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O conceito de liberdade

Quer entender como funciona o tema Liberdade na Redação? A professora Carolina Achutti explica tudo!

Os limites da liberdade

Liberdade e ética

Liberdade: Kant e Sartre

Liberdade: Debord e Bauman

O conceito de liberdade

Ao ouvirmos a palavra liberdade, logo nos vem à cabeça uma definição bem clássica: ser livre é “fazer aquilo que se bem entender”. Mas se pensarmos mais a fundo, podemos chegar à conclusão de que tal conceito pode variar, seja no âmbito político, filosófico, religioso, histórico etc. Por exemplo, a noção de liberdade para um budista é a mesma do que para um cristão? Ou então, a noção de liberdade em um regime ditatorial é a mesma do que em uma sociedade democrática?

Esse tipo de questionamento é importante para que se construa argumentos sólidos sobre qualquer assunto, não somente sobre liberdade. Só assim conseguimos fugir do senso comum e escrever redações originais, com embasamento teórico e demonstrando sensibilidade. Os textos abaixo procuram trazer diferentes visões de liberdade ao longo dos séculos e em diferentes âmbitos sociais, justamente para enriquecer o repertório intelectual do vestibulando.

A liberdade na antiguidade clássica


Na antiguidade, o conceito de liberdade estava intimamente ligado à política e à jurisdição, sem ligação direta com o voluntário ou o involuntário. Os gregos até consideravam a existência dessa oposição, mas não a associavam à liberdade. É importante destacar também que, nessa época, nem todos os homens poderiam ser considerados livres, somente os cidadãos da polis.

Sócrates foi o primeiro filósofo da história a conceber a ideia de liberdade. Para ele, ela estava relacionada à noção de autoconhecimento e o homem plenamente livre seria aquele que não se deixaria levar pelas emoções, mas sim conseguiria dominá-las. Uma palavra chave para as ideias de Sócrates seria autodomínio. Esse conceito é bem diferente daquele que trazemos no senso comum hoje em dia, afinal, soaria estranho hoje a associação de “liberdade” com “domínio”. Platão aprofundou esse conceito e , para ele, o homem deveria “dominar o homem em si” para buscar a liberdade em vida, ainda que ela só poderia ser atingida após a morte, com a liberação da alma.

Já Aristóteles tinha um conceito de liberdade mais próximo daquele com o qual estamos acostumados. Para ele, o homem livre é aquele que é hábil em escolher entre as opções de vida que lhe são oferecidas.

A liberdade na Idade Média


Na Idade Média, época em que a sociedade ocidental era extremamente teocêntrica (ou seja, Deus era usado como explicação para tudo), a liberdade passou a ser possível para todos, uma vez que somente o Reino de Deus traria essa liberdade e todos, através da cristandade, poderiam alcançá-la.

O livre arbítrio foi pensado por Santo Agostinho. Para ele, tal ideia era relativa à possibilidade do ser humano de trilhar o próprio caminho e de fazer suas próprias escolhas. Influenciado pelo catolicismo, ele considerava que somente quem fizesse as “escolhas certas”, ou seja, não pecasse, poderia alcançar a liberdade maior, do Reino dos Céus.

A liberdade na Idade Moderna


Na Idade Moderna a discussão acerca da liberdade foi ampliada e muitos filósofos passaram a discutí-la. Foi nessa era que esse conceito começou a ser associado mais diretamente à política. Filósofos iluministas, como Jean-Jacques Russeau e John Locke, consideravam que a liberdade era imprescindível para a sobrevivência dos seres humanos. Locke, inclusive, é o primeiro filósofo a diferenciar a liberdade natural - relativa ao homem estar livre de qualquer poder superior na terra; da liberdade civil - relativa ao homem estar livre de qualquer obrigação jurídica.
 
Alguns filosófos recuperam ideias de liberdade de outras eras. Hobbes recupera Aristóteles e afirma que a liberdade seria a ausência de impedimentos externos para que se realize a vontade do homem. Descartes, que recupera os conceitos de Platão e Santo Agostinho, traz à tona novamente a noção de livrearbítrio, dessa vez fora do sentido estritamente religioso.
 
Outra noção importante, relacionada à liberdade e surgida da modernidade é a de indivíduo. Hegel e Nietzsche basearam suas ideias relativas ao que é ser livre a partir desse conceito. Para o primeiro, a liberdade estaria ligada à afirmação de sujeito e das suas vontades. Para o segundo, ela está relacionada ao poder do
homem em criar novos valores, uma vez que, para ele, a moralidade em si não existiria.
 

A liberdade na contemporaneidade

A contemporaneidade traz consigo uma grande novidade em termos de caracterização da liberdade: pela primeira vez ela passou a ser vista como negativa. Para Jean Paul Sartre, o homem estaria condenado a ser livre, uma vez que ele, através de suas escolhas, formaria a si mesmo e se definiria. A liberdade ganha caráter negativo em sua filosofia a partir da ideia de que a cada escolha, várias renúncias de possibilidades seriam feitas e, assim, o homem carregaria consigo a responsabilidade por suas ações.
 
Na mesma época surgiram críticos a essa filosofia sartriana, apontando o fato de que ele ignorou certos fatores sociais, políticos e culturais que condicionariam o homem em suas escolhas, refutando o fato de que a liberdade seria incondicional ao homem.