Contexto histórico
Influência de Aristóteles
São Tomás de Aquino
Teoria das cinco vias
Transição histórica
Como já vimos na Patrística, houve um momento na história em que a fé e a razão se aproximaram tanto que produziram uma tradição filosófica de cunho essencialmente religioso, que viria posteriormente a dar origem a teologia.
Após a consolidação do cristianismo como religião e de sua relevância política expressa na entidade mais influente do medievo, a Igreja Católica, a filosofia cristã passou do período de defesa e disseminação da fé para o da sistematização e organização dos dogmas religiosos. Questões cada vez mais profundas surgiam (como esperado atividade filosófica) e os pensadores buscavam dar conta da necessidade cada vez maior de explicação sobre a origem e natureza da religião cristã e sua divindade suprema.
A Europa passou por um período de expansão da educação, iniciado por Carlos Magno, rei dos francos. Foram fundadas várias escolas ligadas às instituições católicas e a cultura greco-romana voltou a ser difundida. Esse período ficou conhecido como a renascença carolíngia. A educação romana se tornou o modelo dessas escolas onde o trivium (gramática, retórica e dialética) e o quadrivium (geometria, aritmética, astronomia e música) eram ensinados.
A produção de conhecimento submetida a esse contexto histórico ficou então conhecida como escolástica (de escola). A base platônica continuou relevante, mas, com o tempo, o aristotelismo se tornou a matriz dessa linha de pensamento.
Durante a Escolástica importantes questionamentos se desenvolveram para além da base platônica da Patrística. O problema básico da filosofia cristã, a relação harmoniosa entre fé e razão continuou preponderante, inclusive essa relação foi “reajustada” com a razão ainda se submetendo a fé, mas ganhando um pouco mais de autonomia. A lógica e a linguagem são temas relevantes desse período, mas como esses assuntos serão temas de aulas futuras, nos dedicaremos a questão da sistematização da religião que a Escolástica representou, abordando seu principal expoente.
São Tomás de Aquino
Nascido em 1225, na Itália, de família abastada, Tomás se tornou o mais importante autor católico. Em sua obra Suma Teológica, faz uma intensa defesa da fé e procura esmiuçar toda doutrina cristã.
Tomás cristianizou o pensador grego Aristóteles ao tomar seus principais conceitos e pô-los a serviço da fé. As quatro causas aristotélicas, o princípio de não contradição, as noções de substância, ato e potência foram fundamentais para a fundamentação da prova racional da existência de Deus. Algumas “correções” são feitas por Tomás de Aquino ao cristianizar o pensamento aristotélico. Por exemplo, o vir a ser, passagem do Ato para a Potência, mesmo em seres da natureza, não é autodeterminado, pois quem define essa mudança é Deus. Tomás também cria uma distinção entre a coisa e a essência (antes profundamente associadas, já que sem sua essência, uma coisa não existe). Deus é o único ser que existe em plenitude, ou seja, que sua existência coincide com sua essência. Para um ser humano, existir é o ato de ser sua essência, mas o ser humano está exposto a possibilidade de deixar de existir, deixando de participar de sua essência. Como Deus é o ser pleno, Ele existe sempre e permite que outras essências se realizem em seres existentes.
Como vimos no início do resumo, a filosofia medieval busca uma conciliação entre fé e razão. Não foi diferente no pensamento tomista. Tomás crê que Deus pode e deve ser provado pela mente humana, embora a razão não seja capaz de conhecê-lo em sua totalidade. O que os sentidos não alcançam a fé deve completar.
Provas da existência de Deus
A fim de provar racional a existência de Deus, em sua obra, Suma Teológica, Tomás expõe os argumentos que ficaram conhecidos como cinco vias.
1. Motor imóvel - Tudo que se move precisa ser movido por alguém, mas quem moveu esse alguém? Isso iria ao infinito se não houvesse um motor imóvel, ou seja, algo que dê origem a todo movimento, mas que não se move. Tomás de Aquino diz que esse motor é Deus.
2. Causa primeira - Tudo que existe precisa ter sido criado, não é possível que tudo tenha em si mesmo sua origem, mas se uma coisa dá origem à outra é preciso que haja uma causa que tenha causado a sucessão dos efeitos, essa primeira causa é Deus.
3. Necessário e contingente - Tudo que existe um dia não existiu e pode se extinguir, mas se tudo é contingente nada poderia existir. Já vimos que para que algo exista é preciso que alguma coisa anterior dê origem, logo, há um ser que sempre existiu sem ter sido gerado por nada, um ser necessário, que é gerador de todos os seres.
4. Graus de perfeição - todas as coisas são melhores ou piores quando relacionadas a outras, precisa haver um paradigma de comparação. Se uma coisa é mais ou menos quando comparada com outras, é preciso admitir que há um ser que contém em si todas as perfeições em seu máximo grau, esse ser é Deus.
5. Finalidade do ser - Todas as coisas na natureza obedecem a uma ordem e se orientam a um fim, como a flecha orientada pelo arqueiro. Assim existe um ser que ordena todas as coisas e faz com que tudo chegue a seu fim, esse ser é Deus.