Formação do espaço: Meio natural e meio técnico
Meio técnico ao MTCI (Meio-técnico-científico-informacional)
O que seria uma revolução industrial?
A primeira revolução industrial
A localização industrial, padrão de Manchester
A segunda revolução industrial
Comércio e concorrência mundial
Introdução
A Geografia é uma ciência que tem como objeto de estudo o espaço geográfico, isto é, o espaço natural modificado permanentemente pelo homem por meio do seu trabalho e das técnicas por ele utilizadas. Nesse contexto, existem outros três conceitos que precisam ser diferenciados. São eles:
Meio Natural
Corresponde ao momento em que o ganho era determinado pela natureza, isto é, a produção dependia do tempo da natureza.
Meio Técnico e sua relação com a Revolução Industrial
Meio técnico: A partir da Revolução Industrial (mudança abrupta na forma de produzir), o ganho passou a ser determinado pela capacidade de produzir. É nesse sentido que os países pioneiros no processo de industrialização conseguiram uma grande acumulação de capital e, por isso, até pouco tempo, esses países eram sinônimos de países ricos.
Meio técnico-científico-informacional (MTCI): A constante evolução das formas de produzir levou a novas fases da Revolução Industrial e à expansão dessa atividade. Atualmente, no contexto do MTCI, é a capacidade de produzir tecnologia (informação) o fator mais importante. Os tecnopolos são os principais centros de produção de tecnologia e informação na Terceira Revolução Industrial.
Revolução Industrial
A Revolução Industrial consiste em uma mudança radical no modo de transformar a matéria. A constante evolução técnica e diversas outras características permitem dividir esse processo em três ou quatro fases.
Primeira Revolução Industrial (Século XVIII - 1789)
Deriva de um momento caracterizado pela mudança dos processos artesanais (produção manual sem uso de máquinas) para as maquinofaturas (intenso uso de máquinas no processo de fabricação). Ela aconteceu na Inglaterra, sendo este o país que saiu à frente do processo industrial. A Inglaterra passava por um período de estabilidade política, e era uma grande exportadora de tecidos, o que permitiu o desenvolvimento de pequenas e médias fábricas para otimizar a produção têxtil. Além disso, ela tinha o controle de diversos portos e navios, que permitiram escoar a produção e ampliar o mercado consumidor de seus produtos. Ela contava com a matéria prima de seu território e também de suas colônias. Nesse sentido, o carvão mineral, substituindo a queima de madeira, serviu como o combustível principal para as máquinas a vapor desenvolvidas. Essas máquinas permitiram aumentar a produtividade diminuindo o custo de produção, causando uma crise no sistema artesanal.
Os trabalhadores que, anteriormente contavam com maior autonomia e maior domínio de todos os processos produtivos, passam a se assalariar nessas pequenas e médias fábricas têxteis que estavam surgindo. Os fatores de localização da indústria eram muito regulados pela disponibilidade de matéria prima, dada a dificuldade do desenvolvimento dos transportes naquele período. Diz-se que o modelo produtivo da primeira revolução industrial, ou seja, o modo, a forma de se produzir e organizar a produção, ficou conhecido como padrão manchesteriano. Sobre isto, é importante destacar que não é propriamente um modelo produtivo, mas uma característica das fábricas na cidade de Manchester, Reino Unido.
Segunda Revolução Industrial (Século XIX - 1850)
É a evolução produtiva dessa primeira fase, com a incorporação de um modelo produtivo. Ela ocorreu no final do século XIX, e contou com países como Japão, EUA, Alemanha, Inglaterra e França, dada as transformações vividas na geopolítica mundial ao longo dos anos. Podemos diferencia-la da prímeira, pelo uso do petróleo como principal combustível. Sobre isso é importante frisar que, embora o petróleo e a eletricidade sejam símbolos da Segunda Revolução Industrial, o carvão mineral nunca deixou de ser usado. Ainda hoje, o petróleo e o carvão mineral são os combustíveis fósseis mais utilizados no mundo. De qualquer forma, o motor a combustão, e não mais a vapor, possibilitou o surgimento de novos produtos. Além disso, as fábricas e indústrias começaram a se tornar mais complexas, com destaque para as indústrias siderúrgicas, que transformavam o metal em aço, e nas indústrias automobilísticas.
Sobre os fatores locacionais, é importante frisar que as indústrias naquele período eram enormes, pois possuíam em si todas as etapas do processo de produção. Contava também com as vilas operárias onde moravam os trabalhadores, muito próximas das fábrica, o que, somado aos níveis de exploração do trabalho, facilitava a formação de sindicatos e movimentos trabalhistas.
Terceira Revolução Industrial (1950 - 2010)
A Terceira Revolução Industrial, também conhecida como Revolução Técnico-Científica-Informacional, tem início em meados do século XX, após a Segunda Guerra Mundial. Surge no Vale do Silício, Califórnia, Estados Unidos. Esse é um importante tecnopolo americano, que abriga grandes empresas do setor de informática e telecomunicações. Essa fase corresponde ao processo de inovações tecnológicas e informacionais na produção e é responsável pela integração entre a ciência, a tecnologia e a informação. Nesse aspecto, a Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) de novas tecnologias possibilita às empresas desenvolverem novos produtos, obtendo maior lucratividade. Essas empresas reinvestem parte dos lucros em P&D, gerando um ciclo que os países não desenvolvidos e outras empresas não conseguem superar com facilidade. Na atualidade, possuir indústria não é mais sinônimo de riqueza, e sim a capacidade de desenvolver tecnologia.
É importante destacar que essa fase está vinculada à evolução do modelo produtivo para uma lógica mais flexível. Na aula passada, estudamos a crise do Fordismo e a ascensão do Toyotismo. Esse conteúdo deve ser pensado de forma conjunta com o desenvolvimento da terceira fase da Revolução Industrial. Além disso, a revolução nos transportes e comunicações possibilitada pelas novas tecnologias desenvolvidas nesse contexto expandiram os fluxos de pessoas, capitais e informações inaugurando um processo denominado Globalização. Esse conteúdo ainda será aprofundado nas próximas aulas. Porém, a evolução industrial não parou por aí.
Quarta Revolução Industrial (2010 - atual)
A Quarta Revolução Industrial tem início nos anos 2010, caracterizada principalmente pelo uso da Internet das Coisas (IOT), impressão 3D e inteligência artificial. É importante destacar que ainda não é consenso entre os estudiosos a existência dessa quarta fase. No Fórum Econômico Mundial, realizado em 2016, na cidade de Davos, Suíça, a Quarta Revolução Industrial foi muito debatida, especialmente o fato de que, após a crise de 2008, muitos países adotaram políticas protecionistas muito fortes, o que dificulta a expansão dessa fase. Ela também é conhecida como Indústria 4.0. Outras características que podem ser destacadas são:
- Rastreabilidade dos produtos, o que permite que o consumidor tenha informações sobre o ciclo de vida do produto;
- Visão artificial, utilizada no controle de qualidade da produção ou na assistência para a fabricação;
- Cloud computing, conhecido como armazenamento em nuvem (exemplo: Google Drive) que permite o armazenamento de informações;
- Cyber security, medidas de segurança usadas para proteger a infraestrutura cibernética de ameaças, como os hackers;
- Realidade aumentada, possibilita o fornecimento de informações adaptadas ao contexto mescladas ao campo de visão;
- Manufatura aditiva, que recria cópias tridimensionais de peças e protótipos;
- Robô colaborativo, utilizado na produção no mesmo espaço que os operadores;
Acredita-se que essas e outras inovações trarão ganhos de produtividade, manufatura enxuta e personalização da produção em escala sem precedentes, além da redução de custos e maior economia de energia. É importante destacar que essa revolução é marcada pela evolução dos sistemas digitais e tecnologias da revolução anterior, a qual ocasionará mudanças tão profundas que é considerada uma nova revolução industrial, sendo a mais perceptível delas a automatização total das fábricas.
Parece existir um consenso que as repercussões dessa revolução impactarão as mais diversas esferas. Ela chegará até os lugares mais distantes do planeta, afetará o mercado de trabalho, o futuro do trabalho, impactarão a segurança geopolítica, além de carregar consigo novas questões e debates éticos.