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O empirismo lógico

O professor Gui de Franco fala sobre David Hume. Confira!

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As impressões pessoais

A relação entre ideias e as questões de fato

Quem foi David Hume?

David Hume nasceu na Escócia em 1711. Ele foi o maior expoente do iluminismo escocês e um dos principais filósofos britânicos do empirismo. Além de um empirista radical, Hume também foi reconhecido por seu ceticismo filosófico. Seu ceticismo é crítico aos outros pensadores empiristas que acreditavam na possibilidade de um conhecimento verdadeiro, mas sua crítica se direciona principalmente à Descartes e seu pensamento teológico-metafísico.


 A questão da validade do conhecimento

David Hume é um pensador cético, ou seja, ele duvida que possa haver qualquer conhecimento indubitável. Assim, o entendimento humano possui limites bastante estreitos, afinal de contas estamos submetidos aos sentidos e aos hábitos, o que nos leva a produzir conhecimentos que, na melhor das hipóteses, são apenas prováveis, mas nunca certezas absolutas.  Hume questiona o princípio de causalidade, bem como a metafísica existente na sua época.

O ceticismo é uma corrente de pensamento existente desde os antigos e é retomada pelo pensamento moderno, notadamente no campo da teoria do conhecimento.  Em linhas gerais, ceticismo é justamente a dúvida ou suspeita sobre todo e qualquer tipo de conhecimento. O cético, portanto, é aquele que duvida da possibilidade do conhecimento verdadeiro, restando-nos apenas, como dissemos acima, conhecimentos prováveis. O ceticismo humeano nasce na medida em que ele defende que todo conhecimento humano provém das experiências que temos através de nossos sentidos.  Não há, seguindo esse ponto de vista, uma razão pura capaz de encontrar uma base sólida para um conhecimento inquestionável ou indubitável.  Se, portanto, o conhecimento provém da experiência (tese empirista), e a experiência sensível é variável, logo nenhum conhecimento pode ter uma pretensão universal de validade.


A questão da origem do conhecimento

O conhecimento, segundo Hume, deriva sempre de percepções individuais, que podem ser impressões ou ideias. A diferença entre impressões e ideias é apenas o grau de vivacidade com o qual afetam nossa mente.  De um lado, as impressões são percepções originárias e que, por isso mesmo, são mais vivas, como por exemplo, ver, ouvir, sentir dor, etc. De outro lado, as ideias são percepções mais fracas por serem derivadas, por serem “pálidas cópias” das impressões. Desse esquema conceitual podemos concluir que, segundo David Hume, não há ideias inatas em nossa mente, isto é, ideias que teriam nascido conosco e que seriam, portanto, independentes da experiência. Toda ideia que existe em nossa mente é derivada das nossas impressões.

Há, no entanto, ideias complexas, que nascem da associação entre ideias através da nossa imaginação.  Assim, se combinamos em nossa mente a ideia de lobo, por exemplo, com a ideia de homem, podemos formar a ideia de “lobisomem”. Essas associações se sucedem na vida psíquica do ser humano, combinando-se por semelhança, contiguidade ou causalidade.

A associação por semelhança ocorre quando uma impressão se liga à uma ideia anterior já contida na mente, como uma rememoração. Hume exemplifica que uma pintura sobre um lugar ou uma pessoa nos remeteria a pensar sobre o lugar ou pessoa em si. Já a contiguidade no tempo e no espaço é uma associação relacionada à conexão possível entre os objetos que geram as percepções e ideias. Pensar num cômodo de uma casa pode levar a pensar no restante dos cômodos, assim como pensar em um lápis pode levar a pensar em uma borracha. E a associação por causalidade ocorre quando se observa uma relação entre causa e efeito, percebendo as impressões geradas por essa relação ou remetendo às ideias já consolidadas sobre o evento. Hume exemplifica a ferida como exemplo de causalidade, pois pensar numa ferida invariavelmente leva a pensar sobre a dor conseguinte.


Tipos de raciocínio e o problema da causalidade.

Hume afirma que existem dois tipos de raciocínio, o demonstrativo e o provável. O raciocínio demonstrativo é o do tipo autoevidente, como proposições matemáticas. Não é necessário comprovação empírica de sua validade e negar esse raciocínio envolve uma contradição lógica. Esse tipo de raciocínio é o típico da dedução, que traz, antes de qualquer experiência ou “testagem” sua carga de validade (falso ou verdadeiro).

Já o raciocínio provável está baseado na experimentação. Ele não é autoevidente e necessita de verificação ou confirmação para que se tenha certeza absoluta da sua validade. Esse tipo de raciocínio é formado por qualquer proposição que não seja de base puramente lógica, por exemplo “o banheiro é a segunda porta à direita”, é preciso ir até a segunda porta à direita para se ter certeza de que o banheiro é ali, sua validade depende de comprovação. Dessa forma, caso não seja “testado”, um raciocínio provável nunca poderá ser afirmado como absoluto.

A crítica à noção de causalidade nasce da confusão que Hume afirma ser comum entre esses dois tipos de raciocínio. Para que a associação de causalidade (conexão necessária entre dois fenômenos) pudesse ser considerada como válida seria preciso haver uma impressão anterior que lhe desse origem.  No entanto, para Hume, não há nenhuma impressão correspondente à noção de causalidade.  

Isso significa, então, que as relações de causalidade entre fenômenos se referem ao nosso hábito de pensarmos esses fenômenos como ligados um ao outro, mas não a uma relação real entre objetos externos a nós.  O exemplo mais famoso que Hume utiliza para explicar essa teoria é o seguinte: Por mais que sempre tenhamos associado ao nascer de um novo dia ao nascimento do sol, por mais que isso sempre tenha ocorrido até o dia de hoje, isso não significa que essa conjunção de fenômenos seja necessária.  Nada garante a necessidade do surgimento do sol no dia de amanhã. 

Assim, o máximo que podemos alcançar, do ponto de vista do conhecimento, é uma grande probabilidade de que um evento ocorrerá ou não ocorrerá, mas nunca podemos extrair uma certeza, dado que não existe nenhum conhecimento a priori, isto é, independente de nossa experiência sensível.

Hume afirma que nós temos uma tendência interpretar nossas inferências como leis da natureza (é assim que o método indutivo funciona). Nossos hábitos e crenças nos fazem formular supostas leis e supostas conexões necessárias entre eventos que, em última análise, são apenas sucessões de fatos e sequência de eventos sem nenhum nexo causal.  Por termos habitualmente observado esses fenômenos se sucederem acreditamos que eles ocorrerão novamente, o que não é garantido segundo o filósofo escocês. Associações por causalidade se configuram então como raciocínios do tipo provável, mas em situação de demonstrativos (indubitáveis). Essa é a crítica ao método indutivo dirigida por Hume, pois, experimentar um fenômeno muitas vezes não transforma em indubitável o que é provável. No final, somos guiados por nossos hábitos.