Estética: revisão
O conceito de mímesis
A mímesis para Platão
A mímeses para Aristóteles
A estética constitui-se como um dos principais campos de investigação e interpretação ao longo da história do pensamento filosófico. Ela tem suas raízes na Antiguidade grega, principalmente através do pensamento de Platão e de Aristóteles, mas ganhou novas e desafiadoras abordagens na modernidade, sobretudo na filosofia de Immanuel Kant e Hegel. Inicialmente, explicaremos o que é a estética enquanto área específica da filosofia, para podermos, em seguida, fazer um panorama do pensamento estético na antiguidade (Platão e Aristóteles) e do pensamento estético elaborado pela filosofia moderna (Kant e Hegel).
A estética é a área da filosofia que investiga, fundamentalmente, sobre a arte e o conceito do belo. A palavra “estética” vem do grego aisthesis, que significa – dentre outras coisas – “faculdade de sentir” ou “compreensão pelos sentidos”. Assim, as questões mais centrais da estética são: O que é a arte? É possível defini-la ou ela escapa a toda e qualquer definição última? Qual é o papel da arte nas sociedades humanas? Quais os seus limites? Já em relação ao conceito do belo, a estética tenta responder: A beleza pode ser definida? Ela se encontra no objeto observado ou no sujeito que a contempla? Como interpretar os padrões de beleza que surgem em dados contextos culturais? Veremos agora algumas das respostas possíveis a tais questões nas filosofias de Platão, Aristóteles, Kant e Hegel.
Para falarmos da estética grega antiga, devemos nos recordar do tipo de arte que, em geral, era realizado naquele contexto histórico. Trata-se da arte naturalista, em que a imitação da realidade constituía grande parte do trabalho dos artistas gregos. Como exemplo, podemos citar as esculturas gregas que imitavam os heróis olímpicos, como a famosa obra Discóbolo do artista grego Miron. Segundo Platão, a arte é entendida justamente como “mimesis”, ou seja, como “imitação” da realidade.
No entanto, para entender a estética platônica precisamos ter em mente sua famosa teoria das ideias, que afirma que há dois mundos: o mundo da ideias - onde se encontra a Realidade, a Verdade, a Essência de tudo o que existe, e o mundo sensível – onde observamos as cópias ou imitações dos modelos universais inteligíveis. Aplicando a teoria das ideias na compreensão da arte, Platão defende que o artista está a três pontos de distância da verdade, ou seja, que ele está muito longe de ter uma compreensão verdadeira sobre a realidade. Ele é apenas um imitador, um criador de “simulacros” e, portanto, deve ser expulso da cidade Ideal que Platão defende em sua grande obra, “A República”.
Com efeito, o artista imita as coisas do mundo sensível, por exemplo, um pintor pinta uma cama particular que ele observa, buscando a máxima perfeição em sua obra. No entanto, a cama que ele observa para imitar através de uma pintura é, de acordo com a teoria das ideias, uma cópia imperfeita da Ideia de cama. Conclusão: de acordo com Platão, o artista faz a cópia da cópia, ou seja, imita coisas (do mundo sensível) que já são cópias (do mundo inteligível). É neste sentido que o filósofo ateniense defende que a arte está a três pontos de distância da Verdade e que, portanto, deve ser vigiada, controlada, pois o artista seria perigoso dentro de uma sociedade voltada para o conhecimento racional, como aquela imaginada por Platão.
Aristóteles, por sua vez, reconhece, juntamente com Platão, que a arte é “mimesis” (imitação). No entanto, ele tenta mostrar que, enquanto imitação, a arte pode ter um papel educativo positivo, diferentemente de Platão, que reforça o lado negativo da imitação, como algo que está aquém ou distante da realidade. Neste sentido, Aristóteles reconhece o valor da arte e nos remete, por exemplo, à forma como somos educados através da imitação, como todo o nosso aprendizado inicial, por exemplo, ocorre pela observação e pela imitação. Enquanto potência produtiva, portanto, a arte nos diz sobre como as coisas poderiam acontecer, nos fazendo refletir e aprender através dessas experiências estéticas.