Primeira etapa
Leitura atenta
Organização
Finalização
Dicas
Você já esteve ou se imaginou em uma situação-limite como o momento da realização da prova de Redação no vestibular? É fácil imaginar os “estágios” dessa ocasião tão peculiar em nossas vidas: certa tensão no ar, o silêncio imperando na sala, os minutos do relógio passando tão lenta e, ao mesmo tempo, tão rapidamente, num paradoxo angustiante. Nesse contexto, apenas um aspecto vem a sua mente: resolver a prova a todo custo! Escrever é a regra do jogo, e você deve fazer isso de forma consciente, constante e organizada. Então, você começa a escrever tudo aquilo que foi aprendido, todas as referências lidas, todas as reflexões feitas em sala de aula... Enfim, tudo o que você sabe e que diga respeito ao tema proposto pela banca. Desse modo, a nota atribuída pelo corretor será boa, certo? Errado. Infelizmente, a melhor estratégia não é a descrita acima.
De fato, uma prova de Redação só será corrigida se houver um “caderno de respostas” devidamente preenchido. No entanto, os alunos têm a (falsa) impressão de que somente no momento em que a caneta é utilizada na folha de prova é que esta está sendo resolvida. Na verdade, a tarefa de produção textual é muito mais complexa, e necessita de uma fase “pré-textual” talvez até mais demorada que a fase de escritura em si. Explique-se: do mesmo modo que um edifício ou uma viagem, para darem certo, devem ser pensados e planejados com antecedência (quantos pavimentos vão existir, o perímetro a ser construído, a disposição dos cômodos, entre outros, no caso do edifício; o meio de transporte utilizado, o número de dias, a programação a ser “conferida”, no caso da viagem), um texto também só produzirá o efeito esperado se tiver passado por uma fase de preparação. Essa fase pode ser dividida, para fins didáticos, em quatro etapas distintas, que, se percorridas com o devido cuidado, permitirão ao candidato um gigantesco salto de qualidade no que tange à apreciação da banca. Vamos a elas?
As Etapas de Preparação
Etapa 1: Interpretação da proposta de tema.
É preciso ressaltar, antes de tudo, que a primeira etapa talvez seja a mais importante de todas. Isso porque, se o candidato não tiver conseguido apreender na totalidade aquilo que a banca colocou em discussão, sempre será aplicado algum tipo de penalidade. Essa “falha” do vestibulando é o que chamamos de fuga ao tema. A fuga pode ser total ou parcial: no primeiro caso, a redação é anulada pela banca (como corrigir um texto que não versa sobre o que foi pedido? Como compará-lo com os demais?) e, obviamente, a nota correspondente é zero; no segundo caso, as possibilidades de erro são inúmeras, com as penalizações variando na mesma medida.
Para que esse tipo de problema não ocorra, é preciso que nos atenhamos a aspectos extremamente importantes, abaixo discriminados.
1. Dê atenção total a cada uma das palavras que compõem o tema. A banca teve cerca de um ano para pensar na proposta e, se aquelas palavras foram utilizadas, cada uma delas desempenha uma função específica dentro do contexto. Para que a apreensão dos sentidos da proposta seja completa – impedindo que ocorra fuga ao tema – esses sentidos específicos devem ser inter-relacionados para a composição do todo.
2. Muito cuidado para não confundir tema e assunto. A falta de distinção pode levar o aluno a uma falha bastante grave. O assunto pode ser uma referência genérica ou um fato específico; o que o diferencia do tema é que este último é uma discussão direcionada, construída a partir do assunto escolhido. Para maior entendimento, observe os exemplos abaixo:
Ex. 1 – Assunto: educação dos surdos
Tema: Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil. (ENEM 2017)
Ex. 2 – Assunto: intolerância religiosa
Tema: Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil. (ENEM 2016)
Em ambos os exemplos, fica clara a distinção entre tema e assunto. No primeiro, o assunto vem com uma referência genérica (educação dos surdos), enquanto o tema traz uma discussão mais direcionada, um recorte em que se questionam os desafios na formação educacional dos surdos, delimitando o Brasil como o espaço de análise. No segundo, os casos de intolerância religiosa divulgados em 2016 é o assunto usado como pretexto para trazer à tona a verdadeira discussão: os caminhos para combater, nos dias de hoje, a intolerância religiosa no Brasil.
Etapa 2: Listagem de ideias, exemplos, referências e argumentos.
Em síntese, nesta etapa você deve elencar em uma folha de ‘rascunho’ toda e qualquer referência que sobrevier acerca do tema abordado. É o que chamamos de brainstorm – tempestade cerebral. Esse trabalho possui dupla função: primeiro, impedir que uma boa ideia seja esquecida no momento de escritura do texto; segundo, permitir ao candidato que suas referências sobre o tema sejam mais bem visualizadas e, com isso, a organização das mesmas possa ser mais eficiente.
Etapa 3: Organização e seleção das ideias.
Neste momento, você já “passou para o papel” todo o seu conhecimento sobre a proposta de tema. Como você está bem preparado, as referências são muitas e é praticamente impossível que todas elas façam parte do texto final, sob pena de este tornar-se muito superficial. Por isso, deve-se proceder à seleção das melhores ideias, organizadas e associadas entre si, de modo a que a máxima coerência possível seja obtida.
Etapa 4: Roteiro da redação.
Trata-se do último momento pré-textual. Depois de todo o processo anterior, você já deve ter percebido que alguns “parágrafos” começam a se definir. Agora, é necessário preparar as linhas gerais da introdução, a ordem mais adequada para os parágrafos argumentativos que vão compor o desenvolvimento e o encaminhamento da conclusão.
Somente depois de observadas essas quatro etapas é que o candidato deverá começar a escrever. Lembre-se: quanto mais tempo for investido no planejamento do texto, menos tempo será gasto na escritura propriamente dita. Isso porque um texto bem planejado “flui” muito mais do que aquele feito “na hora” - em que o aluno acaba “empacando” inúmeras vezes.
Dica: O “descanso" do texto
Nos meios acadêmico e literário, fala-se muito do processo de “deixar o texto dormir” ou “colocar o texto para descansar”. Em poucas palavras, isso significa que devemos, em certo momento, deixar a nossa produção de lado por um instante, a fim de avaliá-la com certo distanciamento, certa frieza, facilitando a identificação de erros.
Na redação do vestibular, essa estratégia é bem interessante, uma vez que o aluno, depois de tanto ler o mesmo texto pronto, não percebe muitos defeitos na argumentação e na própria forma (letras “comidas”, pontuações equivocadas, palavras repetidas, etc).
O processo é simples: o candidato pode finalizar a etapa de rascunho, deixar o texto de lado e se dedicar a certo número de questões da prova. Depois de algum tempo, pode, por fim, voltar ao texto e, com certeza, perceberá os problemas antes escondidos e deixará a redação mais “polida”. Experimente fazer isso.
No link a seguir, há um exemplo de como os professores do Descomplica sugeriram o planejamento textual para o tema de 2016: “Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil”.
Link: https://descomplica.com.br/gabarito-enem/questoes/2016/segundo-dia/caminhos-para-combater-intolerancia-religiosa-no-brasil/
Veremos, também, como seria uma ideia de um planejamento textual para o tema “O perigo dos “stalkers virtuais” no século XXI
I. Análise da frase tema: Os perigos dos “stalkers virtuais” no século XXI
- Perigos = efeitos negativos; riscos; ameaças; malefícios
- “Stalkers virtuais” = perseguidores que bsucam informações utilizando a internet e as ferramentas virtuais;
- Século XXI = atualidade; contemporaneidade.
II. Listagem de ideais, referências e argumentos
- Série “You”
- 1984 (George Orwell)
- Fotos intimas vazadas: Lei “Carolina Dieckmann”
- Pessoas se expõem demais em redes sociais atualmente
- Além da perseguição virtual, os “stalkers” podem usar as informações para cometer crimes de pedofilia, feminicídio e roubos
- Difícil controle do que acontece na rede;
III. Seleção das ideias que serão utilizadas e roteiro do texto
Introdução: Contextualização: Série “Você”; Tese: é necessária uma análise crítica sobre a exposição no ambiente virtual, além de pensar em formas de combater os “stalkers”.
Desenvolvimento 1: Exposição exagerada + paralel entre 1984 e a vigilância nas redes sociais + consequências;
Desenvolvimento 2: Banalização do ato de “stalker” + não há muitas leis para o uso da internet + argumento de autoridade (Hannah Arendt) + consequência;
Conclusão: Retomada da tese + Propostas de intervenção:
PI (1): Mídia + Ministério da tecnologia: campanhas informativas – informar sobre os perigos da exposição virtual – conscientizar a população e prevenir os abusos e assédios.
PI (2): Congresso Nacional – criação e leis que punam as perseguições virtuais.
Não se esqueça de fazer o rascunho, após planejar o roteiro do texto, e deixa-lo “descansar” antes de passar a limpo.