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Espaço Agrário Brasileiro

Neste vídeo, o Prof. Cláudio Hansen resolve uma questão do ENEM sobre o espaço agrário brasileiro, envolvendo o agronegócio e a produtividade no campo.

Revolução Verde e seus Impactos

Agroindústria e Recursos Naturais

Insumos na Revolução Verde

Cadeia Produtiva do Agronegócio

Revolução Verde e Transgênicos

A Revolução Verde foi um processo que levou à passagem da agricultura tradicional, caracterizada pelo plantation e uso intensivo de mão de obra, para a agricultura moderna, através de inovações tecnológicas que permitiram aumentar a produtividade agrícola.

• Revolução Verde: momento em que um conjunto de técnicas e novas tecnológias chegaram ao campo, envolvendo a modernização e mecanização agrícola.

No Brasil, assim como em outros países em desenvolvimento, a Revolução Verde teve início nas décadas de 1960-1970, com expansão dos aparatos tecnológicos necessários para modificação produtiva em larga escala. Anteriormente, a indústria estava associada à cidade, enquanto a agricultura, a pesca e a pecuária estavam associadas ao campo. Com a Revolução Verde, a relação campo-cidade se intensificou, com o campo dependendo cada vez mais da cidade e vice-versa.

 

Nesse momento, a agricultura passou a exigir um número menor de mão de obra, com o perfil mais qualificado, isto é, mais preparada para manusear os maquinários agrícolas, as técnicas de cultivo, fertilização e utilização de agrotóxico. Essa nova demanda estimulou o chamado êxodo rural (fluxo de população do campo em direção à cidade), devido à diminuição da oferta de empregos no campo.

De modo geral, pode-se dizer que a chegada do grande capital ao campo e da consequente modernização agrícola elitizou o acesso a terra e a produção de alimentos. O desemprego e mudança da demanda por um perfil de mão de obra cada vez mais qualificada. Essa mudança no perfil do trabalhador que reside no campo, altera a paisagem do agrícola, criando uma nova cultura rural. Além disso, o campo se torna mais lucrativo, os trabalhadores passam a ter uma renda elevada, resultando em uma demanda por melhores serviços

Nesse novo modelo, a capacidade de produção de alimentos no mundo aumenta exponencialmente. Adapta-se as sementes para expansão do cultivo a nível molecular, e corrige com ciência e tecnológia os problemas no processo de cultivo, garatindo a produtividade. No geral, planta-se em larga escala para exportação, o que foi um dos motivos para aumento da concentração fundiária, já histórica em nosso país. Nesse momento, pequenos produtores passam a não conseguir mais concorrer com as grandes estruturas tecnológicas, além do desemprego já citado e os impactos ambientais aumentando exponencialmente.

Mas este cenário causa também maior dependência econômica do campo em relação a cidade, uma vez que é no meio urbano que esse novo campo dispõem de verba, tecnologia, consumo, leis, pesquisa, decisões administrativas, incentivos do sistema financeiro, transportes…

No Brasil, a expansão da fronteira agrícola se deu do Sul, para o Centro Oeste, e hoje caminha na direção das regiões Norte e Nordeste, sendo um dos principais vetores de desmatamento da Amazônia. A nova estrutura produtiva do campo é chamada de CAI (Complexo Agroindustrial) ou agroindústria, e consiste em três etapas principais:

• Primeira etapa – indústria de insumos: Tudo o que é necessário para desenvolver a atividade agrícola, como maquinário, irrigação, adubação, correção do solo, agrotóxico e Organismos Geneticamente Modificados (OGM).
• Segunda etapa – agricultura e pecuária: Atividade típica do campo, plantação e criação de animais. O Brasil se destaca muito nos dois, tanto na agricultura quanto na pecuária, pois investe em tecnologia e pesquisas.
• Terceira etapa – indústria de beneficiamento: Consiste na adaptação dos produtos agrícolas para os moldes do mercado, ou seja, a etapa final não é mais a colheita agrícola. Cabe destacar que o beneficiamento agrega valor ao produto.

 

A questão dos transgênicos
Entende-se por trangênico as sementes geneticamente modificadas. Ao longo da história humana pode-se dizer que são muito antigas as técnicas de selecionar espécies geneticamente mais fortes, ou até cruzar plantas com características desejadas pelo homem para o consumo. Porém, os transgênicos passam a ser característica da Revolução Verde uma vez que contam com alta tecnologia molecular. A genética das sementes são desenvolvidas e patenteadas por empresas. O crescimento desse uso se relaciona a lógica de exportação: se a ideia é plantar para exportar para o mercado internacional, é preciso produzir em larga escala, e de modo a garantir a produtividade. Para produzir muito, subentende-se uma estrutura produtiva concentrada, no sentido de enormes pedaços de terra para o mesmo cultivo. Subentende-se também que, para garantir a produtividade, plantarei uma semente com a garantia de sucesso, que se adapte ao solo, em biomas diversos e não típicos, e não dependa muito de fatores climáticos para acontecer. Logo, essa prática aumenta a produtividade de alimentos no mundo.

Você deve estar se perguntando: ingerir alimentos que foram modificados geneticamente, faz mal a saúde? Ora, pensemos na lógica da biologia. Quanto maior a disponibilidade de recursos alimentares, a população que consome esse recurso tende a crescer. Se estamos plantando um único gênero agrícola em larga escala (monoculturas), um inseto que se alimenta daquela planta tenderá também a se multiplicar – é o que chamamos de pragas. Para conter as pragas, inerente a esse modelo produtivo, realiza-se uma verdade venda casada: vende-se a semente transgênica junto com o agrotóxico que aquela planta será resistente. Por isso, o debate para a saúde se concentra mais na ingestão de agrotóxicos e na poluição hídrica que eles podem causar do que na semente geneticamente modificada em si. Em 2011, a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida divulgou que cada brasileiro consumia cerca 5,2 litros de agrotóxico por ano. As médias em 2017 chegaram a 7 litros de agrotóxico por brasileiro, por ano.

Sugestão de documentário – O veneno está na mesa e O Mundo Segundo a Monsanto, disponíveis no Youtube.
https://www.youtube.com/watch?v=8RVAgD44AGg
https://www.youtube.com/watch?v=y6leaqoN6Ys

 

A expansão da Fronteira Agrícola
O Sul do Brasil foi amplamente ocupado por migrantes europeus que viram no litoral sul do Brasil uma oportunidade, a partir da distribuição de terras feitas pela coroa portuguesa. O Sul tem a menor extensão territorial do Brasil, o que limitava o desenvolvimento agrícola, além da falta de infraestrutura à época. Para se ter uma ideia, podemos comparar o tamanho inteiro do sul do Brasil com o tamanho do estado de Minas Gerais. Possuindo um clima subtropical, teve tipos agrícolas típicos de cereais como soja, trigo e cevada. Com a Revolução Verde e a modernização do campo, não estávamos mais restritos as condições climáticas para plantio, podendo expandir a fronteira produtiva. A modificação genética da semente da soja permitiu a expansão da fronteira da soja para o Mato Grosso do Sul. Isso fez com que muitos Gaúchos comprassem grandes latifúndios nesse estado, além de receberem a missão de colonizar terras do Mato Grosso.

Além da expansão do domínio da soja, a política de JK e a construção de Brasília também estimularam o crescimento do Centro-Sul. O estimulo a ocupação dessa região, em direção ao Norte, e a criação de novos eixos rodoviários, possibilitou a venda de terras e o aprofundamento do dinamismo econômico na região. Outro impacto do processo de modernização do campo foi a crise na agricultura, que aumentou a concentração fundiária e o desemprego rural. Houve então um fluxo migratório também dos pequenos agricultores e da mão de obra excedente do campo sobretudo para Mato Grosso do Sul e Goiás. O programa de desenvolvimento da Amazônia fazia parte desse projeto estimulando a migração e a ocupação da região Centro-Oeste, acompanhando o avanço da soja para o Norte. Muitos nordestinos migravam a pé para a região fugindo da seca e da miséria, vendo uma oportunidade de emprego na construção de Brasília.

Uma migração mais robusta e direcionada pelo estado também se deu, para a expansão da fronteira agrícola em Goiás e Mato Grosso. A elite imobiliária do Sul foi uma grande responsável pela criação de agrocidades no centro oeste, expandido a fronteira agrícola. Lembra que a soja era muito presente no sul? Então, com a modernização do campo e a alteração genética nas sementes, passa a ser possível estabelecer monoculturas numa região mais quente com solo mais empobrecido, deixando de depender tanto dos fatores naturais para a produção funcionar. É importante descatar a participação da colonizadora SINOP S.A que recebeu glebas de terra do governo para ocupar a região do centro-oeste.

Essa mesma elite deu início a cinco cidades no Paraná no início da colonização, foram elas Terra Rica, Iporã, Ubiratã, Formosa do Oeste, Jesuítas, e outros 5 distritos. E também receberam a missão de de ocupar a Gleba Celeste, área que equivale a 645mil hectares no Mato Grosso, fundando as cidades de **Vera, Santa Carmem, Claudia e Sinop, expandindo a fronteira agropecuaria e a industria madereira para as regiões. Eles contaram também com a migração do êxodo dos trabalhadores mais pobres do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul para compor a mão de obra não qualificada nas cidades criadas por eles. Essas cidades são muito voltadas para o agronegócio, possuindo atividades como por exemplo o comércio de tratores, faculdades de agronomia. Uma economia típica de uma agro-cidade.

Pode-se compreender que o Centro-Oeste é uma das regiões mais urbanizada do Brasil por causa da mecanização na produção da soja e da construção dessas cidades a partir da iniciativa privada, estimulada pelo estado, direcionando a produção da mão de obra para o novo projeto de organização territorial brasileira. O desmatamento do cerrado também foi uma consequência desse período de modo que o Centro-Oeste começa então a ser associado ao setor agropastoril. A expansão da soja vai principalmente para a direção Norte depois de dominar o Centro-Oeste, sendo o Mato Grosso considerado o coração do agronegócio no Brasil. O Pantanal passa a sofrer com o impacto do gado, que não é muito típico da região por suas características físicas e geográficas. Existiram leis que tentaram controlar a chegada da soja na Amazônia porque, apesar de ser lucrativa, tem muitas perdas ambientais. Com o cerrado já muito desmatado, foi proibido desmatar áreas de floresta para plantar soja. Assim, a pecuária vem estrategicamente abrindo área para posteriormente se introduzir a soja, trigo, milho e outros commodities. A agroindústria é muito forte no Centro-Norte brasileiro, assim como no Sul e em parte de São Paulo, sendo a capital da agroindústria do Brasil a cidade de Ribeirão Preto no interior de São Paulo.

Hoje, o campo brasileiro é caracterizado por uma produção moderna e muito depende de capital. O avanço sobre o Centro-Oeste e o desmatamento do Cerrado possibilitaram transformações significativas no território brasileiro. O Brasil é uma potência agrícola próxima dos Estados Unidos e da União Europeia, mas a um custo do crescente desmatamento e de muitos conflitos no campo. O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) é um dos principais grupos que luta pela Reforma Agrária, uma forma de reorganizar essa estrutura fundiária altamente concentrada. Porém, muitos de seus assentamentos sofrem ataques por determinados fazendeiros e o campo brasileiro acaba sendo manchado por sangue. O MAPITOBA – Maranhão, Piaui, Tocantins e Bahia, e o Bico do Papagaio (extremo norte de Tocantins) são as regiões mais violentas do campo.