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Crises recentes na África

O professor Ricardo Marcílio descomplica crises recentes na África.

A África é o terceiro maior continente do mundo. Ao todo são 54 países africanos, contendo uma enorme diversidade de climas, paisagens e culturas. De totais desertos a climas equatoriais chuvosos, a África possui uma população que reflete a diversidade da extensão territorial do continente, com cerca de 130 etnias diferentes, além de existirem mais de mil idiomas no continente. Vamos estudar como o continente que foi o berço da humanidade hoje enfrenta consequências e perspectivas de processos históricos passados.

Uma forma comum de regionalizar a África é a partir da divisão do deserto do Saara. Por se tratar do segundo maior deserto do mundo, sobretudo nos tempos antigos, esta fronteira estabelecia uma divisão bem delimitada. Os povos acima do deserto do Saara possuíam maior contato com os povos europeus e orientais, e essa falta de articulação com o povo subsaariano foi uma das estratégias utilizadas pelo imperialismo não só no processo de apropriação de territórios, mas no processo de construção da história africana e disputa de narrativas. No geral, 

 

O caso da Angola e a influência externa

Os países africanos passaram tardiamente pelo processo de formação enquanto Estado, isso porque em um contexto de colonização do continente, no século XX, estes eram colônias e as metrópoles europeias em crescente avanço industrial buscavam recursos para tal empreitada. Um exemplo é Angola, que foi colônia de Portugal até 1975, quando, após uma guerra civil, que perdurou até 2002, alcançou a independência, mas o cenário posterior foi de conflito pelo poder entre dois grupos políticos envolvendo indiretamente EUA e URSS visto que era o cenário da Guerra Fria. Tratou-se da disputa política entre Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA). A Angola entrou em guerra civil de 1975 a 2002. Estamos falando do processo de descolonização de um país que detêm uma das maiores reserva de petróleo do mundo. OS EUA tiveram forte atuação no financiamento dessa guerra, em grande parte por seu interesse de não deixar o governo local se estabelecer a ponto de conseguir explorar seu próprio petróleo e manter sua influência na região. O resultado deste conflito é que Angola é o país que mais tem minas espalhadas em seu território e o número de mutilados também é elevado.

 

África do Sul e o Apartheid

A África do Sul é o país mais rico do continente, mas mantêm altos índices de concentração de renda. Mesmo antes do Apartheid, a população branca concentrava grande parte dos meios de produção e a tensão entre raças já se fazia presente no território. Foi em 1948, já vislumbrando o processo de descolonização pela Guerra Fria e o enfraquecimento da Europa no cenário geopolitico, que, nesse contexto, a segregação passa a ser institucionalizada como política oficial. O clima de violência se estabeleceu fortemente no país. Houve chacinas por parte do governo para reprimir protestos antes mesmo deles acontecerem. Houve conflitos como o Levante de Soweto, onde a repressão policial contra estudantes negros que iriam realizar um comício contestando a qualidade dos serviços de educação e saúde oferecidos à população negra, e o massacre de Sharpeville, repressão da polícia Sul-africana sobre manifestantes negros que realizavam uma passeata contestando a Lei do passe e que culminou em mortos e feridos. Naquele período, eram cerca de 2 milhões de brancos detendo 87% do território, contra 8 milhões de negros.
Nelson Mandela nesse contexto, era um nacionalista, advogado e político membro do Conselho Executivo. Acontece que com o regime do Apartheid, ele passa a entender que não havia como lutar ao lado do governo, e se une ao Congresso Nacional Africano, se tornando um braço armado pra lutar contra o estado. Apesar de ser inicialmente um pacifista, a situação de violência no país o fez entender que não se disporia de capacidade de lutar contra esse regime por meios não armados. Com atenuamento do conflito, ele acaba sendo preso perpetuamente. Na prisão, há relatos de que tentar enlouquece-lo de diversas formas diferentes. A ideia era abafar o líder do movimento e conter a resistência ao regime implantado, e, principalmente, manter os brancos no poder, de modo que a população negra, cerca de 70% à época, não podia votar.
Em 80 a situação se torna insustentável, o movimento ganha força. Nesse período, mais de 50mil pessoas já haviam sido mortas ou torturadas sem que o país tivesse em guerra oficialmente. A nível de contexto geopolítico, era também o fim da Guerra Fria e entrada do regime neoliberal no mundo, onde o estado se enfraquece.
Além disso, a pressão da ONU e demais instituições internacionais, somada a crise econômica e política instaurada leva a necessidade de conciliação. Em 1989 Pieter Botha, então presidente, sobre um derrame e deixa o cargo de líder do Partido Nacional para Klerk, um importante político que acreditava que o apartheid era insustentável. Klerk propõem uma negociação e promete libertar Mandela, assim como estabelecer um acordo para acabar com o Apartheid. Pela capacidade de resolver o conflito, eles ganharam o Nobel da Paz. Com a reinserção da maioria da população nas dinâmicas econômicas e sociais, a África do Sul voltou a apresentar bons índices de desenvolvimento. Importante destacar a Copa do Mundo de 2011 e a inserção do país nos BRICS, o que demonstra os avanços que vem ocorrendo no país.

 

Sudão do Sul

O Sudão do Sul é um país de formação nacional recente, tendo conquistado sua independência em 2011, por meio de um referendo no qual 98,83% da população votou a favor. A origem dessa guerra se dá na separação de fronteiras africanas estabelecida anteriormente por povos europeus, no qual pessoas de etnias, religiões e culturas muito distintas ficavam no mesmo território. A disputa por recursos nesse sentido se dá de maneira inevitável. O próprio referendo que aprovou a independência estava previsto no acordo de paz de 2005 que encerrou décadas de guerra civil. A população sudanesa do sul é de maioria cristã ou animista e se sentia discriminada pelo governo centralizado em Cartum, no Sudão, de maioria muçulmana. Esse governo tinha como objetivo impor a lei islâmica na região. O governo de Cartum no entanto reconheceu rapidamente a nova nação, num processo estável de secessão. No entanto, com a independência, diz-se que o que era uma guerra civil se tornou um conflito internacional, uma vez que houve muita dificuldade em estabelecer as fronteiras entre os países, disputando recursos como o petróleo.  Em dezembro de 2013, ainda grupos de milícias começaram a atuar na região com confrontos marcados e massacres de caráter étnico. Isto ocorreu porque o então presidente Salva Kiir destituiu o seu ex-vice Riek Machar, acusando-o de tramar um golpe. Kiir pertence a um grupo étnico chamado de dinka, representado cerca de 15% da população do país, enquanto Machar pertence ao grupo dos nuer, representando 10% da população. Apesar desse racha político que se tornou um conflito étinico, ambos faziam parte do exército de libertação do povo sudanês. Um país que declara independencia no meio de uma guerra já indica certa instabilidade econômica. Nesse caso, a situação se agravou ainda por uma inflação anual de 800%, e uma moeda muito desvalorizada. O Sudão detinha ainda toda a infraestrutura de produção de petróleo, que correspondia a 98% da economia do sudão do sul, que hoje vive uma economia de subsistência.

Esse conflito armado com perseguição étnica e fome gerou uma crise de refugiados na qual estima-se que cerca de 3 milhões de pessoas se deslocaram para países vizinhos como Uganda, Quênia, Sudão, Etiópia,