Quilombos. conceituação
Quilombos. Tipologia e história mínima
Quilombos. O caso do Paraná
Quilombos. A situação atual no Caso Paraná
Entre os séculos XVI e XIX, o tráfico negreiro e a escravidão africana ficaram amplamente conhecidos como formas lucrativas de realizar a colonização das Américas e, posteriormente, de manter a produção econômica em diversos países do continente. Em levantamentos recentes da Universidade de Emory, cerca de 4,8 milhões de escravizados desembarcaram no litoral brasileiro entre os séculos de escravidão, sendo que, dentre eles, cerca de 300 mil nem ao menos chegaram com vida.
Tendo em vista a lucratividade e o anseio de colonos e aristocratas pela exploração deste tipo de mão de obra, percebe-se que a escravidão africana se tornou uma prática que se expandiu por todo o continente americano, sendo marcada pela violência, pela desumanização, pelo aculturamento e pela construção das bases de uma sociedade racista que ainda vigora em países como Brasil e Estados Unidos.
No entanto, apesar das violências impostas aos escravizados e da aculturação provocada, a opressão desse sistema não impediu a resistência dos escravizados, muito menos a prática de suas culturas, religiões e tradições, que tentam até hoje sobreviver entre as comunidades negras.
Assim, dentre as formas de resistência encontradas pelos escravizados, podemos citar não só as práticas mais violentas, como o suicídio, o aborto e as revoltas contra Senhores, mas também as próprias fugas de cativos e o posterior aquilombamento desses grupos. Inicialmente, muitos dos fugitivos se refugiavam em matas ou lugares isolados, formando comunidades complexas e amplas com outros libertos, com defesas militares, agricultura, pecuária e até mesmo comércio com outros grupos. Apesar desta ser uma característica inicial, outros quilombos, no entanto, não se formaram em regiões isoladas, mas sim nos meios urbanos, conquistando grande autonomia, ou até mesmo em fazendas abandonadas, com fácil acesso.
Vale destacar que, apesar dos quilombos possuírem como característica fundamental a organização de escravizados libertos e reproduzir muito das relações sociais e formas administrativas já existentes na África, estes espaços, algumas vezes, também acolhiam indígenas e até mesmo pessoas brancas. Também é importante esclarecer que, exatamente por reproduzirem as práticas e relações sociais já existentes na África, a ideia de uma estrutura escravista mercantilista dentro dos quilombos não se sustenta.
Hoje, a maior parte das fontes encontradas por historiadores para estudar os quilombos é arqueológica, ou seja, bens materiais, peças, armas, ruínas, esculturas ou pinturas, visto que os quilombos não deixaram fontes escritas. No entanto, durante muitos anos, os relatos sobre os quilombos que foram deixados por bandeirantes e colonizadores, transmitindo a interpretação pessoal desses homens sobre o que percebiam nos quilombos, foram utilizados como fontes incontestáveis para entender as relações quilombolas e classificá-las apressadamente como escravidão.
Assim, estudos mais recentes revelam que as relações entre os libertos e a administração dos quilombos estava muito pautada nas divisões de trabalho e em hierarquias sociais tradicionais na África, com reis e rainhas que eram símbolos de liderança, coragem e vitória, logo, as comunidades trabalhavam não em um sistema de escravidão mercantil, mas sim baseadas na obediência e respeito e na noção da divisão do trabalho para o funcionamento do quilombo.
Esta questão pode ser analisada na própria formação do quilombo dos Palmares, a mais famosa forma de resistência africana durante o ciclo do açúcar, localizada na capitania de Pernambuco. Muitos líderes ficaram conhecidos pelos seus reinados em Palmares, pela resistência contra os bandeirantes, pelo ataque a engenhos e pela libertação de novos cativos. Dentre eles, figuras como Ganga Zumba, Zumbi dos Palmares e Dandara foram responsáveis pela liderança de grupos militares, pela negociação com portugueses e pela organização de diversas unidades dentro do quilombo, sendo respeitados como reis.
Um dos períodos de maior prosperidade de Palmares foi o das invasões holandesas a Pernambuco, que provocou uma desestabilização política na capitania, reduzindo os ataques aos quilombos e permitindo a fuga de muitos cativos. No entanto, apesar da força dessas formações, muitos quilombos foram destruídos pelos bandeirantes nas expedições do século XVII.