Sítio urbano do Rio de Janeiro
Do centro à expansão da cidade
Reforma Pereira Passos e a cidade maravilhosa
Relação morro x asfalto - segregação socioespacial carioca
Crescimento da Zona Oeste - Subcentros
Cidade do Rio de Janeiro
Introdução ao município do Rio de Janeiro
O município do Rio de Janeiro corresponde à cidade historicamente denominada Muito Leal e Heroica Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. A população da cidade, cujos limites se confundem com os do município, é de 6,7 milhões de habitantes, distribuídos desigualmente por 163 bairros.
Sítio urbano do Rio de Janeiro
Em 2012, a cidade do Rio de Janeiro foi a primeira a ser considerada um patrimônio histórico, político, cultural e ambiental do mundo. Em 2019, recebeu outro título, o de patrimônio da arquitetura, muito bem explicado pela ideia de que o espaço é a acumulação desigual de tempos, no qual cada lugar representa a soma de ações localizadas em períodos distintos do tempo. Assim, o Rio de Janeiro representa bem essa ideia, pois é possível, na cidade, se observarem construções do Período Colonial, do Império, da Velha e da Nova República.
O sítio é marcado principalmente pela Baía de Guanabara, cercada pelo afloramento de seu embasamento cristalino, que, no passado, serviu para a proteção da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro contra invasões de outras potências europeias. O sítio urbano se desenvolveu aproveitando o relevo como forma de proteção, erguendo diversas construções no alto dos morros, como do Castelo, de Santo Antônio, da Conceição e de São Bento.
Morro do Castelo – Berço do Rio de Janeiro
Fonte: http://nossarquitetura.blogspot.com/
Expansão da cidade
A região entre esses quatro morros foi onde historicamente se desenvolveu a cidade do Rio de Janeiro, que ficou conhecida como centro da cidade, devido à sua capacidade de polarização. Por essa denominação não assumir um caráter geométrico, a divisão da cidade do Rio de Janeiro em regiões não apresenta uma Zona Leste, pois o Centro, historicamente denominado, ocupa essa posição cardial.
A primeira expansão da cidade foi no sentido da Cidade Nova e, posteriormente, para a atual Zona Sul, conectada por uma infraestrutura de bondes. Com o avanço técnico e o desenvolvimento de trens urbanos na cidade, observou-se um novo eixo de expansão, no sentido da Baixada Fluminense, localizada mais ao norte da cidade do Rio de Janeiro. Já na segunda metade do século XX, ao longo das subestações de trem da linha férrea que conectava o centro da cidade até a Baixada Fluminense, foram surgindo diversos bairros, gerando uma posterior ocupação dessa região periférica da cidade, que passou a ser denominada Zona Norte.
Burros de carga puxavam os bondes do Rio de Janeiro (1852)
Fonte: https://diariodorio.com/
Reforma Pereira Passos
Nem toda a população mais pobre da cidade se deslocou para essas novas regiões. Ainda no final do século XIX e início do século XX, boa parte da população se localizava no centro ou nas áreas próximas. Sem uma política de saneamento e ocupação para essas áreas mais pobres, diversas ocupações populares se desenvolveram, como os cortiços, já muito bem retratados na obra O Cortiço, de Aluísio Azevedo.
Tal proliferação dos cortiços começou a preocupar a prefeitura da cidade, que, desde a década de 1880, já se preocupava em eliminá-los. Apenas em 1893, o famoso cortiço Cabeça de Porco foi derrubado pelo então prefeito, Barata Ribeiro. Ação imortalizada em uma publicação da época, na qual uma cabeça de porco era servida em um prato com uma “barata” na testa.
Fonte: http://www.projetomemoria.art.br/
Tais ações já demonstravam uma vontade de “limpeza” da cidade, que se manifestava em algumas medidas sanitaristas. Assim, em 1903, iniciou-se um conjunto de reformas pelo então prefeito, Pereira Passos (1902-1906), com o objetivo de transformar a cidade do Rio de Janeiro em um moderno centro europeu, como Paris, além de adaptá-la para os automóveis. A cidade passou por uma enorme reforma, expulsando a população mais pobre para áreas mais periféricas e desenvolvendo um novo projeto político para a capital, com o alargamento de suas rodovias.
Nessa lógica, alguns anos após a Reforma Pereira Passos, observou-se também a expansão da Zona Sul para áreas mais próximas à Lagoa Rodrigo de Freitas e para as atuais Praias do Leme, Copacabana, Ipanema e Leblon. Além disso, houve a expansão, a partir de diversos aterros litorâneos, da parte antiga da Zona Sul, criando importantes eixos rodoviários.
“O Rio de Janeiro que queria ser Paris”
Fonte: https://espacomorgenlicht.wordpress.com/
Relação morro x asfalto – segregação socioespacial
Com todas as reformas realizadas no passado, o espaço urbano carioca é marcado por uma enorme segregação socioespacial. Com as tentativas frustradas de deslocar a população mais pobre para a periferia, observou-se no Rio de Janeiro a expansão de construções urbanas nas áreas menos valorizadas, como as encostas e margens de rios.
Durante a segunda metade do século XX, o processo de favelização se expandiu pela cidade ocupando as áreas marginalizadas ao longo das principais vias de transportes do Rio de Janeiro ou os inúmeros morros da cidade, marcando, assim, uma relação entre morro, a área menos valorizada, e asfalto, a parte da cidade dotada de infraestrutura e mais valorizada. Assim, embora a segregação socioespacial exista, ela não é divida por bairros ou regiões, mas pela mesma área do bairro.
Com a falta de planejamento e atenção do estado para essas áreas sem infraestrutura, uma espécie de poder paralelo começou a surgir nessas regiões oferecendo serviços que o estado não garantia. Com isso, observou-se a expansão do narcotráfico e, posteriormente, das milícias nessas áreas menos valorizadas.
Contraste entre favela e prédios, na cidade do Rio de Janeiro
Fonte: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/
Crescimento da Zona Oeste
Boa parte da expansão da Zona Oeste a partir do eixo rodoviário da Avenida Brasil também marcou, na cidade do Rio de Janeiro, o surgimento de outros bairros importantes, como Campo Grande. Tais bairros são considerados um importante subcentro, isto é, uma área que oferece uma gama maior de serviços, diminuindo, inclusive, o fluxo populacional para o centro da cidade. Posteriormente, a expansão da cidade no sentido da Zona Oeste pelo eixo da Zona Sul favoreceu uma ocupação mais planejada e com maior padrão imobiliário. Tal processo de urbanização mais recente é marcado pela construção de grandes condomínios com mercados, escolas e serviços, caracterizando um processo de autossegregação (quando a população opta por se autoexcluir do restante caótico da cidade).
Condomínio Novo Leblon
Fonte: https://mullerimoveisrj.com.br/