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O que é a ação social?

O conceito de ação social é o mais importante de toda a sociologia de Max Weber. Neste vídeo, a professora Lara explica o que ele significa

Ação racional com relação aos fins

A ação racional com relação a valores

A ação emotiva ou afetiva

A ação tradicional

Max Weber (1864 – 1920) foi um sociólogo, economista e historiador alemão, um dos fundadores da Sociologia, juntamente com os outros dois sociólogos clássicos, Émile Durkheim (1858 – 1917) e Karl Marx (1818 – 1883).  Diferentemente de Durkheim, que defendia o método comparativo, e do materialismo dialético de Marx, Weber desenvolveu um método de análise sociológica que ficou conhecido como método compreensivo, que se tornou a segunda vertente do método sociológico, tendo surgido na Alemanha. 

Weber defende que os fenômenos sociais exigem a formulação de um método próprio, distinto daquele utilizado pelas Ciências Naturais. Enquanto as Ciências da Natureza explicam os fenômenos a partir da regularidade que apresentam, as Ciências Sociais devem compreender as manifestações que ocorrem dentro de uma sociedade. Isso só é possível, segundo Weber, através da análise dos sentidos atribuídos pelos indivíduos à sua vida e à sua maneira de agir no âmbito da cultura da qual faz parte.   

Isso significa uma grande mudança em relação ao método de Durkheim que, em As Regras do pensamento sociológico (1895), defende um predomínio da sociedade em relação ao indivíduo. Ou seja, que os fatos sociais existem independente da vontade dos indivíduos, além de serem gerais e coercitivos. Já para Weber, cada fenômeno social tem uma particularidade que deve ser levada em conta pela análise sociológica, que deve tornar compreensível e tentar interpretar as intenções e sentidos das ações dos indivíduos dentro de uma certa cultura. Para Weber, observar a sociedade tal qual um fenômeno reproduzível a exaustão para determinar suas regras é uma impossibilidade (por motivos óbvios), já que a sociedade não cabe num laboratório. Além disso, há diversas implicações metodológicas e éticas em isolar um indivíduo ou um grupo social num experimento. Como ter certeza de que os resultados serão confiáveis? Como saber se o indivíduo reagiria, no interior da sociedade, da mesma maneira como se comporta num cenário diferenciado? A quantidade de variáveis que podem interferir num fenômeno social é absurdamente grande e tentar rastrear isso é um despropósito, já que a humanidade na sua unidade analisável (o indivíduo) se apresenta imensamente diverso (em comparação) e volátil (em comportamento). Devemos aceitar as limitações dessa prática científica e seguir o que importa para nós mesmos (como cientistas e como pessoas), os motivos pelos quais fazemos o que fazemos.

As implicações da postura teórico-metodológica de Weber são claras. Como já vimos, as ciências sociais são muito diferentes das naturais. Também podemos concluir que a pretensa neutralidade da ciência é uma impossibilidade nas ciências sociais, estamos inseridos naquilo que pesquisamos, diariamente produzimos alterações, mudanças e interferências nos fenômenos sociais. Além disso, podemos imaginar que fazer pesquisa sociológica para Weber é como procurar objetos em um cômodo escuro. Porque, diferente dos outros clássicos, Weber não tem uma regra geral estruturante da sociedade. Seu objeto de estudo é o indivíduo. Mas Weber não nos jogou despreparados nesse quarto, ele nos deu lanternas e bússolas. Esses instrumentos de análise são os tipos ideais.

Os tipos ideais são representações perfeitas de um fenômeno. No tipo ideal estão listadas todas as características que um fenômeno deve apresentar para ser classificado de uma dada forma. No entanto, o mais importante sobre o tipo ideal é que ele não existe na realidade, porque ele é uma ideia. Ou seja, você nunca vai encontrar num fenômeno que se manifeste exatamente como o tipo ideal afirma. Em vez disso, você encontrará fenômenos muitos parecidos, que se desviam em um ou outro ponto do tipo ideal, mas podem objetivamente ser enquadrado nele. O tipo ideal é uma concepção provisória sobre mundo, que nos guia em busca da compreensão dos fenômenos, mas nunca submete a realidade a essa classificação. Essa proposta de Weber é interessante porque nos permite usar uma ferramenta eficaz para identificar fenômenos ao mesmo tempo que afirma a primazia da realidade sobre nossa subjetividade ao fazer uma análise.

Do ponto de vista do objeto, segundo Weber, a única coisa que pode ser, de fato, observada dentro de uma sociedade são os indivíduos, a maneira como agem e como eles compreendem suas próprias ações. A sociologia tem como tarefa fazer a descrição desses comportamentos, assim como interpretá-los. A unidade mínima da análise sociológica, portanto, são os indivíduos, e eles praticam ações sociais que estão baseadas na tradição, nos afetos ou na razão, o que nos remete a tese de Weber de que há quatro tipos fundamentais de ações sociais que explicam as causas dos fenômenos que observamos nas sociedades, são elas: ações tradicionais, ações afetivas, ações racionais orientadas para valores e ações racionais orientadas a fins.

Antes de apresentar os tipos ideais de ações sociais, é necessário definir ação social. O tipo ideal de ação social é qualquer ação orientada a outra pessoa. São ações que levam em consideração alguém, que tem como sentido um outro indivíduo (ou vários), ou uma ação em que resta uma expectativa. Normalmente essas ações ocorrem no interior de relações sociais, que são comportamentos em que os indivíduos são um a referência do outro para guiar suas ações, ou compartilham a referência de sentido que os orienta. Há na relação social a noção de reciprocidade e compartilhamento, e a rede de relações sociais é que forma a sociedade.

As ações tradicionais são aquelas ações que se fundamentadas em hábitos ou costumes da tradição. Por exemplo: Quando saímos de casa e nos dizem “Bom dia!” e respondemos também com um “Bom dia!”, trata-se de uma ação social baseada no hábito, independentemente, por exemplo, de ser ou não, efetivamente, um bom dia. Trata-se de uma forma de agir consolidada através do costume.

Já as ações afetivas são aquelas motivadas pelo estado emocional do indivíduo e não por conta da busca por atingir qualquer fim.  Por exemplo: Sair correndo ao receber uma ótima notícia. É importante ressaltar que, para Weber, os tipos de ação não definem a realidade, mas o contrário. Essas classificações servem para identificar ações sociais e buscar o sentido dessas ações, mas é perfeitamente possível que uma ação social seja tradicional e afetiva, como almoçar à mesa no domingo com a família pode ser ao mesmo tempo um hábito e uma possibilidade de estar com quem se gosta.

As ações racionais orientadas a valores são ações que se fundamentam nos valores dos indivíduos que as praticam, ou seja, é quando os indivíduos agem levando em conta os seus princípios, independentemente das consequências que essas ações possam ter. Não é o fim que orienta ação, mas sim o valor, seja ele estético, ético, político, etc.… Por exemplo: No futebol quando um jogador faz uma jogada bonita ou dá um drible em seu adversário, apenas pela beleza da jogada. Ou quando uma categoria faz uma manifestação para cobrar melhores condições de trabalho, mesmo sabendo que pode acabar sofrendo represália.

Por fim, temos as ações racionais orientadas a fins, que são aquelas ações que praticamos por fazermos um cálculo racional para que possamos alcançar um certo fim que desejamos. Por exemplo: Se desejo me tornar um músico, devo estabelecer os meios através dos quais posso atingir o meu objetivo, a minha finalidade, que no caso é ser músico.  Assim como no caso dos que buscam ser aprovados para um curso de nível superior, eles devem organizar suas ações no intuito de atingir aquele objetivo.  Qual será a melhor alternativa para atingir o meu objetivo? Quando fazemos essa pergunta e orientamos nossas ações de maneira racional a fim de atingir um objetivo, estamos praticando ações racionais orientadas a fins.