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O que é antropologia?

Confira!

Concepção platônica

Concepção aristotélica

Concepção cartesiana

Antropologia e sociologia

O que é antropologia?

Antropologia é a ciência que se dedica a estudar o ser humano socialmente, focando em características fundamentais da humanidade como a diversidade e a adaptabilidade. No entanto, em sentido amplo, a antropologia pode significar qualquer produção de conhecimento que é feita com enfoque no ser humano. Assim é a antropologia filosófica, que podemos classificar como correntes dentro da filosofia que se dedicam a definir como é o ser humano.

Na Antiguidade, enquanto os filósofos discutiam como funcionava o cosmos, temos o período cosmológico, dedicado a desvendar as questões do universo. A partir de Sócrates a filosofia começa a discutir como é o ser humano e como é a vida social. A partir daí temos o surgimento do período antropológico que, de certa forma, nunca se encerrou, já que por toda história da filosofia há pensadores dedicados a investigar a existência humana.

O ser humano para Platão

Para entender o ser humano de Platão é necessário retomar a teoria das ideias. Segundo esta, há dois planos de existência, o mundo sensível e o mundo inteligível. Nós estamos no primeiro, pelo menos materialmente. O mundo que percebemos e com o qual interagimos. Já o segundo, o mundo inteligível, só pode ser alcançado através da filosofia, da busca do conhecimento. Isso porque lá estão todas as ideias perfeitas, a mais bem-acabada representação seja lá do que for. Através da nossa alma, com o exercício da inteligência, é possível acessar essas ideias e desfazer os enganos provocados pelos sentidos, que se baseiam em cópias imperfeitas e corruptíveis das coisas.

Essa concepção torna o mundo inteligível superior, porque perfeito. Só através da razão podemos alcançar o pleno conhecimento sobre as ideias. Não apenas sobre as coisas que nos rodeiam, mas sobre justiça, belo e bem. Apenas o filósofo é capaz de compreender essas ideias. A alma é a essência do ser humano e ela não é como compreendemos hoje. Alma para os antigos estava mais para mente, nossa capacidade intelectiva, nossa cognição. A relação da alma com o conhecimento é chamada por Platão de Reminiscência. A alma, que já esteve no mundo inteligível, aos poucos vai se recordando do conhecimento que contemplou.

A partir dessa interpretação do mundo Platão estabelece a alma como sendo composta por três partes: a concupiscível, voltada aos desejos e paixões; a irascível, em que predomina a impetuosidade e os sentimentos; e a racional, que adquire sabedoria e deve ser responsável por controlar as outras partes. A cidade perfeita, segundo Platão, seria um reflexo dessa configuração da alma humana. A cidade deveria seguir a categorização das almas dos indivíduos (concupiscente, a irascível e a racional), dividindo-se assim em três grandes grupos:

• produtores – responsáveis pela produção econômica, como os artesãos e agricultores, criadores

de animais etc. Esse grupo corresponderia à alma concupiscente;

• guardiões – responsáveis pela defesa da cidade, como os soldados. Esse grupo corresponderia à alma irascível;

• governantes – responsáveis pelo governo da cidade. Esse grupo corresponderia à alma racional.

O ser humano para Aristóteles

Para Aristóteles, as ciências deveriam encontrar o que define os seres, o que os constituí em termos reais. Por isso, rejeitou a ideia de Platão de que a realidade estaria em outro mundo, compreendendo essa percepção como uma extravagância. Aristóteles acreditava que conhecer as coisas era conhecer como as coisas são no mundo em que estamos e perceber a essência era o objetivo da metafísica. A filosofia de Aristóteles reconhece a mudança e a transformação como parte do real, parte daquilo que compõe as coisas.

Fica claro para nós que o pensador estava muito mais interessado na natureza e da vida que seu mestre, o pensamento aristotélico tem grande impacto nas ciências naturais. Relacionando suas concepções sobre física e metafísica podemos compreender melhor essa dinâmica.

Para Aristóteles a natureza tem ciclos regulares, a vida nasce, cresce e morre. Estamos integrados num todo coeso e lógico. As mudanças e transformações fazem parte da ordem que guia a sucessão de acontecimentos. O inteligível e o sensível estão juntos nessa realidade dinâmica. A separação entre sensível e inteligível é possível apenas conceitualmente, já que formam um todo existencial. As coisas são o que são. Assim o filósofo propõe dois princípios que regem a existência: matéria (hylé) – daquilo que a coisa é feita; e forma (morphé) o que determina como a matéria se apresenta.

Assim é a composição do ser humano. Interpretado como um ser pertencente à natureza, Aristóteles afirma que também somos feitos de matéria e forma. A alma é o princípio da vida, a forma do corpo. É a alma (que também se refere à mente ou a consciência em Aristóteles) que determina o corpo, correspondendo esse à matéria. Unidos, matéria e forma produzem o que Aristóteles chama de substância, que é algo que existe por si mesmo. Assim, não há como a alma conhecer as coisas sem o corpo, já que a substância precisa que as duas coisas estejam juntas para existir.

O ser humano cartesiano

Após a dúvida metódica cartesiana não há mais como afirmar nem a própria existência. Mas a dúvida se converte em certeza. Sem poder garantir onde, como, quando ou porquê, Descartes intui que, se duvida, é porque pensa e, se pensa, existe. Então, ao duvidar, pensamos, prova irrefutável que somos, pelo menos, uma coisa pensante. “Cogito, ergo sum”. Enquanto pensador, somos uma coisa pensante. Mas esse pensamento não permite garantir que existem outras mentes ou o universo a nosso redor.

Descartes parte de um encadeamento de intuições para concluir outras coisas, como a existência de Deus e do mundo material. Focando a construção da realidade não mais no objeto, e sim no sujeito, o pensador se dedica a reconstruir o mundo que foi apagado pela dúvida.

A intuição sobre a existência de Deus é uma forte ferramenta para isso. Deus é um ser perfeito e infinito. Essa ideia não pode ter partido de um ser limitado e imperfeito como o ser humano. Nós não somos capazes de conter nem produzir a ideia de perfeição e, por isso, ela existe externa a nós. Isso prova a existência de Deus tal qual o pensamos.

Se Deus é perfeito, ele não será como o gênio maligno. Ele garantirá que meu contato com o mundo seja próximo ao real. Mesmo que permita alguns enganos, eles são pequenos se comparáveis aos provocados pelo gênio maligno. Sendo assim, Deus não permitiria que a minha percepção sobre o mundo fosse tão equivocada. Deus garante que aquilo que penso chegando a ideias evidentes é real. O mundo então existe, mas externo ao ser pensante, ou seja, existe por extensão (no tempo e no espaço). Como coisas pensantes somos res cogitans, enquanto as coisas que existem, mas não pensam, são res extensa. Nosso próprio corpo (que foi separado da mente pela dúvida hiperbólica) é res extensa. Essa forma de perceber a existência (que podemos incluir na discussão da metafísica) é destacadamente dualista, apesar de admitir mais uma instância. Para ele, Deus é transcendente ao nosso plano. Por isso, Descartes define que a substância que contém as características de Deus é res infinita.

A relação entre res cogitans e res extensa para Descartes é de controle. A alma (que carrega o mesmo sentido da Antiguidade) é a responsável por comandar o funcionamento do corpo humano. Isso porque o conhecimento humano é resultado de ideias inatas, que já estão em nós desde no nascimento. Essa concepção é bem parecida com a noção de reminiscência platônica. Apesar dessa afirmação assertiva e inovadora, Descartes não consegue comprovar a dinâmica mente-corpo que propunha. Mesmo assim, sua afirmação guiou muitos estudos e hoje em dia é comum afirmar que aquilo que chamamos de mente e seu órgão mais próximo (o cérebro) são responsáveis pelo controle que temos do nosso corpo, mesmo que esse seja um controle limitado.