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Introdução ao pensamento cartesiano

Neste vídeo, a professora Larissa apresenta uma breve introdução ao pensamento cartesiano.

Método cartesiano

Etapas do método

Metafísica

Exercício: método cartesiano

Exercício: Dúvida metódica.

René descartes é um pensador de um período considerado transitório. Suas ideias ajudaram a formular a Revolução Científica que se estende da Renascença ao Iluminismo. Teve acesso à formação intelectual, frustrando-se com as concepções filosóficas tomistas (que se baseavam majoritariamente em Aristóteles). Além dos métodos propostos pelo pensador, uma grande contribuição é a matematização da filosofia. Descartes defendia que todo o pensamento deveria seguir a lógica matemática. Não que pensasse o mundo através dos números, mas que o funcionamento do pensamento matemático deveria ser admitido pela filosofia por completo, onde uma verdade levasse consequentemente à outra pela lógica dedutiva.

O ambiente filosófico de seu período era hostil a esse pensamento. Diante da série de conflitos econômicos, sociais, científicos e religiosos que permeavam a Europa, vários filósofos passaram a defender o ceticismo, isto é, a doutrina filosófica segundo a qual não é possível obter nenhum conhecimento seguro a respeito do que quer que seja. No fim das contas, tudo é relativo e só nos resta a dúvida. 

Mas Descartes acreditava na existência e na possibilidade de alcançar a verdade. Por isso, ele buscou refutar o ceticismo, estabelecendo as bases fundamentais de um conhecimento absolutamente seguro e, garantindo, assim nossa possibilidade de compreender a realidade com segurança. Para tal, Descartes, baseado na sua concepção de filosofia, propõe uma postura inovadora e radical

Dúvida metódica

Apesar de criticar o ceticismo, Descartes reconhece a importância da dúvida na produção do conhecimento filosófico. Afinal, conhecimento sem reflexão é opinião, não há o que justifique esse conhecimento como verdadeiro. Por isso, Descartes faz uso da dúvida como instrumento, transformando a proposta do ceticismo numa etapa na construção do conhecimento e não na conclusão final sobre ele.

A dúvida de Descartes pode ser chamada de metódica porque é ordenada, lógica, tem um desenvolvimento controlado com um determinado fim. E é radical porque atinge todo o conhecimento que temos. Por isso, a dúvida também pode ser chamada de hiperbólica (exagerada). Para não deixar nada de fora, Descartes duvidou da própria existência. Vamos então as etapas dessa dúvida metódica.

  • 1ª dúvida (argumento dos sentidos): Já fui mais de uma vez enganado por minha sensibilidade. Ora, se os sentidos já me enganaram uma vez, que garantia tenho eu de que não me enganarão novamente?
    O que sobrevive: as impressões sensíveis mais fortes (de minha própria existência, por exemplo) 
  • 2ª dúvida (argumento do sonho): Já tive a experiência, inúmeras vezes, de sonhos intensos, que me pareciam profundamente reais. Ora, se já estive dormindo e cria estar dormindo, o que me garante que não estou dormindo agora?
    O que resiste: os elementos básicos da percepção sensível (cor, tamanho, textura, tempo, etc.) e as verdades matemáticas
  • 3ª dúvida (argumento do gênio maligno): Ora, e se houver uma ser todo-poderoso que me engana a cada vez em que eu julgo possuir um conhecimento verdadeiro? É possível concebê-lo, portanto é razoável duvidar.
    O que resta: aparentemente nada 


Mas, pensando bem, encontramos uma certeza em meio a tanta dúvida. Se estou duvidando, estou pensando. Ora, se para duvidar é preciso pensar e só posso pensar se existir, duvidar da minha existência confirma exatamente o contrário, eu existo! (argumento do “cogito” => “Penso, logo existo = “Cogito, ergo sum”). Há agora um ponto fixo indubitável. Com base na certeza da sua existência, Descartes passa a deduzir uma série de outras certezas (matematização). Nessa reconstrução do edifício do conhecimento, só que agora sob bases seguras, as mais importantes verdades que Descartes acreditou provar foram: 

Se é através da minha capacidade de pensar que posso garantir a minha própria existência, mesmo que eu ainda não saiba de qualquer outra coisa (nem se tenho corpo), portanto, é esta capacidade de me pensar que define: minha essência é a racionalidade, é a capacidade de pensar. 

Dentre todas as ideias que possuo, ainda sem saber se existe algo além de mim, há uma ideia diferente de todas as outras: é a ideia de Deus. Esta ideia se diferencia por não dizer respeito a um ser finito, como as outras, mas sim a um ser infinito. Ora, de onde pode me ter vindo esta ideia? Ela não pode ter vindo de mim, pois eu sou um ser finito, enquanto esta ideia é infinita. Como o menor não pode dar origem ao maior, então o finito não pode gerar o infinito. Assim, essa ideia não pode ter sido gerada por mim. Há, portanto, um Ser infinito que pôs esta ideia em mim. A este ser chama-se Deus. Sendo infinito, Deus possui necessariamente todas as perfeições, tanto de poder, quanto morais

Prosseguindo, se há um Deus perfeitamente poderoso e bom, então o mundo à nossa volta também existe de fato, pois um Deus assim não permitiria que eu me enganasse tão radicalmente a respeito da realidade. É compatível com a bondade infinita de um ser todo-poderoso permitir que eu me engane às vezes, mas não que eu me engane sempre. Graças a Deus, portanto, pode-se dizer com certeza que o mundo exterior à minha mente é real.

Por fim, se foi a descoberta do cogito, isto é, se foi a descoberta de minha capacidade racional que legitimou todo o meu saber obtido de modo seguro, e, ao contrário, tudo o que eu percebia pelos sentidos era desconfiável, então não há dúvida de que a razão é o fundamento último do conhecimento humano e que só ela nos dá segurança na busca da verdade. Os sentidos, ao contrário, só têm valor sob o comando da razão. Dessas conclusões Descartes estabelece então que:

  • No mundo há apenas duas substâncias, res cogitans e res extensa.
  • A res cogitans é a esfera da consciência, da razão e da ideia.
  • A res extensa é o mundo material, conhecível, mas não confiável.
  • O ser humano é composto pelas duas, sendo sua parte essencial a res cogitans
  • Deus é uma substância especial, ou separada da existência mundana. Descartes a chama de res infinita, definida pelas características que já foram apresentadas.
    Descartes formula então uma concepção metafísica dualista e idealista, onde a existência é formada por matéria e ideia, sendo a ideia (ou razão)  preponderante por ser confiável. 

Racionalismo

O racionalismo é uma corrente filosófica da Teoria do Conhecimento, área da Filosofia que de dedica a discutir as origens e possibilidades do conhecimento. Nessa corrente a origem do conhecimento está na razão. Os sentidos não são confiáveis para produzir um conhecimento verdadeiro. O que embasaria, no final das contas, a verdade seria o processo lógico da mente. Essa percepção de Descartes o leva a crer que há ideias inatas perfeitamente racionais, isentas da influência das percepções sensoriais, tais quais as ideias matemáticas e noções categóricas como movimento e extensão. Esse processo lógico também tinha um método, conhecido por nós como método cartesiano. Nele há quatro regras básicas que levariam até a verdade, são elas:

Regra da evidência

Só pode receber o valor de verdade aquilo que seja evidente. Aqui evidente não é o que é óbvio ou o que está exposto à nós pelos sentidos, já que estes não são confiáveis. Evidente é aquilo que é claro e distinto.

Regra da análise: 

A compreensão deve ser metodologicamente facilitada. Analisar algo em toda a sua complexidade pode impedir ou atrapalhar a resolução de um problema. Por isso, Descartes defende dividir as dificuldades em partes menores para ajudar na solução.

Regra da síntese:

 Depois de dividir, reordenar o raciocínio para a solução, do mais simples para o mais complexo.

Regra da enumeração:

Verificar o que se está abordando e as conclusões obtidas para que nada fique de fora.