sociais. Os fatos sociais são justamente as regras ou normas coletivas que acabam se impondo de maneira coercitiva aos indivíduos, um conjunto de instrumentos sociais que determinam as maneiras de agir, pensar e sentir na vida de um indivíduo inserido socialmente. Esse conjunto de dispositivos existe independente da vontade e existência das pessoas. Podemos, então, listar três elementos característicos dos fatos sociais segundo Durkheim: Eles são exteriores ao indivíduo, eles são coercitivos e são gerais. Sua exterioridade pode ser explicada na medida em que não está no poder do indivíduo modificar, através meramente de sua vontade, as regras sociais às quais está submetido. Eles são coercitivos porque há punições e sanções para aqueles que não obedecem às regras. Os padrões possuem poder ou força. Por fim, eles são gerais no sentido de que devem ser observados por todos aqueles que fazem parte de certo grupo social. Alcançam toda a sociedade.
Weber
Max Weber (1864 – 1920) foi um sociólogo, economista e historiador alemão, um dos fundadores da Sociologia, juntamente com os outros dois sociólogos clássicos, Émile Durkheim (1858 – 1917) e Karl Marx (1818 – 1883). Diferentemente de Durkheim, que defendia o método comparativo, e do materialismo dialético de Marx, Weber desenvolveu um método de análise sociológica que ficou conhecido como método compreensivo, que se tornou a segunda vertente do método sociológico, tendo surgido na Alemanha.
Weber defende que os fenômenos sociais exigem a formulação de um método próprio, distinto daquele utilizado pelas Ciências Naturais. Enquanto as Ciências da Natureza explicam os fenômenos a partir da regularidade que apresentam, as Ciências Sociais devem compreender as manifestações que ocorrem dentro de uma sociedade. Isso só é possível, segundo Weber, através da análise dos sentidos atribuídos pelos indivíduos à sua vida e à sua maneira de agir no âmbito da cultura da qual faz parte.
Isso significa uma grande mudança em relação ao método de Durkheim que, em As Regras do pensamento sociológico (1895), defende um predomínio da sociedade em relação ao indivíduo. Ou seja, que os fatos sociais existem independente da vontade dos indivíduos, além de serem gerais e coercitivos. Já para Weber, cada fenômeno social tem uma particularidade que deve ser levada em conta pela análise sociológica, que deve tornar compreensível e tentar interpretar as intenções e sentidos das ações dos indivíduos dentro de uma certa cultura. Para Weber, observar a sociedade tal qual um fenômeno reproduzível a exaustão para determinar suas regras é uma impossibilidade (por motivos óbvios), já que a sociedade não cabe num laboratório. Além disso, há diversas implicações metodológicas e éticas em isolar um indivíduo ou um grupo social num experimento. Como ter certeza de que os resultados serão confiáveis? Como saber se o indivíduo reagiria, no interior da sociedade, da mesma maneira como se comporta num cenário diferenciado? A quantidade de variáveis que podem interferir num fenômeno social é absurdamente grande e tentar rastrear isso é um despropósito, já que a humanidade na sua unidade analisável (o indivíduo) se apresenta imensamente diverso (em comparação) e volátil (em comportamento). Devemos aceitar as limitações dessa prática científica e seguir o que importa para nós mesmos (como cientistas e como pessoas), os motivos pelos quais fazemos o que fazemos.
As implicações da postura teórico-metodológica de Weber são claras. Como já vimos, as ciências sociais são muito diferentes das naturais. Também podemos concluir que a pretensa neutralidade da ciência é uma impossibilidade nas ciências sociais, estamos inseridos naquilo que pesquisamos, diariamente produzimos alterações, mudanças e interferências nos fenômenos sociais. Além disso, podemos imaginar que fazer pesquisa sociológica para Weber é como procurar objetos em um cômodo escuro. Porque, diferente dos outros clássicos, Weber não tem uma regra geral estruturante da sociedade. Seu objeto de estudo é o indivíduo. Mas Weber não nos jogou despreparados nesse quarto, ele nos deu lanternas e bússolas. Esses instrumentos de análise são os tipos ideais.
Os tipos ideais são representações perfeitas de um fenômeno. No tipo ideal estão listadas todas as características que um fenômeno deve apresentar para ser classificado de uma dada forma. No entanto, o mais importante sobre o tipo ideal é que ele não existe na realidade, porque ele é uma ideia. Ou seja, você nunca vai encontrar num fenômeno que se manifeste exatamente como o tipo ideal afirma. Em vez disso, você encontrará fenômenos muitos parecidos, que se desviam em um ou outro ponto do tipo ideal, mas podem objetivamente ser enquadrado nele. O tipo ideal é uma concepção provisória sobre mundo, que nos guia em busca da compreensão dos fenômenos, mas nunca submete a realidade a essa classificação. Essa proposta de Weber é interessante porque nos permite usar uma ferramenta eficaz para identificar fenômenos ao mesmo tempo que afirma a primazia da realidade sobre nossa subjetividade ao fazer uma análise.
Do ponto de vista do objeto, segundo Weber, a única coisa que pode ser, de fato, observada dentro de uma sociedade são os indivíduos, a maneira como agem e como eles compreendem suas próprias ações. A sociologia tem como tarefa fazer a descrição desses comportamentos, assim como interpretá-los. A unidade mínima da análise sociológica, portanto, são os indivíduos, e eles praticam ações sociais que estão baseadas na tradição, nos afetos ou na razão, o que nos remete a tese de Weber de que há quatro tipos fundamentais de ações sociais que explicam as causas dos fenômenos que observamos nas sociedades, são elas: ações tradicionais, ações afetivas, ações racionais orientadas para valores e ações racionais orientadas a fins.
Agora vamos apresentar a definição de ação social. O tipo ideal de ação social é qualquer ação orientada a outra pessoa. São ações que levam em consideração alguém, que tem como sentido um outro indivíduo (ou vários), ou uma ação em que resta uma expectativa. Normalmente essas ações ocorrem no interior de relações sociais, que são comportamentos em que os indivíduos são um a referência do outro para guiar suas ações, ou compartilham a referência de sentido que os orienta. Há na relação social a noção de reciprocidade e compartilhamento, e a rede de relações sociais é que forma a sociedade.