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Panorama político na América Latina

Aula sobre panorama político na América Latina. Confira!

Argentina

Diante de um cenário de incerteza mundial devido à pandemia do coronavírus, a Argentina vem enfrentando uma grave crise política, econômica e sanitária, assim como boa parte da América Latina. Apesar das notícias recentes da crise econômica em que se encontra o país no governo do peronista Alberto Fernández, é importante pontuar que esse é um processo anterior ao seu governo, mas que foi aprofundado por causa da pandemia e a questão da vacinação no país.

A Argentina começou a pandemia com um dos maiores lockdowns do mundo e se tornou um exemplo em práticas de prevenção e combate ao novo coronavírus, porém, já em outubro de 2020, o país mudou radicalmente essa situação ao se tornar um dos países com maior índice de contaminação na América Latina. O cenário de crise sanitária foi agravado por várias questões, dentre elas, a resistência da população com relação às medidas de restrição, a falha do plano nacional de vacinação do governo argentino e o colapso no sistema de saúde do país.

(Disponível em: https://news.google.com/covid19/map?hl=pt-BR&gl=BR&ceid=BR%3Apt-419&mid=%2Fm%2F0jgd

Acessado em 14/06/2021, as 06:27.

O descontentamento mais recente com a gestão do governo de Alberto Fernández se deu, em grande medida, pela questão relacionada à vacinação da população. Em julho de 2020, o governo havia anunciado que o país seria contemplado por um acordo com a companhia farmacêutica Pfizer, onde uma parte da população seria utilizada para fazer testes clínicos da vacina e, em troca, a empresa venderia para o país com prioridade de envio e com um valor menor.

Contudo, em agosto do mesmo ano, o empresário argentino Hugo Sigman, junto com outro empresário mexicano, anunciou um acordo com a empresa britânica que produz a AstraZeneca. No combinado, seriam produzidos cerca de 150 milhões de doses da vacina aqui na América Latina, através de uma parceria entre um laboratório mexicano, o Liomont, e o laboratório mAbxcience, do grupo empresarial de Sigman. Animado com a possibilidade de produzir a vacina dentro do próprio quintal e baratear o custo do imunizante, o governo argentino endossou a iniciativa do empresário e acabou não fechando com a Pfizer.

No decorrer do tempo, o laboratório mAbxcience enviou o ativo para o laboratório mexicano, porém ele não conseguiu cumprir com os acordos devido a uma serie de fatores, como a falta de materiais. Dentro dessa confusão, quem saiu perdendo foi a população argentina que ficou sem a vacina em larga escala prometida pelo governo. O país só vacinou cerca de 7% da população, como podemos ver no infográfico acima, e não explicou com objetividade o porquê de não ter fechado um acordo com a Pfizer, já que as negociações ainda estavam rolando.

No geral, os representantes do governo afirmaram que a fabricante do imunizante havia exigido condições impossíveis de serem cumpridas, dentre elas, as geleiras do país como garantia. Outro ponto de discordância entre o governo e o laboratório foi com relação à transportadora, que deveria ser obrigatoriamente a DHL, que possuía um contrato de exclusividade com a farmacêutica, e com relação a Pfizer se negar a aceitar a possibilidade de receber processos por negligência. Para piorar a situação, foram vazados vários casos de fura-fila da vacinação por membros da alta cúpula do governo.

Dentro desse processo de crise sanitária, a Argentina se recusou a sediar a Copa América por não ter controle sobre a pandemia no país. Vale ressaltar que o Brasil também não tem e aceitou sediar ainda assim o evento futebolístico. Outra justificativa para não aceitar o evento no país foi a grave crise econômica em que ele está inserido, em uma pesquisa lançada recentemente pelo Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec), cerca de 42% da população argentina está vivendo em situação de pobreza.

Pega a visão: falamos sobre a questão da falta de vacina e uma discussão mega importante e que pode cair no seu vestibular é sobre a desigualdade de acesso a elas. Estamos acompanhando que vários países centrais já vacinaram quase 70% da sua população, enquanto existem países periféricos que vacinaram menos de 10%. Com a exceção de países como o Brasil, que poderiam ter comprado a vacina com antecedência e não o fizeram por uma escolha governamental, existem muitos países que sequer conseguem ter acesso a elas, porque a grande maioria das doses foram para os países desenvolvidos. Além disso, existe uma discussão sobre a quebra da patente das vacinas, o que poderia levar a uma aceleração da produção de imunizantes no mundo. Contudo, boa parte dos países centrais são contra a quebra das patentes. Se você quer entender um pouco mais sobre esse rolê, clica nessa reportagem aqui.

Colômbia

Como dissemos lá em cima, a América Latina, no geral, se encontra em um momento caótico, que obviamente está ligado à conjuntura mundial da crise do coronavírus, mas que também possui raízes bem mais profundas do que essa. No caso da Colômbia, desde 2019 o povo tem ido às ruas manifestar contra a corrupção, contra a precariedade, a perda de direitos básicos e em prol de uma justiça social mais ampla.

Os protestos recentes no país já duram quase dois meses e chamam a atenção do mundo pela brutalidade no confronto entre civis e militares. O estopim para o início da recente onda de protestos foi o projeto de lei de reforma tributária que contava com um aumento de impostos sobre a renda e sobre produtos básicos no país. Contudo, a proposta veio no meio de uma crise econômica, política e sanitária, o que levou a população às ruas para protestar contra a votação do tal projeto.

O presidente colombiano, Iván Duque, chegou a pedir a retirada do projeto da votação no Congresso, entretanto o povo já havia tomado as ruas contra as práticas neoliberais, o aumento da pobreza e especialmente contra a violência policial.  Vale ressaltar que o país que até pouco tempo vivia em permanente estado de tensão devido aos embates entre o governo e a Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).

Diversos órgãos internacionais, incluindo a ONU, vem denunciando a violenta repressão policial, orquestrada pelo governo, contra os manifestantes e o desrespeito aos direitos humanos. Atualmente, estima-se que existam cerca de 120 a 300 manifestantes desaparecidos e, pelo menos, 50 mortos. Apesar do presidente colombiano negar os excessos da polícia, alguns oficiais foram submetidos a ações disciplinares devido as suas atuações nos protestos populares.

A Colômbia seria a sede da Copa América de 2021 junto com a Argentina, entretanto, devido ao caos social, político e sanitário, o país desistiu de sediar o evento. Porém, na estreia da sua seleção aqui no Brasil, alguns colombianos se reuniram na frente do estádio para protestar e declarar seu apoio aos movimentos populares que estão ocorrendo no país.

 

Manifestantes na cidade de Cali, que é considerado o epicentro dos protestos.

https://www.bbc.com/portuguese/internacional-57296402

 

El Salvador

Recentemente, o presidente de El Salvador, Nayib Bukele, impactou o mundo ao divulgar que tornaria o Bitcoin a nova moeda oficial do país. E por que o impacto? Porque a Bitcoin é uma criptomoeda que surgiu em 2008 com a tentativa de facilitar os trâmites financeiros e substituir, a longo prazo, o dinheiro físico. A lei que acabou de ser aprovada em El Salvador torna o país o pioneiro na utilização de uma moeda digital como moeda oficial. 

Um ponto interessante sobre o país é que ele não possuía uma moeda própria, utilizava o dólar americano, então, em teoria, não seria um grande problema a circulação de uma outra moeda. De acordo com o presidente, a intenção é facilitar a circulação monetária, tanto internamente quanto externamente, uma vez que 20% do seu PIB correspondem às remessas internacionais. A bitcoin facilitaria então essas transações financeiras, com a redução da burocracia e sem a necessidade de mediação de instituições financeiras.

Porém, a aprovação da lei levantou suspeitas e preocupações para as entidades financeiras, como o FMI, que alertaram para o perigo dos crimes cibernéticos. Além disso, analistas apontam que a lei foi aprovada meio que às pressas, sem muitas discussões, em um Congresso dominado pelo partido de Nayib Bukele. Daqui a três meses a Lei Bitcoin entra em vigor no país e qualquer pessoa, física ou jurídica, pode usar a moeda no país da mesma forma que utiliza o dólar americano atualmente.

A implantação e a utilização da criptomoeda pela população é outra questão importante a se pensar, uma vez que para utilizar a Bitcoin é necessário ter um aparelho com acesso à internet. Segundo a pesquisa promovida pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a Microsoft, apenas 45,02% dos lares em El Salvador possuem acesso à internet. Ou seja, o projeto de implantar as Bitcoins como moedas oficiais perpassa por outras questões que não apenas as econômicas.

Peru

O Peru, assim como o restante da América Latina, também está inserido em uma crise política e institucional como vimos no Panorama Geral de Atualidades na segunda semana de abril. A conjuntura do país conta com trocas constantes de presidentes, escândalos envolvendo corrupção, suicídios, impeachment e roubos de vacinas contra o coronavírus. Nos últimos cinco anos, o Peru trocou de presidente quatro vezes e, praticamente, todos eles estavam envolvidos em escândalos de desvio de dinheiro e corrupção. Boa parte desses casos estavam ligados a Lava Jato, sim, a operação brasileira.

Dentro desse processo, no início de abril, dois candidatos com projetos políticos completamente distintos chegaram ao segundo turno para as eleições presidenciais, Pedro Castilho, representante da esquerda, e Keiko Fujimori, representante da direita.

A chegada de Pedro Castilho ao segundo turno foi uma surpresa para a mídia no geral, uma vez que poucas semanas antes das eleições o candidato não havia recebido um número expressivo de votos nas pesquisas eleitorais. Já Keiko Fujimori é herdeira do fujimorismo peruano liderado pelo seu pai, o ex-presidente, Alberto Fujimori, e figurinha carimbada na política do país.

Com uma votação extremamente acirrada, Castilho ganhou de Fujimori nas urnas nas eleições do dia 06/06/2021. Contudo, conforme a contagem de votos ia se encaminhando para o fim e apontando a vitória apertada de Castilho, a representante do Força Popular começou a levantar suspeitas sobre possíveis fraudes no processo eleitoral. Fujimori afirmou publicamente que não aceitaria a derrota, alegando uma possível fraude, entretanto, também não apresentou nenhum tipo de prova que comprovasse a sua acusação. 

Pega a visão: a acusação de fraude eleitoral têm sido uma prática recorrente no continente americano. O exemplo mais próximo foi a eleição dos Estados Unidos, na qual Donald Trump alegou ter perdido as eleições por conta de fraudes eleitorais, contudo, o recálculo solicitado pelo ex-presidente norte-americano apenas confirmou a vitória de Joe Biden nas urnas. A nível de Brasil, é extremamente importante que você fique ligado nessa discussão, porque a eleição de 2022 nem chegou, mas já está sendo acusada de ser fraudulenta.

Keiko Fujimori pediu a anulação de cerca de 200 mil votos nessas eleições, que se aprovada, seria o suficiente para mudar o rumo das mesmas. Porém, órgãos de controles eleitorais, como a União Interamericana de Organismos Eleitorais (UNIORE), reconheceu que a eleição foi feita de forma correta e sem qualquer indício de atividades passíveis de fraude.