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A democracia chilena no Século XX

Saiba tudo sobre o Chile e a Nicarágua no século XX. Confira!

A Ditadura chilena

A revolução na Nicarágua

Crise da Revolução nicaraguese

  • Chile

 

A via chilena para o socialismo.

Em fevereiro de 1956, o Secretário-Geral soviético Nikita Kruschev realizou um poderoso discurso no 20º Congresso do Partido Comunista da União Soviética (PCUS) denunciando as atrocidades de Josef Stálin. A partir de então, o autoritarismo da antiga liderança soviética, assim como os crimes contra os direitos humanos e as políticas soviéticas levantaram um novo debate sobre o socialismo.

A partir deste novo cenário de denúncias e críticas, militantes comunistas ao redor do mundo inteiro passaram a questionar a realidade soviética. Afinal, seria possível a construção do socialismo por uma via diferente a da revolução? Seria possível um socialismo pacífico e democrático, oposto ao que foi praticado pelo stalinismo?

Neste cenário de debates, diversos intelectuais lançaram novas ideias e propostas socialistas, afastando-se definitivamente da URSS e dos Partidos Comunistas. Através desse processo, surgiu ao redor do mundo, na década de 1960, uma corrente conhecida como New Left, com propostas de um socialismo mais democrático, pacífico e preocupado com os problemas das identidades de gênero, raça, sexualidade e nação.

No caso da América-Latina, a construção de uma nova esquerda durante a década de 1960 e 1970 foi dificultada, sobretudo pelo surgimento de ditaduras militares. Afinal, o sucesso da Revolução Cubana amedrontou o bloco capitalista e novas revoluções ou movimentos sociais deveriam ser evitados.

Assim, neste contexto que, em 1970, no Chile, o socialismo surge. Entretanto, diferente da experiência cubana e soviética, o socialismo surge neste país por vias democráticas, através de eleições, em um projeto conhecido como a “via chilena para o socialismo”. Nas palavras de Allende: “Queremos construir o socialismo com democracia e liberdade, com sabor de vinho tinto e cheiro de empanada”.

Após 3 eleições sem sucesso (1952,1958 e 1964), sofrendo derrotas para candidatos conservadores como Eduardo Frei (que contou com apoio financeiro e midiático dos E.U.A), o candidato da Unidade Popular, Salvador Allende, finalmente foi eleito em 1970.

Com apenas 36,4% dos votos, Salvador Allende foi eleito presidente do Chile, reascendendo na América a preocupação americana quanto a um novo foco socialista. Um socialismo de via diferente da proposta por Cuba e U.R.S.S, mas, que na atuação política e econômica poderia se mostrar revolucionário.

 

O governo de Salvador Allende. 

Dando continuidade ao projeto da via chilena, Salvador Allende pretendia uma transição pacífica do capitalismo para o socialismo. Em pouco tempo, o novo presidente nacionalizou bancos e estatizou importantes minas de cobre, salitre e carvão, siderúrgicas, empresas de telecomunicações, as ferrovias, a exploração de petróleo e a produção de energia elétrica, chegando a manter 60% da economia sob controle do Estado. Outros projetos ainda eram debatidos e desenvolvidos, como a nacionalização de outros serviços essenciais e a reforma agrária.

Nas questões políticas, a via chilena também representou a conquista de maiores direitos aos trabalhadores e até mesmo um inicial aumento salarial. A prometida liberdade e respeito aos direitos humanos era garantida pelo novo governo.

Apesar das mudanças sociais do novo governo, a partir de 1972, os resultados foram diferentes do planejado. Com a queda do preço do cobre, principal produto exportado pelos chilenos, e o crescimento da inflação, a crise econômica se agravou.

Neste cenário, apesar de Allende defender uma política de não-alinhamento e a não dependência à URSS, acabou precisando do apoio soviético. Tendo em vista que no contexto de Guerra Fria o bloco capitalista não permitia o surgimento de um novo regime socialista, Allende se viu cercado por seus opositores e pelo apoio da CIA aos seus rivais.

Assim, por um lado, o presidente Nixon aprovava medidas de embargo ao Chile e enviava dinheiro e soldados para o país, apoiando grupos opositores como o Patria y Libertad e o jornal El Mercurio. Por outro lado, a U.R.S.S também encaminhava orientações e apoio financeiro para garantir Allende no poder, tornando o Chile um cenário típico da Guerra Fria.

Ainda que o apoio soviético existisse, o imperialismo norte-americano, no entanto, conseguiu maior objetividade no combate a Salvador Allende. Através de diversas manobras da elite chilena, articuladas com o presidente Nixon e com a C.I.A, a economia chilena foi sufocada.

Um dos eventos mais importantes que impactaram essa estagnação econômica teria sido uma greve dos caminhoneiros em 1973. Durante 26 dias, milhares de caminhoneiros pararam no país, influenciando ainda outras classes ao movimento grevista. O ato dos caminhoneiros, apoiado por lideranças do grupo Patria y Libertad causou sérios prejuízos financeiros ao país.

Estima-se que neste período, a inflação chilena chegou a crescer de 22,1% em 1971 para 163,4% em 1972 e 381,1% em 1973. Essa atmosfera caótica, a pressão da elite empresarial, da CIA e até mesmo de grupos de esquerda mais radicais, como o Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR) colocou em xeque o governo de Allende.

 

O golpe de Augusto Pinochet e a ditadura chinela.

Em toda a história chilena, a participação militar na política sempre foi tímida, diferente de países como Brasil, que vivia então uma ditadura militar. No entanto, a crise deflagrada durante o governo Allende, o temor ao socialismo e o apoio dos E.U.A levaram a ala militar a uma nova estratégia.

Em setembro, pressionado pela ala militar, o General Prats, grande defensor da Constituição e importante nome na defesa contra tentativas de golpes, renunciou ao cargo de comandante em Chefe das Forças Armadas. Para o seu lugar, Allende indicou o General Augusto Pinochet.

Não demorou muito para que no dia 11 de setembro, Pinochet iniciasse um movimento golpista em Santiago. Na manhã deste dia, militares cercaram diversos complexos industriais e com apoio aéreo norte-americano invadiram o Palácio La Moneda. Allende, sempre um defensor do pacifismo, decidiu não apoiar uma revolução armada ou uma guerra civil.

Visto isso, os aviões bombardearam o palácio, mesmo com o presidente em seu interior, que acabou assassinado pelo golpe de Estado mais sangrento da história do país. Terminava assim o governo socialista de Salvador Allende e começava, enfim, a ditadura de Augusto Pinochet.

Os 17 anos de governo Pinochet se tornou um movimento contra-revolucionário. Assim como as ditaduras no Brasil e na Argentina, com apoio norte-americano, visou derrotar a ameaça socialista no país e na América e garantir a permanência do capitalismo. Entretanto, para garantir esse cenário, Pinochet transformou o país em uma ditadura que promoveu a perseguição, exílio e assassinato de milhares de pessoas. Estima-se que o regime tenha assassinado aproximadamente 3.000 pessoas e forçado cerca de 200.000 ao exílio, além outros de milhares de torturados.

Apesar de um plano político extremamente conservador, com intervenções arbitrárias do Estado, no plano econômico, houve uma forte adoção das teorias neoliberais. Formado por um grupo de economistas conhecidos como os “chicago boys”, o governo de Pinochet desestruturou toda a formação socialista de Allende para um capitalismo de livre mercado. Apesar do desenvolvimento econômico do período, o legado da política neoliberal para o país foi a criação de um abismo social que atinge até hoje o país.

Durante a década de 1980, a imprensa internacional e associações de Direitos Humanos, inclusive norte-americanas, passaram a denunciar os crimes do ditador. Suas práticas violentas, as perseguições, torturas e mortes estamparam capas de jornais no mundo inteiro. Essa pressão internacional, somada a insatisfação popular no país levou Pinochet a realizar, em 1988, um referendo popular que decidiria a continuidade do seu governo.

A grandiosa campanha do “No” conquistou a vitória na eleição, enfim levando ao fim, em 1988 a ditadura chilena, que voltou a encontrar eleições em 1989 e se redemocratizar em 1990. Pinochet, assim, abandonou a presidência, mas mantendo cargos como senador vitalício e comandante em chefe do exército chileno ate 1998, quando foi preso acusado de corrupção e crimes contra a humanidade.

 

 

·         Nicarágua.

 

A ditadura da família Somoza. 

Para entender a história da Nicarágua durante o século XX, é necessário falar da família Somoza. Entre 1936 e 1979, os Somozas dominaram a política nicaraguense com uma ditadura hereditária apoiada pelo governo dos Estados Unidos.

Inicialmente, Anastasio Somoza García, o Tacho, foi eleito presidente em 1936, pelo Partido Nacionalista Liberal. Apesar de ter representado no passado os ideais liberais, ao assumir a presidência, reformou a Constituição e lançou parentes e militares nos principais cargos públicos, iniciando, assim, uma ditadura no país.

Em 1944 chegou a abrir mão do poder por pressões americanas, no entanto, com apoio da Guarda Nacional, articulou um golpe de Estado que o colocou outra vez no poder. Desta forma, com manobras políticas, golpes e fraudes eleitorais, Tacho permaneceu no poder até 1956, quando foi assassinado.

Apesar da morte de Somoza, seu filho mais velho, Luis Anatasio Somoza Debayle se tornou o novo presidente do país, colocando seu irmão mais jovem, Anastasio Somoza Debayle, o Tachito, na liderança da Guarda Nacional. O primogênito Somoza governou a Nicarágua até 1963, deixando o poder, mas mantendo seus aliados na presidência como marionetes políticas.

Luis Somoza morreu em 1967, no entanto, a família permaneceu no poder graças a Tachito, o filho mais novo e terceiro presidente dos Somozas. Entre 1967 e 1979, governou a Nicarágua mantendo práticas muito parecidas com a de seus antecessores, como a corrupção generalizada, a perseguição política, tortura e prisões arbitrárias. A luta de Somoza contra a esquerda nicaraguense rendeu, inclusive, apoio dos Estados Unidos, que temia a influência cubana e soviética sobre o país.

Anastasio Somoza governou o país até 1979, quando renunciou à presidência pressionado pelo movimento revolucionário sandinista do país. Tachito, portanto, foi o último dos Somozas na presidência, encerrando, enfim, uma dinastia de 43 anos.

 

A Revolução Sandinista na Nicarágua. 

Desde o século XIX, os E.U.A realizaram diversas investidas imperialistas na América Central, buscando sempre garantir seus interesses econômicos na região. Após a segunda guerra mundial e com o início da perseguição comunista, essa política intervencionista ganhou novos propósitos, ainda mais violentos.

Assim, no caso da Nicarágua, no início do XX, o interesse norte-americano estava na construção de canais e na apropriação de territórios e posteriormente, como visto, concentrou-se na luta contra o socialismo. Logo, no primeiro momento, destacou-se neste país o ativismo de Augusto César Sandino. Crítico ao imperialismo norte-americano em seu país, Sandino engajou-se, a partir de 1926, em uma luta armada contra os soldados americanos e contra os regimes apoiados pelo norte.

Sandino logo se tornou um importante símbolo de luta e resistência no país, sendo, inclusive, muito perseguido. Neste contexto, portanto, Sandino acabou sendo assassinado em 1934, pela Guarda Nacional, então comandada por Anastasio Somoza García.

A imagem de Sandino, após seu assassinato, tornou-se definitivamente um símbolo de luta no país. Assim, em 1961, Sandino serviu como inspiração para um novo grupo revolucionário, que mantinha ideologias e táticas da guerrilha sandinista, a chamada Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN).

A nova aliança revolucionária surgia sob forte inspiração dos revolucionários cubanos, mantendo uma visão marxista e contanto com a grande participação de cristãos, que passaram a defender ideias como a da Teologia da Libertação. Logo, a FSLN se tornou a principal frente de luta contra os Somozas e contra o imperialismo.

Vale destacar que as décadas de 1960 e 1970 foram marcadas por diversos movimentos revolucionários ao redor do mundo. Na Europa, eventos como os de 1968 levaram estudantes as ruas, nos Estados Unidos, o movimento Hippie contestou o autoritarismo do governo e a Guerra do Vietnã, na África, os movimentos de libertação nacional conquistavam espaço e, na América do Sul, diversos guerrilheiros iniciavam suas lutas contra as ditaduras militares.

No caso da Nicarágua, não foi diferente, a luta teve início na década de 1960, mas se aprofundou a partir de 1978, com a morte do jornalista Pedro Joaquim Chamorro. Em 1979 a guerrilha sandinista conseguiu tomar a capital e o Palácio Nacional de Manágua. Somoza é exilado e, em seu lugar, assume o poder a Junta de Governo de Reconstrução Nacional.

O sandinista Daniel Ortega se tornou o coordenador da Junta e, em 1984, acabou sendo eleito o novo presidente da Nicarágua. O governo sandinista foi marcado ainda pela continuidade dos conflitos, visto que forças defensoras de Somoza e influenciadas pelos E.U.A ainda desejavam retomar o poder. Os chamados “contras” eram vários grupos rebeldes que se opunham ao sandinismo e ajudaram a desgastar o governo revolucionário.

No entanto, os Sandinistas ainda conseguiram realizar grandes reformas políticas e econômicas no país, como a própria reforma agrária e a reforma educacional.

Através da grande Cruzada Nacional de Alfabetización, apoiada pelo educador brasileiro Paulo Freire e inspirada em seus métodos, a Nicarágua conseguiu, em 5 meses, reduzir as taxas de analfabetismo de 50,2% para 12,9%.