Senso comum
Características do senso comum
Senso crítico
Conhecimento científico
Características do conhecimento científico
Senso comum
Tal como Sócrates, devemos reconhecer nossa ignorância. Assim desenvolvemos senso crítico. Para isso, é importante identificar o que é doxa (opinião) e o que é episteme (conhecimento), hoje comparáveis respectivamente ao senso comum e ao senso crítico. No nosso cotidiano é comum obter explicações diversas para a mesma coisa. As mais variadas opiniões surgem, a maioria se arrogando verdades. Muitas dessas ideias alcançam consenso e se espalham nos grupos sociais pelos meios de comunicação disponíveis. Por fim, quando se tornam aceitas por vários desses grupos, essas concepções são naturalizadas, ganhando seu estatuto de “verdade absoluta”. Assim se forma o senso comum, um vasto conjunto de crenças naturalizadas como verdade por um grupo (ou vários) que entende o mundo através desse conjunto. Ou seja, para esse grupo, todos os seres humanos pensam o mesmo (ou deveriam pensar).
O senso comum pode ser encontrado em ditados populares, como “amigos, amigos, negócios à parte”, “Deus ajuda quem cedo madruga”, “Querer é poder”, “Filho de peixe, peixinho é”. Perceba que, embora tomemos tais dizeres como verdade, nós não nos questionamos de onde surgiram e em quais circunstâncias. De modo geral, a origem e a fundamentação ido senso comum não sejam conhecidas. Note- se que as ideias que compõem o senso comum podem dar lugar a preconceitos e mentiras, porém é possível encontrar entre elas profundas reflexões sobre a vida.
Além disso, algumas dessas reproduções se baseiam em conclusões científicas de amplo alcance como “Vitamina C é boa contra resfriado”. Uma característica relevante do senso comum é sua acriticidade. Ou seja, o fato de aderirmos a essas ideias sem antes questioná-las. Por vezes, o que se perde no processo de formação do senso comum não é exatamente a sua veracidade, mas sim a sua fundamentação. Isso significa dizer que, caso examinemos as ideias do senso comum criticamente, é provável que encontremos boas explicações para algumas delas, só assim é possível distinguir as afirmações verdadeiras das falsas.
Como ter senso crítico?
Agora que já sabemos o que é o senso comum, devemos buscar ter uma consciência crítica para aderir não às opiniões e aparências sem o devido cuidado. Por mais óbvia que seja uma ideia ou fato, pode estar escondido ali uma inverdade. Por vezes, nossos sentidos nos enganam (você sente a Terra girar?), às vezes são nossas emoções (nem sempre somos críticos quando um parente ou um amigo querido nos diz algo), também podemos ser enganados por noções, intuições e preconceitos (racismo e xenofobia já foram tratadas como conhecimento científico).
Percebemos então que devemos ter cuidado ao aderir a uma ideia, seja ela qual for (inclusive as que se afirmam científicas). Apesar disso, não significa dizer que abandonaremos o senso comum por completo. É que muito do que o senso comum produz como conhecimento é útil para o dia a dia. Veja o exemplo do Sol: para nós, ele nasce ao leste e se põe ao oeste. Ora, todos aprendemos desde cedo que, em relação a Terra, o Sol está parado. Somos nós que giramos em torno dele. Mas, quando um engenheiro constrói uma casa, em termos referenciais, ele não pensa para onde a Terra gira, mas no caminho aparente que o Sol percorre no céu. Isso significa dizer que, na prática, mobilizar o senso comum não é errado, contanto que conheçamos seus limites.
Senso crítico e consciência
O senso crítico se forma na capacidade de perceber o mundo e realizar um diálogo interno, um processo mental que encadeia e desencadeia ideias conforme nossos juízos racionais e intuitivos. Ou seja, compõe-se uma forma de consciência, já que compreendemos o que é externo e o que é interno. Essa consciência, para ser crítica, depende da harmonia entre a atenção ao mundo e a reflexão sobre si. Se qualquer um desses lados é muito maior que o outro então se perde o equilíbrio e a capacidade de formar juízos é abalada. Aqui temos um processo dialético. Só é possível conhecer o que está dentro quando conseguimos perceber os limites entre o eu e o mundo, quando tomamos consciência de nós dentro do mundo. Assim há uma dialética entre a identidade e a alteridade.