A luta interna de Rubião
Sofia e Cristiano: conflito de interesses
Sofia e suas contradições
Continuação: análise do livro "Quincas Borba"
A análise presente nessa segunda parte abordará o início do flerte entre Rubião e Sofia, mulher casada com Palha. Embora haja sinais arriscados sobre essa paixão nascida pelo adultério, ambos sentem a necessidade de consolidação dessa relação. Veja um trecho do capítulo 45 da obra:
"Logo depois, a mesma alma, que se acusava, defendia-se. Sofia parecia tê-lo animado ao que fez; os olhos freqüentes, depois fixos, os modos, os requebros, a distinção de o mandar sentar ao pé de si, à mesa de jantar, de só cuidar dele, de lhe dizer melodiosamente coisas afáveis, que era tudo isso mais que exortações e solicitações? E a boa alma explicava a contradição da moça, depois, no jardim: era a primeira vez que ouvia tais palavras, fora do grêmio conjugal, e ali perto de todos, devia tremer naturalmente; demais, ele expandira-se muito, e precipitou
tudo. Nenhuma graduação; devia ter ido pé ante pé, e nunca segurar-lhe as mãoscom tanta força que chegasse a molestá-la. Em conclusão, achava-se grosseiro. Voltava o receio de lhe fecharem a porta; depois, tornava às consolações da esperança, à análise das ações da moça, à própria invenção do Padre Mendes, mentira de cumplicidade; pensava também na estima do marido... Aqui estremeceu. A estima do marido deu-lhe remorsos. Não só merecia a confiança dele, mas acrescia certa dívida pecuniária, e umas três letras que Rubião aceitou por ele
— Não posso, não devo, ia dizendo a si mesmo, não é bonito ir adiante. Também é verdade que, a rigor, não sou autor de nada; ela é que, desde muito, me anda desafiando. Pois que desafie agora! Sim, é preciso resistir-lhe... Emprestei o dinheiro quase sem pedido, porque ele precisava muito e eu devia-lhe obséquios; as letras, sim, as letras foi ele que me pediu que assinasse, mas não me pediu mais nada. Sei que é honrado, que trabalha muito; o diabo da mulher é que fez mal em meter-se de permeio, com os lindos olhos e a figura... Que admirável figura, meu pai do Céu! Hoje então estava divina. Quando o braço dela roçava no meu, à mesa, apesar da minha manga... "
Neste trecho, é possível perceber que Rubião, na tentativa de aliviar certo peso na consciência por estar realizando um comportamento incorreto, opta por colocar a culpa em Sofia, que, na sua interpretação, também estava instigando o personagem para concluir o adultério. Dessa maneira, a consciência de Rubião começa a se fragmentar, sendo o primeiro passo para a loucura, que ocorrerá adiante na narrativa. Nesse sentido, ele investe na esposa de seu colega, e, ao mesmo tempo, também precisa lidar com essa situação, fato que o faz recorrer às desculpas, sobre um possível incentivo de Sofia, a fim de diminuir o peso de sua culpa. No entanto, todo esse sentimento o levara à loucura, acontecimento chave da narrativa.