Clube Cultural - "Um Cão Andaluz" (1929), de Luis Buñuel e Salvador Dalí
A ordem é a desordem
Buscando quebrar uma suposta racionalidade ocidental e uma lógica baseada na linearidade, o filme "O Cão Andaluz" de Salvador Dalí e Luis Buñuel foi lançado pélos autores em 1929. Em um contexto de pós-Primeira Guerra Mundial, de crise econômica, com a Crise de 1929, e o crescimento exponencial de sentimentos nacionalistas, a ordem do filme é não ter ordem e não precisar frazer sentido. De certa forma, tal ideia corrobora com o momento de descrença que o mundo viveu, principalmente o continente europeu, depois da destruição causada pela Grande Guerra. Todo o advento tecnológico, a racionalidade e o crescimento econômico não conseguiu abafar o caratér belicista do ser humano e nem, muito menos, a crueldade implementada pelos europeus em outros continentes.
Imagem de uma das cenas mais famosas do filme.
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A lógica é não ter lógica, o filme é abertamente interpretativo. Parte do movimento surrealista, ambos os autores não negam suas raízes e convocam o inconsciente para atuar dentro de uma partida, ou melhor, de um longa-metragem que pode não fazer nenhum sentido para muitos. Uma das marcas do filme é o horror e a morte, ela está sempre rondando os personagens e se fazendo presente na narrativa. E aqui, pode-se até retomar o momento de crise do liberalismo e de uma arte que até então girava em torno de uma racionalidade burguesa como sinônimo de progresso.
O irreal e o abstrato dialogam diretamente com o telespectador através da evocação de uma realidade mais ampla e mais livre das amarras de uma lógica que, para os surrealistas, serviam para cercear e controlar as emoçoes. Mas como a ideia é extamente provocar e construir uma narrativa não linear, é impossivel fazer apenas uma critica sobre o filme e entender de fato o que os autores queriam com ele. O filme é livre, assim como a sua interpretação.
Dalí e Buñuel estão te convidando para uma viagem que pode ser bem intensa e estranha, que te levará a uma profunda reflexão, mas sem a obrigação de fazer qualquer sentido.