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Questão 1 - Empirismo

Neste vídeo a professora Larissa resolve uma questão de vestibular sobre empirismo.

Questão 2 - Empirismo e Racionalismo

Questão 3 - Pensamento Moderno

Questão 4 - Teoria do Conhecimento

Questão 5 - Dogmatismo

Questão 6 - Possibilidades do Conhecimento

René Descartes

René Descartes é um pensador de um período considerado transitório. Suas ideias ajudaram a formular a Revolução Científica que se estende da Renascença ao Iluminismo. Além dos métodos propostos pelo pensador, uma grande contribuição é a matematização da filosofia. Descartes defendia que todo o pensamento deveria seguir a lógica matemática. Não que pensasse o mundo através dos números, mas que o funcionamento do pensamento matemático deveria ser admitido pela filosofia por completo, onde uma verdade levasse consequentemente à outra pela lógica dedutiva.

Dúvida metódica

Apesar de criticar o ceticismo, Descartes reconhece a importância da dúvida na produção do conhecimento filosófico. Afinal, conhecimento sem reflexão é opinião, não há o que justifique esse conhecimento como verdadeiro. Por isso, Descartes faz uso da dúvida como instrumento, transformando a proposta do ceticismo numa etapa na construção do conhecimento e não na conclusão final sobre ele.

A dúvida de Descartes pode ser chamada de metódica porque é ordenada, lógica, tem um desenvolvimento controlado com um determinado fim. E é radical porque atinge todo o conhecimento que temos. Por isso, a dúvida também pode ser chamada de hiperbólica (exagerada). Para não deixar nada de fora, Descartes duvidou da própria existência. Vamos então as etapas dessa dúvida metódica.


1ª dúvida (argumento dos sentidos): Já fui mais de uma vez enganado por minha sensibilidade. Ora, se os sentidos já me enganaram uma vez, que garantia tenho eu de que não me enganarão novamente?

O que sobrevive: as impressões sensíveis mais fortes (de minha própria existência, por exemplo) 

2ª dúvida (argumento do sonho): Já tive a experiência, inúmeras vezes, de sonhos intensos, que me pareciam profundamente reais. Ora, se já estive dormindo e cria estar dormindo, o que me garante que não estou dormindo agora?

O que resiste: os elementos básicos da percepção sensível (cor, tamanho, textura, tempo, etc.) e as verdades matemáticas

3ª dúvida (argumento do gênio maligno): Ora, e se houver uma ser todo-poderoso que me engana a cada vez em que eu julgo possuir um conhecimento verdadeiro? É possível concebê-lo, portanto é razoável duvidar.

O que resta: aparentemente nada 

Conclusões a partir da dúvida – Cogito ergo sum

Mas, pensando bem, encontramos uma certeza em meio a tanta dúvida. Se estou duvidando, estou pensando. Ora, se para duvidar é preciso pensar e só posso pensar se existir, duvidar da minha existência confirma exatamente o contrário, eu existo! (argumento do “cogito” -> “Penso, logo existo = “Cogito, ergo sum”). Há agora um ponto fixo indubitável. Com base na certeza da sua existência, Descartes passa a deduzir uma série de outras certezas (matematização). As mais importantes verdades que Descartes acreditou provar a partir daí foram: 

 - Se é através da minha capacidade de pensar que posso garantir a minha própria existência,, é esta capacidade de me pensar que define: minha essência é a racionalidade, é a capacidade de pensar. 

 - Dentre todas as ideias que possuo, ainda sem saber se existe algo além de mim, há uma ideia diferente de todas as outras: é a ideia de Deus. Esta ideia se diferencia por não dizer respeito a um ser finito, como as outras, mas sim a um ser infinito. Ora, de onde pode me ter vindo esta ideia? Ela não pode ter vindo de mim, pois eu sou um ser finito, enquanto esta ideia é infinita. Como o menor não pode dar origem ao maior, então o finito não pode gerar o infinito. Assim, essa ideia não pode ter sido gerada por mim. Há, portanto, um Ser infinito que pôs esta ideia em mim. A este ser chama-se Deus. Sendo infinito, Deus possui necessariamente todas as perfeições, tanto de poder, quanto morais. 

  - Prosseguindo, se há um Deus perfeitamente poderoso e bom, então o mundo à nossa volta também existe de fato, pois um Deus assim não permitiria que eu me enganasse tão radicalmente a respeito da realidade. É compatível com a bondade infinita de um ser todo-poderoso permitir que eu me engane às vezes, mas não que eu me engane sempre. Graças a Deus, portanto, pode-se dizer com certeza que o mundo exterior à minha mente é real.

 - Por fim, se foi a descoberta do cogito, isto é, se foi a descoberta de minha capacidade racional que legitimou todo o meu saber obtido de modo seguro, e, ao contrário, tudo o que eu percebia pelos sentidos era desconfiável, então não há dúvida de que a razão é o fundamento último do conhecimento humano e que só ela nos dá segurança na busca da verdade. Os sentidos, ao contrário, só têm valor sob o comando da razão. Dessas conclusões Descartes estabelece então que:


• No mundo há apenas duas substâncias, res cogitans e res extensa.

• A res cogitans é a esfera da consciência, da razão e da ideia.

• A res extensa é o mundo material, conhecível, mas não confiável.

• O ser humano é composto pelas duas, sendo sua parte essencial a res cogitans

• Deus é uma substância especial, ou separada da existência mundana. Descartes a chama de res infinita, definida pelas características que já foram apresentadas.

Racionalismo cartesiano

O racionalismo é uma corrente filosófica da Teoria do Conhecimento, área da Filosofia que de dedica a discutir as origens e possibilidades do conhecimento. Nessa corrente a origem do conhecimento está na razão. Os sentidos não são confiáveis para produzir um conhecimento verdadeiro. O que embasaria, no final das contas, a verdade seria o processo lógico da mente. Essa percepção de Descartes o leva a crer que há ideias inatas perfeitamente racionais, isentas da influência das percepções sensoriais, tais quais as ideias matemáticas e noções categóricas como movimento e extensão. Esse processo lógico também tinha um método, conhecido por nós como método cartesiano. Nele há quatro regras básicas que levariam até a verdade, são elas:


Regra da evidência: Só pode receber o valor de verdade aquilo que seja evidente. Aqui evidente não é o que é óbvio ou o que está exposto à nós pelos sentidos, já que estes não são confiáveis. Evidente é aquilo que é claro e distinto.

Regra da análise: A compreensão deve ser metodologicamente facilitada. Analisar algo em toda a sua complexidade pode impedir ou atrapalhar a resolução de um problema. Por isso, Descartes defende dividir as dificuldades em partes menores para ajudar na solução.

Regra da síntese: Depois de dividir, reordenar o raciocínio para a solução, do mais simples para o mais complexo.

Regra da enumeração: Verificar o que se está abordando e as conclusões obtidas para que nada fique de fora.

John Locke e a mente como uma tábula rasa

John Locke (1632-1704) foi um filósofo inglês. Ele desenvolveu suas teorias sobre a origem e o alcance do conhecimento em sua obra “Ensaios sobre o entendimento humano”. Para ele, não existem ideias inatas (ideias que já nasceriam com o homem, como por exemplo a ideia de Deus), o homem nasce como uma tábula rasa, desprovido de qualquer conhecimento, sem nenhuma ideia pré-formada em sua alma. Nada existe na mente humana que não tenha passado pelos sentidos. A esse ponto é redundante dizer que Locke foi um crítico potente do racionalismo e sua proposta baseada na razão.

Para Locke o conhecimento é adquirido ao longo da vida através da experiência sensível imediata e seu processamento interno. Nós interagimos com os objetos e com os fenômenos e produzimos ideias a partir dessa interação. Locke vai defender que nossas ideias serão criadas empiricamente a partir da sensação e da reflexão.

         Num primeiro estágio, nossas ideias são criadas pela sensação, cujo estímulo externo é oriundo de modificações na mente feitas pelos sentidos em uma experiência qualquer.  Assim, através da sensação percebemos as qualidades (primárias ou secundárias) das coisas. Tais qualidades podem produzir ideias em nós.

As qualidades primárias são sempre objetivas, ou seja, existem realmente nas coisas independentemente do sujeito que as contempla. Como exemplo temos o movimento, o repouso, o número, a configuração, a extensão, entre outros.  Já as qualidades secundárias são aquelas que variam de acordo com o sujeito e que são, portanto, subjetivas.  Como exemplo temos a cor, o som, o saber, entre outros.

Num segundo estágio tudo é processado internamente. É nesse momento que a alma processa os objetos apreendidos pelos sentidos. As ideias nesse estágio resultam da combinação e associação das sensações de reflexão. A mente sintetiza e gera uma série de ideias que não passíveis de surgir a partir da experiência. Processos como, nas palavras de Locke, a percepção, o pensamento, o duvidar, o crer, o raciocinar. A reflexão seria o equivalente aos sentidos na produção de ideias, mas agindo no nosso interior, tendo como matéria-prima o conhecimento que absorvemos das experiências e desempenhando um processo complexo e cada vez mais aprofundado que culmina na reflexão sobre as próprias operações da mente.  Por esse pressuposto percebemos que o conhecimento vai de coisas mais simples para as mais complicadas e sempre de fora para dentro.

Francis Bacon e o Método indutivo

O filósofo Francis Bacon (1561-1626) foi um importante intelectual de sua época, tendo também participado da vida política, chegando a ser chanceler no governo do rei Jaime I. Como filósofo, foi grande crítico da ciência dedutiva Aristotélica, alegando que para o desenvolvimento da ciência era necessário ter um método de descoberta e análise mais eficiente, focado numa investigação mais rigorosa, precisa e empírica, com como ocorre no método indutivo.

Para Bacon a ciência era uma técnica e os conhecimentos científicos deveriam servir ao homem no objetivo de dominar a natureza e reinstaurar o que ele chamou de Imperium Hominis (império do homem) sobre as coisas. Inclusive se atribui a Bacon o lema “saber é poder” com vistas a realizar o controle do homem sobre a natureza com o objetivo de expandir a prosperidade humana.

O método indutivo de Bacon critica a análise da natureza baseada no aristotelismo. Suas conclusões acerca do conhecimento dão conta da necessidade de experimentar os fatos, um a um, o máximo possível, para os interpretar e induzir leis gerais, ou seja, esse método sempre parte do particular para o geral. Para ele, toda filosofia anterior se baseava num método de antecipação dos fatos e não da real interpretação da natureza. O método indutivo de Bacon se divide em quatro etapas:

• Coleta de informações a partir da observação rigorosa e atenta da natureza;

• Reunião e organização sistemática e racional dos dados recolhidos pela experiência e observação;

• Formulação de hipóteses (explicações gerais) segundo a análise dos dados recolhidos e que possam levar à compreensão dos fenômenos;

• Testagem para comprovação ou refutação das hipóteses a partir de experimentações.

A teoria dos ídolos

Bacon vai iniciar sua reflexão acerca do conhecimento humano alegando que certos preconceitos, noções erradas, dificultam a apreensão correta que temos sobre a realidade. Esses preconceitos serão chamados por ele de ídolos. A ciência deveria ser objetiva e produzir efeitos reais na vida do ser humano. Para que procedessem corretamente, os cientistas deveriam se afastar dos possíveis enganos do pensamento. O termo ídolo vem de eidolon (que em grego significa imagem, simulacro ou fantasma). Bacon está tentando usar o sentido de “vazio” da palavra ídolo. Assim Bacon atribui à palavra ídolo no contexto de sua teoria o sentido de “erro habitual, preconceito, noção enganosa e equívoco”. Para bacon há quatro tipos de ídolo:

Os ídolos da tribo:  A palavra “tribo” aqui faz referência à espécie humana, ou seja, os ídolos da tribo são aqueles preconceitos que surgem nas comunidades como verdades dadas e não questionadas.  Nesse sentido, os “ídolos da tribo” se diferenciam do espírito científico, na medida em que as hipóteses levantadas pela ciência precisam estar de acordo com os fatos. 

Os ídolos da caverna: Os ídolos da caverna têm sua origem não na comunidade, como os “ídolos da tribo”, mas sim em cada pessoa ou indivíduo.  Assim, por conta das características individuais, ou mesmo por causa da educação a que um indivíduo é submetido, serão geradas falsas ideias às quais a ciência precisa se opor. 

Os ídolos do foro: Os ídolos do foro ou do mercado são aqueles que decorrem da linguagem, através da qual são atribuídas palavras a certas coisas que são inexistentes ou mesmo palavras confusas a coisas que existem. Nesse sentido, há diversas controvérsias as quais nos apegamos apenas por questões linguísticas.  Como exemplo, temos palavras que se referem a coisas inexistentes como “primeiro motor”.

Os ídolos do teatro: Os ídolos do teatro se referem às teorias ou reflexões filosóficas que, muitas vezes, estão mescladas com a teologia, com o saber comum e, até mesmo, com superstições profundamente arraigadas.  Nesse sentido, ele compara os sistemas filosóficos a fábulas que poderiam ser representadas no palco.

David Hume: Empirismo e ceticismo

David Hume nasceu na Escócia em 1711. Ele foi o maior expoente do iluminismo escocês e um dos principais filósofos britânicos do empirismo. Além de um empirista radical, Hume também foi reconhecido por seu ceticismo filosófico. Seu ceticismo é crítico aos outros pensadores empiristas que acreditavam na possibilidade de um conhecimento verdadeiro, mas sua crítica se direciona principalmente à Descartes e seu pensamento teológico-metafísico.

 A questão da validade do conhecimento

David Hume é um pensador cético, ou seja, ele duvida que possa haver qualquer conhecimento indubitável. Assim, o entendimento humano possui limites bastante estreitos, afinal de contas estamos submetidos aos sentidos e aos hábitos, o que nos leva a produzir conhecimentos que, na melhor das hipóteses, são apenas prováveis, mas nunca certezas absolutas.  Hume questiona o princípio de causalidade, bem como a metafísica existente na sua época.

Em linhas gerais, ceticismo é justamente a dúvida ou suspeita sobre todo e qualquer tipo de conhecimento. O cético, portanto, é aquele que duvida da possibilidade do conhecimento verdadeiro, restando-nos apenas, como dissemos acima, conhecimentos prováveis. O ceticismo humeano nasce na medida em que ele defende que todo conhecimento humano provém das experiências que temos através de nossos sentidos.  Não há, seguindo esse ponto de vista, uma razão pura capaz de encontrar uma base sólida para um conhecimento inquestionável ou indubitável.  Se, portanto, o conhecimento provém da experiência (tese empirista), e a experiência sensível é variável, logo nenhum conhecimento pode ter uma pretensão universal de validade.

A questão da origem do conhecimento

O conhecimento, segundo Hume, deriva sempre de percepções individuais, que podem ser impressões ou ideias. A diferença entre impressões e ideias é apenas o grau de vivacidade com o qual afetam nossa mente.  De um lado, as impressões são percepções originárias e que, por isso mesmo, são mais vivas, como por exemplo, ver, ouvir, sentir dor, etc. De outro lado, as ideias são percepções mais fracas por serem derivadas, por serem “pálidas cópias” das impressões. Desse esquema conceitual podemos concluir que, segundo David Hume, não há ideias inatas em nossa mente, isto é, ideias que teriam nascido conosco e que seriam, portanto, independentes da experiência. Toda ideia que existe em nossa mente é derivada das nossas impressões.

Há, no entanto, ideias complexas, que nascem da associação entre ideias através da nossa imaginação.  Assim, se combinamos em nossa mente a ideia de lobo, por exemplo, com a ideia de homem, podemos formar a ideia de “lobisomem”. Essas associações se sucedem na vida psíquica do ser humano, combinando-se por semelhança, contiguidade ou causalidade.

A associação por semelhança ocorre quando uma impressão se liga à uma ideia anterior já contida na mente, como uma rememoração. Hume exemplifica que uma pintura sobre um lugar ou uma pessoa nos remeteria a pensar sobre o lugar ou pessoa em si. Já a contiguidade no tempo e no espaço é uma associação relacionada à conexão possível entre os objetos que geram as percepções e ideias. Pensar num cômodo de uma casa pode levar a pensar no restante dos cômodos, assim como pensar em um lápis pode levar a pensar em uma borracha. E a associação por causalidade ocorre quando se observa uma relação entre causa e efeito, percebendo as impressões geradas por essa relação ou remetendo às ideias já consolidadas sobre o evento. Hume exemplifica a ferida como exemplo de causalidade, pois pensar numa ferida invariavelmente leva a pensar sobre a dor conseguinte.

O problema da causalidade.

A crítica à noção de causalidade nasce da confusão que Hume afirma ser comum na observação dos fenômenos. Para que a associação de causalidade (conexão necessária entre dois fenômenos) pudesse ser considerada como válida seria preciso haver uma impressão anterior que lhe desse origem.  No entanto, para Hume, não há nenhuma impressão correspondente à noção de causalidade.  

Isso significa, então, que as relações de causalidade entre fenômenos se referem ao nosso hábito de pensarmos esses fenômenos como ligados um ao outro, mas não a uma relação real entre objetos externos a nós.  O exemplo mais famoso que Hume utiliza para explicar essa teoria é o seguinte: Por mais que sempre tenhamos associado ao nascer de um novo dia ao nascimento do sol, isso não significa que essa conjunção de fenômenos seja necessária.  Nada garante a necessidade do surgimento do sol no dia de amanhã. 

Assim, o máximo que podemos alcançar, do ponto de vista do conhecimento, é uma grande probabilidade de que um evento ocorrerá ou não ocorrerá, mas nunca podemos extrair uma certeza, dado que não existe nenhum conhecimento a priori, isto é, independente de nossa experiência sensível.

Hume afirma que nós temos uma tendência interpretar nossas inferências como leis da natureza (é assim que o método indutivo funciona). Nossos hábitos e crenças nos fazem formular supostas leis e supostas conexões necessárias entre eventos que, em última análise, são apenas sucessões de fatos e sequência de eventos sem nenhum nexo causal.  Por termos habitualmente observado esses fenômenos se sucederem acreditamos que eles ocorrerão novamente, o que não é garantido segundo o filósofo escocês. Essa é a crítica ao método indutivo dirigida por Hume, pois, experimentar um fenômeno muitas vezes não transforma em indubitável o que é provável. No final, somos guiados por nossos hábitos.