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Sociedade sólida

A professora Larissa Rocha fala sobre a sociedade sólida. Confira!

Modernidade líquida

Relações sociais

Redes sociais

Ética e política

Um dos mais importantes sociólogos da história, Zygmunt Bauman teve como principal objetivo compreender as especificidades da sociedade contemporânea. Com efeito, em seu entendimento, as teorias tradicionais de sociólogos como Marx e Weber, ainda que úteis para explicar as origens do capitalismo e o início do processo de modernização, não são capazes de dar conta da explicação do mundo social de hoje, do capitalismo globalizado, da sociedade de espetáculo e de consumo.

 
Embora não haja um consenso sobre o momento exato em que a modernidade se inicia, dois eventos históricos foram decisivos para o seu desenvolvimento. O primeiro deles, a Revolução Industrial, foi um conjunto de mudanças ocorridas na Europa, marcadas, sobretudo, pelo êxodo rural e pela invenção da máquina a vapor que levaram ao aumento da velocidade de produção e, por conseguinte, ao aumento da quantidade de mercadorias produzidas. O segundo, a Revolução Francesa, foi um momento de ruptura com as estrututras políticas e sociais do Antigo Regime, que culminou com a proclamação da Assembleia Constituinte e a queda da Bastilha, ambas em 1789.

 
Para Bauman, a principal característica da modernidade é a capacidade de derreter sólidos, isto é, de fazer com que as estruturas políticas, sociais e econômicas, assim como as próprias relações sociais, se dissolvam. Segundo ele, a modernidade se divide em duas etapas. Na primeira etapa, a modernidade sólida, a preocupação não é apenas a de dissolver o que foi recebido da tradição, mas também a de construir as bases para os novos sólidos. Tomemos como exemplo a Revolução Francesa, que destruiu (dissolveu) o Antigo Regime com o propósito de construir um novo sólido, fundamentado na razão e guiado pelos ideiais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade.

 
Na segunda metade do século XX, os fenômenos sociais da globalização, da individualização e o avanço das tecnologias de comunicação transformaram a modernidade. Na segunda etapa, a modernidade líquida, os indivíduos, as instituições e a relação entre eles não têm mais uma forma rígida, duradoura e não há a perspectiva de criação de novos sólidos. Tudo está em constante transformação. Bauman encontra, na metáfora do líquido, a chave para descrever as características da sociedade atual, quais sejam, a incapacidade de manter a forma, a instabilidade e a mobilidade.

 
Na perspectiva baumaniana, o que caracteriza o mundo em que vivemos é a liquidez das relações sociais. Essa liquidez consiste em uma espécie de cultura do descartável, onde tudo se torna fluido, volátil, impermanente. Os valores substanciais e tradicionais tendem a se enfraquecer, bem como o senso comunitário, enquanto o individualismo e as novas modalidades de interação social tendem a ganhar força.

A modernidade líquida está presente nos mais diversos aspectos da vida social. A própria percepção do tempo foi transformada pela liquidez. O tempo já não é mais cíclico, como nas mitologias; também não traz a ideia de linearidade, comum à visão ocidental. Nosso tempo é pontilhado, isto é, consiste em um conjunto de instantes encerrados em si mesmos e que não guardam qualquer relação com os instantes anteriores e nem com os que estão por vir.

As relações afetivas, como o amor e a amizade também sofreram os efeitos da modernidade líquida. As novas tecnologias de comunicação, sobretudo as redes sociais e os sites de relacionamento, possibilitaram novas formas de interagir e se relacionar como, por exemplo, o relacionamento online. Escolher um(a) parceiro(a) pela internet é uma operação que se assemelha, de algum modo, a acessar um site de vendas para comprar um determinado produto. Tanto o site de vendas quanto o site de relacionamento nos colocam diante de uma espécie de catálogo, no qual podemos escolher aquilo que mais nos agrada. Nesse sentido, as relações amorosas se confundem com as relações de mercado. A amizade, por sua vez, resume-se ao duplo movimento de conectar e desconectar.

O grande atrativo das redes sociais não está, segundo Bauman, na facilidade de fazer amizades, mas sim na facilidade de desfazê-las. Os conflitos e constrangimentos provocados pelo término de uma amizade podem ser evitados, no ambiente virtual, com apenas um click.

Outro aspecto importante da teoria de Bauman é o consumo. Segundo ele, o consumo organiza as relações sociais, sendo capaz de mudar o modo como as pessoas veem a si mesmas e como elas projetam a sua própria imagem para os demais. Nessa sociedade de consumidores, ninguém se torna sujeito sem primeiro virar mercadoria, o que também contribui para a instabilidade ou liquidez das relações.