Tipos de Vozes
Análise da voz ativa
Análise da voz passiva
Análise da voz reflexiva
Conceito
A flexão de voz indica a relação entre o sujeito da oração mantém com a ação expressa pelo verbo. Dessa forma, classificamos o sujeito como paciente ou agente.
Em primeiro lugar, é necessário entender que a mudança de sujeito agente para sujeito paciente não é possível com todos os verbos, pois alguns verbos indicam fenômenos da natureza ou estado.
Observe os exemplos:
I) O menino comeu o bolo. (Sujeito agente)
O bolo foi comido pelo menino. (Sujeito paciente)
II) Ficamos contentes com as mudanças. (Verbo de ligação indicando estado)
Contentes foram ficados com as mudanças. (Frase agramatical)
III) Ventou bastante ontem. (Verbo indicando fenômeno da natureza)
Foi ventado bastante ontem. (Frase agramatical)
Obs.: Para que a compreensão sobre vozes verbais seja mais eficaz, é importante lembrar dois aspectos sintáticos: sujeito e transitividade verbal.
1) Sujeito – de maneira bem simples, vamos entender o sujeito como termo com o qual o verbo concorda. Ex.: Pedro leu o livro.
É muito importante desconstruir a ideia de que o sujeito precisa aparecer antes do verbo e a ideia de que sujeito é aquele que pratica a ação.
2) Transitividade verbal – Está relacionada à necessidade de haver ou não complementos para o verbos (os quais chamamos de “objeto direto” e “objeto indireto”), ou atributos para o sujeito (predicativos).
Analise a frase a seguir:
“Que venham as mudanças! E sejam sempre para o melhor.”
Nessa frase, o verbo “vir” (venham) está concordando com o sujeito posposto (as mudanças).
Se pensarmos na frase “Mudanças são conquistadas por aqueles que lutam”, percebemos que “mudanças” atua como sujeito da oração, mesmo sendo paciente (sofrendo a ação) do verbo “conquistar”.
Quanto à transitividade:
O verbo “vir” (“Que venham as mudanças”) é intransitivo – não exige complemento.
Em “Rogério trocou o sapato”, o verbo “trocar” é transitivo direto – exige complemento, mas não preposicionado.
Em “Todos precisam de mudanças”, o verbo “precisar” é transitivo indireto – exige complemento preposicionado.
Em “Joana enviou a carta aos funcionários da empresa”, o verbo “enviar” é transitivo direto e indireto – exige dois complementos: um preposicionado (“aos funcionários”) e um não preposicionado (“a carta”).
Voz ativa
Quando há voz ativa, o sujeito atua como agente do verbo da oração. Nesse caso, o sujeito praticante da ação ganha destaque. Podemos dizer, então, que essa construção contribui para a relevância do sujeito na oração.
Ex.: O cachorro comeu a ração.
A polícia matou o bandido.
Obs.: A voz ativa se apresenta com verbos intransitivos, transitivos diretos, transitivos indiretos, transitivos diretos e indiretos.
Leia a manchete retirada do jornal Folha de São Paulo para observar o emprego da voz ativa:
Em “Fiocruz diz que isolamento retarda disseminação do vírus pelo país”, as orações estão na voz ativa e, dessa forma, os termos “Fiocruz” e “isolamento” ganham maior relevância.
Voz passiva
Na voz passiva, o sujeito é transformado em paciente da ação verbal. Dessa forma, podemos dizer que, quando a oração está na voz passiva, o termo que sofre a ação ganha destaque.
Ex.: A ração foi comida pelo cachorro.
O bandido foi morto pela polícia.
Note que, ao passarmos os exemplos que estavam na voz ativa em (2) para a voz passiva em (3), houve mudança na ênfase que foi dada aos elementos das frases. Vejamos:
I) O cachorro comeu a ração. -> Ênfase dada ao cachorro.
A ração foi comida pelo cachorro. -> Ênfase dada à ração.
II) A polícia matou o bandido. -> Ênfase dada à ação policial.
O bandido foi morto pela polícia. -> Ênfase dada ao bandido.
Na transformação da voz ativa para a passiva, o termo que sofria a ação (objeto direto) é convertido no termo que sofrerá a ação (sujeito paciente). Já o sujeito agente (quando explícito) torna-se agente da passiva.
Atenção!
A transformação em voz passiva só é possível com verbos transitivos diretos ou transitivos diretos e indiretos. Isso acontece pois somente o objeto direto da voz ativa pode ser convertido em sujeito paciente na voz passiva. Dessa forma, não é possível fazer a conversão com verbos intransitivos e transitivos indiretos.
Veja:
I) Pessoas correm no parque. (Verbo intransitivo)
Pessoas são corridas no parque. (Frase agramatical)
II) Precisamos de mais segurança. (Verbo transitivo indireto)
Mais segurança é precisada. (Frase agramatical)
Leia a manchete a seguir:
Vamos analisar as estruturas presentes na manchete.
i) “Mulher é estrangulada e morta pelo ex-marido em Duque de Caxias, no RJ” – Aqui, encontramos a estrutra na voz passiva. É muito comum o emprego dessa voz em notícias como essa, pois a passividade reforça a posição de vítima.
ii) “Ex-marido não aceitava o fim do relacionamento” – Nesse caso, foi empregada a voz ativa que da destaque ao sujeito “ex-marido”.
iii) “e se matou em seguida” – Nessa estrutura, vemos a voz reflexiva (a qual veremos mais pra frente).
Agora, veremos que há duas maneiras de construir a voz passiva.
Voz passiva analítica: Formada pelo verbo auxiliar “SER” (conjugado no tempo e na pessoa desejados) + particípio do verbo principal.
Ex.: Toneladas de lixo foram despejadas pelos caminhões. (Sujeito paciente = “toneladas de lixo”; Agente da passiva = “pelos caminhões”).
Carros são vendidos na feira de automóveis. (Sujeito paciente = “carros”; Agente da passiva está indeterminado).
Obs.: É possível que haja outro verbo auxiliar, mas a estrutura “SER + particípio” é mantida.
Ex.: Carros deixam de ser vendidos a partir de hoje.
Obs. 2: Observe a seguinte estrutura:
· Pedrinho apanhou da mãe.
Ainda que o sujeito “Pedrinho” tenha valor paciente, não houve formação da voz passiva. Para que haja voz passiva, deve-se adotar a estrutura “SER + Particípio”.
Voz passiva sintética (ou pronominal): Formada a partir do verbo principal transitivo direto na voz ativa (na terceira pessoa do singular ou do plural) + partícula apassivadora “SE”.
Ex.: Despejam-se toneladas de lixo.
Vendem-se carros na feira de automóveis.
Note que, na passiva sintética, não há determinação do agente da passiva. Dessa forma, podemos entender que a ênfase é dada exclusivamente ao termo paciente. Por isso, essa estrutura é bastante utilizada em discursos que buscam o distanciamento do emissor e a impessoalidade.
Atenção!
A forma sintética da voz passiva deve, obrigatoriamente, poder ser convertida em analítica. Caso não seja possível, não há voz passiva. Veja o exemplo:
i) Investigam-se as causas do problema. -> As causas do problema são investigadas.
ii) Precisa-se de funcionários. -> Funcionários são precisados.
No caso (ii), não se trata de um caso de voz passiva. Em primeiro lugar, vimos que não há possibilidade de conversão em passiva analítica. Além disso, como vimos anteriormente, não é possível formar voz passiva com verbos transitivos indiretos.
Repare, também, que, quando se trata de voz passiva sintética, o verbo deve concordar com o sujeito e ir para o plural, se o sujeito estiver no plural (como acontece em (i)). No entanto, coloquialmente, tendemos a não fazer essa concordância – o que é errado do ponto de vista gramatical. Ex.: Vende-se casas. (O correto é “Vendem-se casas”).
Voz reflexiva
Trata-se da voz em que o agente que pratica a ação (sujeito) é o mesmo que sofre a ação (objeto). Por isso, só ocorre voz reflexiva com verbos transitivos.
Dessa forma, são indispensáveis os pronomes reflexivos.
Vejamos exemplos:
I) Não me responsabilizo pela entrega do material.
II) Cortei-me quando estava fazendo o almoço.
III) Sempre que sai para trabalhar, João se vê no espelho do elevador.
Obs.: Na voz reflexiva, há também a possibilidade de reciprocidade; ou seja, quando o verbo indica uma ação mútua entre dois ou mais seres.
Ex.: João e Roberto se abraçaram quando se viram.
Para finalizar, vamos reforçar o conteúdo visto, vendo, a seguir, mais um exemplo de conversão da voz ativa em voz passiva:
Ao fazer a transposição, o sujeito da voz ativa torna-se o agente da passiva, e o objeto direto da voz ativa torna-se o sujeito da voz passiva. Lembre-se sempre de manter o tempo verbal.
Exemplo na voz ativa: Aspiramos a casa toda.
Sujeito da ativa: Nós (oculto)
Verbo: Aspiramos (transitivo direto)
Objeto direto: a casa toda.
Exemplo na voz passiva analítica: A casa toda foi aspirada por nós.
Sujeito: A casa toda
Verbo auxiliar: foi
Verbo principal: aspirada
Agente da passiva: por nós.
Exemplo na voz passiva sintética: Aspirou-se a casa toda.
Sujeito: A casa toda
Formação da voz passiva: Verbo “aspirou” + pronome apassivador “SE”
Agente da passiva: Indeterminado
Observe que o verbo auxiliar foi está no mesmo tempo verbal que o verbo aspiramos estava na oração cuja voz é ativa.