O Clima e a Vegetação do Sertão
Clima Semiárido
O Fenômeno da Seca
Concentração Fundiária no Sertão
O Meio Norte
Introdução
O Nordeste é considerado a região das perdas. Já foi capital, polo econômico, populacional e cultural do país. Porém, com o deslocamento da capital para o Rio de Janeiro, a região foi perdendo sua força. Hoje, o Nordeste é identificado a partir de suas desigualdades e dificuldades. Mas é uma região complexa, com subdivisões que nos ajudam a entender cada porção dessa área. O Nordeste pode ser dividido em quatro sub-regiões, cada uma com sua problemática.
Fonte: http://www.sertaovida.com.br/sertao.html
Sertão – clima semiárido e vegetação
É a sub-região do Sertão que merece nossa atenção, quando se estudam os desafios regionais. Caracterizada por ser uma área de clima semiárido, marcada por índices pluviométricos inferiores a 700mm de chuva ao ano, a região enfrenta um obstáculo climático, a seca.
O clima semiárido é definido dessa forma, pois apresenta baixíssimos índices pluviométricos durante o ano, ao mesmo tempo que apresenta alguns meses de precipitação. É por isso que esse clima não é classificado como árido ou desértico.
Todavia, no intervalo de alguns anos, devido ao El Niño, esse período de precipitação não ocorre. Assim, a região passa por longos períodos (2 a 3 anos) sem precipitação, definindo-se, assim, o fenômeno da seca. A região mais afetada socialmente pelo fenômeno da seca foi mapeada e definida como Polígono das Secas.
Climograma - Sertão
A vegetação da região é denominada Caatinga, um tipo de Estepe, isto é, vegetação de borda de deserto. Todavia, essa vegetação criou adaptações necessárias ao clima em que vive (semiárido) e, por isso, pode ser considerada o único bioma exclusivamente brasileiro. Apresenta vegetação xerófita, com espinhos para evitar a perda excessiva de água e com raízes profundas para alcançar o lençol freático. Pouco estudada, a Caatinga não é muito valorizada e acaba sofrendo com o desmatamento para a obtenção de lenha.
O fenômeno da seca e a concentração fundiária
Nesse contexto, a questão social é a mais prejudicada, em grande parte devido à concentração de terras, que limita o acesso a alguns rios perenes, açudes e poços. A água se torna uma barganha política, oferecida em troca da manutenção das relações de poder. O Rio São Francisco é o principal rio que corta a região. Com suas águas perenes, se torna a principal fonte de água para as populações de suas margens e é usado para irrigação e produção de energia, como a Hidrelétrica de Sobradinho (BA).
A importância de suas águas é discutida desde o Brasil Imperial e a transposição de parte de sua vazão para áreas menos favorecidas é antiga. Mesmo assim, a obra de transposição do São Francisco só teve início em 2007. O objetivo é desviar entre 1% e 3% da água do rio a partir de dois canais principais.
Hoje, a obra já se encontra quase totalmente concluída (99%). Foi dividida em dois eixos, Norte e Leste, que são posteriormente subdivididos em outros segmentos menores, levando a água para rios já existentes, mas temporários, além de adutoras e açudes locais, conforme é possível se observar no mapa abaixo.
Projeto de Transposição do São Francisco
Fonte: ALMEIDA, L. M. A. de. Fronteiras da globalização. São Paulo: 3. ed. Ática, 2016.
O impacto dessa transposição no São Francisco é muito discutido. Diversos estudiosos apontam que o volume de água transposto é muito pequeno e não afetaria sua vazão e sempre respeitaria o regime fluvial do rio. Quando o rio apresentasse menor vazão, seria retirada uma menor quantidade de água. Outros apontam que esse volume poderia afetar sim a vida do rio, prejudicando regiões a jusante dos canais de captação.
De qualquer forma, os principais impactos apontados são nos canais de transposição. Para sua construção, foi necessário realizar o desmatamento, o que pode levar prejuízos à biodiversidade. Soma-se a isso que essa transposição pode levar à introdução de espécies exóticas nos rios e açudes já existentes, bem como causar a salinização do solo e isolamento de espécies, que não conseguiriam migrar de uma margem para outra. Outro ponto muito criticado é que, se não corrigisse a estrutura fundiária da região, o acesso à água, mesmo com a transposição, seria limitado, mantendo ou reforçando as estruturas de poder local, além de que facilitaria a expansão agrícola de grandes proprietários, gerando maior concentração de terras. É nesse sentido que se pode afirmar que o problema do Sertão não é a seca, e sim a cerca.
Charge – A Indústria da Seca, de Maurício Ricardo
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=nen27cLPFJU
Meio-Norte
O Meio-Norte é outra subdivisão do Nordeste, encontrada mais a oeste e próximo à Região Norte do país. Abrange os territórios dos estados do Maranhão e parte do Piauí. Essa sub-região é uma faixa de transição (ecótono) entre o semiárido nordestino e a Floresta Amazônica. Apresenta clima tropical, com muitas chuvas no verão, e índices pluviométricos maiores na sua porção oeste, mais próxima da região amazônica. A vegetação natural dessa área é a Mata dos Cocais, com dois tipos bem famosos: as carnaúbas e os babaçus, com o porte mais florestal do que arbustivo.
Historicamente, essa região apresenta baixo índice de desenvolvimento humano, senda a renda da população obtida a partir de atividades extrativistas relacionadas a essas duas árvores. Recentemente, com a expansão da soja no sentido dessa região, os casos de conflito por terra têm aumentado significativamente entre grileiros e populações tradicionais que vivem da exploração dessa mata.
Um aspecto econômico positivo nessa região é o Complexo Portuário de Itaqui, no Maranhão, responsável pela exportação de minério de ferro extraído da Serra dos Carajás, no Pará. Tal região é muito estratégica devido à proximidade geográfica com a Europa e os Estados Unidos, no Hemisfério Norte.
Mata dos Cocais
Fonte: https://conhecimentocientifico.r7.com/