Brasil e a ocupação litorânea
Economias de arquipélago
Industrialização e a concentração espacial
Projetos de ocupação da Amazônia
Expansão da fronteiro agropecuária no Brasil
O Espaço Geográfico pode ser entendido como o que a humanidade já gerou alterações. O estudo da formação do espaço geográfico brasileiro, ou formação socioespacial busca estudar os processos que influenciam a localização de determinadas atividades, que acabam por regular os processos de ocupação e a formação de cidades e infraestrutura. Para entender esse processo, devemos pensar no desenvolvimento das primeiras atividades do período colonial, e posteriormente o processo de modernização com a industrialização.
A partir da invasão e ocupação portuguesa, as primeiras atividades econômicas se organizavam nas estruturas de grandes latifundios agroprodutivos. Quem recebia essas terras, doadas pela coroa portuguesa por conta da política das sesmarias, tinha a missão de desenvolver uma infraestrutura, consolidando o crescimento das primeiras cidades. Sobretudo ao redor dos eixos de transporte, por serem os espaços de circulação de capital, pessoas, mercadoria, além de facilitar o acesso aos centros, cresciam as vilas e cidades que dariam origem posterior a grandes metrópoles brasileiras.
No entanto, a organização das atividades econômicas não contava nem com infraestrutura suficiente para se dar de modo planejado e integrado. Por conta disso, diz-se que era uma econômia de arquipélagos, ou seja, atividades econômicas isoladas, sem comunicação entre si ou sem um projeto integrado de desenvolvimento.
Arquipélagos econômicos: Os ciclos econômicos e a organização do território brasileiro
- O Ciclo do Pau Brasil: O território brasileiro, inicialmente, se restringia a parte sob o domínio português determinada pelo tratado de Tordesilhas. Sendo assim, Portugal fez a divisão em capitanias hereditárias, como forma de ocupar essa nova colônia. Nessa fase inicial destacou-se o ciclo econômico do Pau Brasil, no entanto, esse primeiro ciclo econômico não foi fundamental para a ocupação e organização do território, uma vez que a atividade tinha caráter seminômade e predatório, sem o intuito de fixação no lugar, acarretando apenas a construção de algumas vilas e povoados. Em alguns casos chegaram a ser construídas feitorias para proteção contra navios inimigos e para armazenar as madeiras até serem transportadas, mas o resultado foi a grande devastação das matas costeiras e nenhum núcleo de povoamento permanente.
- O Ciclo do Açúcar: Esse ciclo foi muito importante para a criação dos primeiros povoados, principalmente pela participação da figura dos bandeirantes. A necessidade de mão de obra para trabalhar nas lavouras e no beneficiamento da cana-de-açúcar leva ao surgimento das bandeiras, que tinham como principal objetivo capturar índios para trabalharem nas plantações e produção do açúcar. A partir dessas expedições, começa o processo de ocupação portuguesa em território espanhol, ultrapassando a linha do Tratado de Tordesilhas. É importante destacar que a ocupação do território brasileiro se deu nas regiões litorâneas, principalmente pela importância que as cidades portuárias tinham na época, sendo a navegação o principal meio de transporte, e por onde se escoava toda a produção de açúcar e por onde chegavam os escravos. Os engenhos e as lavouras de açúcar foram fundamentais para a ocupação do território brasileiro e o açúcar transformouse no alicerce econômico da colonização portuguesa no Brasil entre os séculos XVI e XVII.
- O Ciclo do Ouro: Com o crescimento da produção de açúcar por parte das colônias holandesas e francesas, principalmente nas Antilhas e nas Guianas, a produção do açúcar no Brasil não era mais tão vantajosa, de forma que a coroa Portuguesa decidiu voltar a busca por metais preciosos. Novamente, os bandeirantes vão ter um papel fundamental, pois ao desbravarem terras ainda desconhecidas vão abrir caminho para a descoberta do ouro em Minas Gerais, e também no Mato Grosso e em Goiás. Esse ciclo vai ser importante por se tratar de regiões interioranas, sendo importante para a ocupação e formação do território nacional. Com essa descoberta, vai ocorrer uma intensa migração em busca do ouro e metais preciosos, que vai proporcionar a criação de diversos povoados e cidades. Com o intuito de diminuir os contrabando do ouro, Portugal transfere a capital da colônia de Salvador para o Rio de Janeiro. Com isso o eixo de desenvolvimento vai se transferir e se localizar na região hoje conhecida como Sudeste, devido à importância política do Rio de Janeiro, a mineração em Minas Gerais, e com o crescimento da produção do café, ciclo econômico seguinte, e que se desenvolve fortemente no Rio de Janeiro e principalmente em São Paulo.
- O Ciclo do Café: A atividade cafeeira surge no século XVII, mas teve sua fase mais vigorosa no século XIX. O café foi fundamental para o Brasil, pois foi nesse período que pode-se dizer que a consolidação do território nacional e o povoamento ocorreu, sem falar na importância que a atividade teve como motor da economia e o início do processo de industrialização. O desenvolvimento da produção do café leva ao crescimento das áreas separadas para a plantação dessa cultura, que se expande e organiza ao redor das ferrovias, com o objetivo de facilitar o escoamento para a exportação. A introdução dessa cultura pelo interior, principalmente da região sudeste, permitiu que essa região tivesse um maior desenvolvimento e investimento, de forma que mesmo após o declínio do ciclo do café, a região sudeste assegurou a supremacia na economia nacional, devido a melhor infraestrutura disponível, fruto das riquezas oriundas da atividade cafeeira.
- Outros ciclos econômicos brasileiros: Outros ciclos econômicos também tiveram papel importante na organização do território brasileiro, principalmente para interiorizar a ocupação, saindo um pouco da região litorânea. Nesse sentido, pode-se destacar o ciclo das drogas do sertão, que foi a descoberta de frutas e especiarias na região amazônica, possibilitando a criação de povoados. Outro ciclo importante nesse sentido de interiorização foi o ciclo da borracha, que surgiu no século XIX e foi muito importante para a ocupação desenvolvimento da economia da região norte, como a urbanização de cidades como Belém e Manaus. O algodão também teve a sua importância, enquanto ciclo econômico, por levar o desenvolvimento, principalmente ao Maranhão e ao Rio Grande do Norte.
Quando observados todos esses ciclos econômicos geograficamente, fica claro que o desenvolvimento do território brasileiro ocorreu em forma de arquipélago (ilhas). Conforme as atividades econômicas mudavam, ocorria o surgimento de novas cidades no entorno dessa nova atividade, e em muitos casos, muito distante umas das outras. Então podemos destacar que as atividades ocorriam de formas isoladas, e não interligadas entre si, basicamente buscando atender a demanda externa. Então pode-se dizer que a expansão do território brasileiro ocorreu de forma desigual. Isso foi fruto do modo de produção latifundiário para exportação, impedindo que as mercadorias fossem comercializadas entre as regiões do país, preferindo atender ao comercio externo, até mesmo devido à sociedade escravocrata que existia, se desdobrando em pouco mercado interno.
O início do processo de industrialização brasileiro e o destaque da região Sudeste
Para entender a industrialização do Brasil é necessário voltar ao ciclo do café, que foi o motor inicial para que esse processo ocorresse. Até o início da década de 1930, como ressaltado anteriormente, o espaço geográfico brasileiro foi estruturado exclusivamente ao redor do modelo primário-exportador, fazendo com que a configuração das atividades econômicas fosse dispersa e com rara ou ausente interdependência, o que implicou no processo de formação do território brasileiro. A partir do crescimento da economia cafeeira, o processo de urbanização se intensificou, principalmente no Rio de Janeiro e em São Paulo, com o objetivo de facilitar o escoamento da produção e a distribuição, através da ampliação das linhas férreas. Com o fim da escravidão e a chegada dos imigrantes, o mercado consumidor cresceu consideravelmente, o qu possibilitou a produção para o mercado interno e o desenvolvimento das indústrias. A concentração da riqueza na região Sudeste, devido a riqueza oriunda do café, fez com que as indústrias também se concentrassem na região aumentando as disparidades inter-regionais.