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Definição

Neste vídeo, o prof. Renato Pellizzari apresenta a Guerra Fria: uma disputa ideológica sem conflitos diretos entre as duas maiores potências do mundo na segunda metade do séc. XX: os EUA capitalista e a URSS socialista.

O Início da Guerra

A Doutrina Truman

Os EUA na Guerra

URSS na Guerra

A Corrida Armamentista

O mundo bipolar. 

Com o fim da 2ª Guerra Mundial, em 1945, o surgimento de duas potências globais construiu uma nova configuração geopolítica, a de um mundo bipolarizado. No entanto, nos primeiros anos pós-45, as bombas nucleares lançadas pelos E.U.A ainda se mostravam como armas inigualáveis pelo resto do mundo, mas, em 1949, a URSS também conseguiu construir sua própria bomba nuclear, criando assim um equilíbrio entre as duas potências e a possibilidade de negociações de igual para igual. Tendo em vista essa conjuntura de equilíbrio de forças e a necessidade de manter as próprias zonas de influência construídas durante a Guerra, os dois blocos desenvolveram, enfim, todo um sistema político, econômico e militar para garantir que as ideologias inimigas não penetrassem nas suas esferas de poder.

 

A construção do bloco capitalista.

Pelo lado capitalista, um conjunto de práticas passou a ser adotado a partir do discurso do presidente dos Estados Unidos Harry S. Trumman, em 1947. O discurso em defesa do capitalismo e dos ideais de liberdade acreditavam na necessidade da construção de um aparato de defesa desses ideais no mundo contra a expansão socialista. Esse projeto, assim, ficou conhecido como a Doutrina Trumman, que deu início a montagem de um complexo sistema de defesa do bloco capitalista.

Apesar dos E.U.A representarem a principal potência desse bloco, havia também a participação de países democráticos, sobretudo os europeus, como a Inglaterra, a França e a Alemanha Ocidental. Esses países, devastados pelas Guerras, receberam apoio financeiro dos E.U.A através do Plano Marshall (1948), que tinha como objetivo recuperar a economia europeia e afastar o espectro socialista com empréstimo a juros baixos e investimentos públicos.

Na Ásia também houve um planejamento semelhante, conhecido como o Plano Colombo, no entanto, o apoio econômico à Ásia foi muito menor que o destinado à Europa e só se iniciou em 1951, após a explosão da Revolução Comunista de Mao Tsé-Tung, na China (1949), e o início da Guerra da Coreia (1950). Assim, o Japão passou a se tornar um grande aliado das potências ocidentais e do bloco capitalista nesse continente.

Na América, enfim, a presença capitalista e norte-americana se consolidou não através da ajuda econômica, mas da interferência política direta e das atividades militares. Desde o século XIX, com a Doutrina Monroe (1823) e durante o século XX, com a política do Big Stick (1903) e o corolário Roosevelt (1904), os Estados Unidos detinham a hegemonia econômica e militar na América, evitando a interferência europeia e atuando diretamente nas manipulações políticas regionais, com apoio de golpes, ditaduras e intervenções militares.

Assim, a criação do Tratado Interamericano de Ajuda Recíproca (TIAR-1948) tinha como objetivo construir uma aliança militar, sob domínio norte-americano, capaz de combater as ameaças socialistas e os possíveis ataques soviéticos aos países da América. No ano seguinte, de forma semelhante, os E.U.A também se envolveu na criação da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN-1949) que seria responsável por consolidar uma aliança militar entre as potências do norte e, também, combater possíveis ataques socialistas.

Ainda que um aparato militar estivesse pronto para defender o bloco capitalista de quaisquer ameaças socialistas, no final da década de 1940, com a circulação das notícias de espiões soviéticos infiltrados nos E.U.A e com o suposto roubo dos planos da bomba atômica em 1949, uma paranoia coletiva se instalou nos dois blocos, gerando uma guerra muito mais oculta. Essa nova forma de atuação dos países propiciou a criação nos Estados Unidos de um serviço secreto capaz de garantir a segurança nacional com o uso da inteligência e de espionagem, conhecido como Central Intelligence Agency (CIA), criada em 1947 pelo presidente Trumman.

A atuação de espiões socialistas e de cidadãos americanos pró-União Soviética, movimentaram ainda mais a guerra ideológica interna que os países viviam. Nos E.U.A, por exemplo, a paranoia da espionagem foi tão intensa que, em 1950, o senador Joseph McCarthy declarou que tinha uma lista com nomes de funcionários do Departamento de Estado Norte-Americanos que seriam, na realidade, espiões soviéticos infiltrados.

A “lista negra” de McCarthy iniciou um período de “caça às bruxas” nos Estados Unidos, que visava perseguir, prender e até mesmo torturar indivíduos suspeitos de espionagem ou de ligação com o comunismo. As ações de McCarthy renderam diversas prisões durante a década de 1950 e chegaram a dar origem ao Comitê de Investigação de Atividades Antiamericanas do Senado dos Estados Unidos, responsável por receber denúncias e investigar cidadãos acusados de “práticas socialistas”. A ideia base do McCarthismo se espalhou pelo ocidente como uma perseguição geral aos partidos comunistas e seus simpatizantes.

 

A construção do bloco socialista.

Enquanto no lado capitalista a Doutrina Trumman orientou todo um sistema de defesa e consolidação dos ideais capitalistas e liberais, no lado oriental, a ocupação do Exército Vermelho e o Stalinismo garantiram a presença do socialismo com base no autoritarismo. Assim, uma linha de fronteiras conhecida como Cortina de Ferro separava os países do bloco capitalista da zona de influência soviética, que contava com os Estados satélites da Alemanha Oriental, Polônia, Hungria, Tchecoslováquia, Bulgária e Romênia e com as repúblicas soviéticas da Ucrânia, Armênia, Azerbaijão, Bielorrússia, Geórgia, Estônia Lituânia, Letônia e Cazaquistão.

No lado asiático, alguns países também fizeram parte da zona de influência soviética, demarcando a menos conhecida Cortina de Bambu, que contou com alguns governos socialistas como Laos, Mongólia e Vietnã. Vale destacar que, nesta esfera, as alianças socialistas ao longo do século XX foram muito mais instáveis, visto que o sucesso da revolução de Mao Tsé-Tung (1949) permitiu o surgimento de uma nova força socialista na região que atraiu regimes descontentes com a política soviética.

Assim, para consolidar a ideologia comunista nessas zonas de influência, além do autoritarismo, também houve o apoio econômico. A União Soviética possuía um desenvolvimento econômico e industrial muito inferior aos Estados Unidos, logo, o Conselho para Assistência Econômica Mútua (COMECON-1949), apesar de apoiar economicamente os países socialistas, não alcançou as mesmas proporções da versão capitalista, o Plano Marshall.

Pela perspectiva militar, se o bloco capitalista investiu em alianças como o TIAR e a OTAN, a União Soviética, por sua vez, criou em 1955 o exército do Pacto de Varsóvia. A aliança contava com a participação da Alemanha Oriental, da Polônia, da Tchecoslováquia, da Albânia, da Romênia, da Bulgária e da Hungria, sob comando da URSS. O Pacto de Varsóvia foi criado como uma ferramenta de defesa dos ideais socialistas contra possíveis ataques do bloco capitalista, no entanto, sua maior atuação foi na opressão de revoltas e cisões internas, como na Primavera de Praga (1968) com a ocupação militar da cidade.

Essas cisões e as ameaças norte-americanas também geraram a necessidade, por parte dos soviéticos, de institucionalizar ainda mais os seus aparatos de espionagem. Visando assim descobrir os planos dos inimigos e dos opositores internos, para executar ações rápidas, a União Soviética, em 1954, criou oficialmente o serviço de inteligência e espionagem da KGB (Comitê de Segurança do Estado).

 

Corrida espacial e armamentista.

Como visto, a Guerra Fria ficou marcada como uma longa disputa sem conflitos diretos entre as ideologias do capitalismo e do socialismo. Entretanto, apesar das disputas diretas não terem acontecido, de forma indireta os dois países disputaram ano após anos a conquista de zonas de influência, o desenvolvimento de tecnologias, as medalhas olímpicas e, até mesmo, a conquista do espaço.

Ao contrário da corrida espacial, a disputa pela formação de uma potência bélica já havia começado durante a 2ª Guerra Mundial. Antes mesmo das bombas de Hiroshima e Nagasaki chocarem o mundo, os nazistas já desenvolviam com uma equipe científica diversos tipos de armas, sem qualquer respeito pela ética ou por vidas humanas. Armas químicas e biológicas foram testadas em seres humanos em campos de concentração, foguetes foram planejados e até mesmo bombas nucleares estavam nos planos nazistas. No entanto, o primeiro país a surpreender o mundo com uma arma com esse tamanho de destruição foram os E.U.A que, a partir do chamado Projeto Manhattan, construiu sua primeira bomba atômica, testada em julho de 1945 no Novo México. Com o sucesso do Projeto Manhattan, as bombas foram jogadas em Hiroshima e Nagasaki, iniciando, definitivamente, a corrida armamentista.

A partir desse momento, começou a tentativa de construção de armas similares por parte da URSS e de armas mais poderosas pelos Estados Unidos. Assim, em 1949, a União Soviética declarou ao mundo que havia construído sua primeira bomba nuclear, mas, logo em 1952, os E.U.A já testavam sua primeira bomba de hidrogênio, com um poder 750 vezes superior à bomba nuclear.

Durante os anos de disputa, a bomba mais potente lançada foi em 1961, pelos soviéticos, às vésperas dos eventos da chamada crise dos mísseis. A arma, conhecida como Tsar Bomb, possuía uma força original de 100 megatons, sendo reduzida forçadamente para 57 MT antes do lançamento, visto que a força original poderia devastar a Europa. Após a crise dos mísseis, uma série de tratados foram assinados visando a redução do armamento nuclear, visto que, uma guerra entre as duas potências poderia ter como consequência a destruição do planeta.

Como visto, a Alemanha nazista já realizava na década de 1940 experimentos com lançamentos de foguetes e mísseis, portanto, ao fim da guerra, apesar do julgamento e condenação de muitos nazistas, os principais cientistas do país foram repatriados pelos E.U.A e pela União Soviética e passaram a trabalhar em institutos militares e aeroespaciais das duas potências. O engenheiro alemão Wernher Von Braun, por exemplo, foi fundamental na construção de mísseis balísticos e na criação do programa espacial americano. A contribuição desses cientistas e a corrida pela construção de armas potentes, assim, influenciou no próprio desejo de alcançar e conquistar o espaço.

No dia 4 de outubro de 1957, a URSS deu a largada para a corrida com o lançamento do satélite Sputnik I, que foi um modelo de teste programado apenas para transmitir um sinal de rádio. A partir desse lançamento, a URSS durante a década de 1950 manteve a dianteira na corrida, lançando em 1957 o Sputnik II, tripulado pela cadela Laika e, em 12 de abril de 1961, surpreendeu o mundo enviando o primeiro homem ao espaço, o astronauta Yuri Gagarin, na Vostok I.

Pelo lado americano, o primeiro satélite enviado foi em 1958, o Explorer I, a partir dele, uma série de outros satélites foram lançados e uma agência espacial foi criada para continuar as pesquisas e o desenvolvimento de tecnologias, a NASA (1959). A partir de então, os satélites passaram a ganhar novos objetivos, como mapeamento de regiões, espionagem, comunicação e outras funções. Mas, o ponto de chegada, definido por John F. Kennedy em 1961 como o solo lunar, até então, não havia sido alcançado.

Apenas no dia 20 de julho de 1969 que a missão americana Apollo 11, tripulada pelos astronautas Neil Armstrong e Edwin Aldrin enfim pousou na lua, fazendo com que os norte-americanos se tornassem os primeiros homens na história a caminharem sobre o solo lunar, encerrando, enfim, a corrida espacial com a superioridade tecnológica dos E.U.A.