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Teoria sociológica

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Teias de interdependência

Processo civilizador

Consequências não intencionais

Autocontrole

Norbert Elias foi um dos sociólogos mais importantes da contemporaneidade. Alemão, de Breslau (1897 – 1990) e de família judaica, precisou - quando Hitler se tornou chanceler da Alemanha - fugir e exilar-se na França em 1933, estabelecendo-se posteriormente na Inglaterra onde passou grande parte de sua vida. Infelizmente, seus trabalhos só tiveram reconhecimento muito tardiamente (apenas após a sua morte). As obras de Elias destacaram-se por tratar da relação entre poder, comportamento, emoção e educação, abarcando conhecimento sociológico, psicológico, antropológico e histórico. Suas principais obras são “O processo civilizador” e “A sociedade dos indivíduos”, onde ele define sua nova forma de compreender a relação entre os indivíduos e a sociedade.

O sociólogo Norbert Elias tem diversas teorias e conceitos muito interessantes de serem estudados – a maioria que trata, de forma direta ou indireta, da construção do comportamento dos indivíduos e a relação deste com o jogo de poder estabelecido nas sociedades contemporâneas e suas problemáticas na formação dos costumes. No entanto, neste texto, apresenta-se a análise de Elias que mais ganha destaque nos vestibulares, a saber: Sua teoria sobre a sociedade dos indivíduos. Para tal tarefa, vamos lembrar quais são as duas teorias clássicas sobre a relação sociedade x indivíduos?

Tradicionalmente, aprendemos sobre duas teorias antagônicas sobre a relação entre a sociedade e os indivíduos e suas influências nos comportamentos - a que foi criada por Durkheim e valoriza a sociedade e a que foi criada por Max Weber e define os indivíduos como sendo mais importantes nesse processo. A primeira, fundamentada por Durkheim, defende que é a sociedade que define o comportamento dos indivíduos e que os valores culturais são incutidos nos indivíduos desde muito cedo a partir da educação – com o auxílio das instituições sociais. Durkheim chama esse fenômeno de fato social e alega que suas três principais características são: ser coercitivo, geral e externo. A segunda teoria que aborda as relações sociedade x indivíduo x produção do comportamento foi criada por Weber e, ao contrário da de Durkheim, defende que os costumes são criados no interior de cada indivíduo e que este só ganha sentido quando é exteriorizado e é percebido que outras várias pessoas pensaram o mesmo, Weber chama esse fenômeno de ação social.

Para Norbert Elias, ambas as teorias são problemáticas, pois na contemporaneidade essa dicotomia sociedade x indivíduo já não é mais aceitável, uma vez que um acaba definindo o outro simultaneamente e de forma proveitosa. O indivíduo que cria a estrutura social e, ao mesmo tempo, o todo dessa estrutura acaba tendo um papel importante na definição dos comportamentos coletivos e individuais. Na obra: “Sociologia em movimento” os autores dizem assim: “Neste sentido, o indivíduo elabora estratégias para alcançar objetivos, mas os objetivos que são socialmente validados pelas estruturas sociais construídas historicamente. Considere-se o exemplo das leis, que especificam limites para a escolha individual ao mesmo tempo que também protegem os indivíduos.”

Habitus, teias e configurações
Norbert Elias colabora com o passo seguinte das ciências sociais, que pode ser resumido em tentar resolver o problema agente x estrutura. O conceito de “Habitus” é criado visando solucionar essa questão. Elias também colabora na formação desse conceito, afirmando que habitus é uma internalização de componentes sociais, que permite o surgimento de um “eu” com determinadas características. O sociólogo defende que a separação de indivíduo e sociedade em entidades diferentes promove uma confusão na compreensão dos fenômenos sociais. Para Elias, sociedade e indivíduos são processos. Eles são diferentes, mas indissociáveis. Elias atribuí a sociedade de corte da Idade Média o início de internalização do habitus típico da sociedade moderna, de constrangimento e vergonha.

Nesse momento histórico os indivíduos passaram a formar suas consciências e comportamentos a partir de imposições sociais e culturais. Assim o habitus se constitui como a observação de regras sociais de maneira inconsciente, que são incutidas nas personalidades dos indivíduos durante sua formação como seres sociais.

O conceito de habitus está totalmente ligado à como Elias concebe a formação social. Para ele os indivíduos formam teias de interdependência, relações sociais em que os indivíduos seguem regras de comportamento e realizam trocas variadas. Essas teias são exemplificadas por Elias como uma dança, sendo os passos o habitus. Se um indivíduo erra um passo ou muda o planejado, interfere no decorrer da dança. Somando-se ao conceito de teias de interdependência temos a configuração social. A configuração é a forma como a teia de interdependência se manifesta, sendo grupos mais tradicionais famílias, aldeias, cidades etc. e há grupos considerados inovadores como gangues, turmas etc. Dentro da configuração ocorrem teias de interdependência baseadas em habitus que as sustentam. Como podemos observar, além de dinâmica, a teoria sociológica de Elias é concisa e integrada. Para Elias, a sociedade se forma a partir de relações entre “eu”, “tu”, “nós” e “eles” e a dependência que temos uns dos outros. Somos indivíduos diferentes que nos tornamos iguais por dependermos uns dos outros. Não há como conceber indivíduos e a sociedade separados já que os dois são componentes da nossa existência. Um pensamento inovador por conseguir dar prosseguimento no desenvolvimento da teoria sociológica.