O que é estratificação?
Formas de estratificação
Mobilidade social
Tipos de mobilidade
Sociedades abertas e fechadas
Fatores relacionados à mobilidade
Estratificação social
O termo estratificação origina-se da palavra estrato, que significa camadas. Por sua vez, a expressão estratificação social designa o ato de distribuir em camadas pessoas ou grupos de forma hierárquica, de acordo com suas situações financeiras, relações de poder (quem manda ou é mandado) ou mesmo de suas responsabilidades profissionais dentro da sociedade. É importante salientar, que nas sociedades capitalistas contemporâneas a posição ocupada pelos indivíduos é, em grande medida, determinada pelo quanto eles possuem, pois, na maioria dos casos, o poder está nas mãos de quem tem dinheiro e as profissões mais bem remuneradas são exercidas por pessoas que conseguiram ter uma boa formação educacional. Já por mobilidade social compreende-se a possibilidade de um indivíduo ascender ou descender de uma determinada camada social, como por exemplo, um pobre tornar-se rico ou um rico torna-se pobre. No entanto, como veremos, nem todo tipo de estratificação permite a mobilidade social.
Existem três tipos de estratificação social, a saber: por castas, por estamento e por classes sociais. Alguns autores discutem a possibilidade de estabelecimento de uma quarta forma de estratificação, a de sociedades escravagistas, defendendo que esta tem características peculiares como dispor de um indivíduo como propriedade, constituindo a forma mais radical de desigualdade. Na estratificação por castas, comum à sociedade tradicional hindu, as camadas sociais estão ligadas a determinadas funções no interior da sociedade e a mobilidade social é impossível, pois o pertencimento a uma casta é determinado pela família da qual se é membro. Na Índia antiga, por exemplo, os brâmanes constituíam a casta mais elevada, responsável pelas funções sacerdotais; por sua vez, imediatamente abaixo deles, estavam os xátrias, que compunham o grupo dos guerreiros. Ora, no sistema de castas não há qualquer tipo de mobilidade social, pois a transferência de casta é proibida e um indivíduo só pode se casar com outro indivíduo da mesma casta. Assim, um brâmane jamais poderia abdicar de suas funções sacerdotais ou ser casada com um xátria.
Na estratificação por estamentos, comum à Idade Média feudal, as camadas da sociedade permanecem sendo associadas a certas funções sociais, porém, neste tipo de estratificação já existe algum tipo de mobilidade social, ainda que difícil. Na Europa medieval, por exemplo, cabia ao clero rezar pela sociedade, à nobreza proteger a sociedade e, aos servos, trabalhar pela subsistência da sociedade. No entanto, havia alguma chance de mobilidade social através da vida religiosa: um camponês, por exemplo, poderia ser ordenado padre e alguns chegaram até mesmo a serem bispos.
Já a estratificação por classes é a existente em nossa sociedade. Nela, a divisão social por camadas deixa de estar tão associada às funções sociais exercidas para estar mais ligada ao poder econômico do indivíduo. Enquanto, no regime de castas, mesmo que um xátria fosse mais rico que um brâmane, ele permaneceria sendo inferior socialmente, pois sua função social era vista como inferior. No regime de estamentos, do mesmo modo, ainda que um burguês fosse mais rico do que um nobre, ele teria menos status socialmente. No sistema de classes, por sua vez, o que importa é o componente financeiro: os mais ricos compõem a classe alta, os mais pobres a classe baixa, e os que estão entre ambos, a classe média.
Naturalmente, por isso mesmo, a estratificação por classes é aquela onde a mobilidade social é maior, pois depende fundamentalmente do dinheiro e não tanto das funções sociais exercidas. No entanto, vale ressaltar que, para que ocorra mobilidade social dentro de uma sociedade, medidas devem ser tomadas para que se diminua a desigualdade social, dando oportunidades aos grupos historicamente desfavorecidos.
Outro ponto importante a se ressaltar sobre estratificação é que vários fatores podem ser considerados na formação da hierarquia social. Segundo Marx, a divisão da sociedade em classes não está ligada a renda (apesar de essa ser determinante no modo de vida que o indivíduo levará) e sim à posição que o indivíduo ocupa nas relações de produção. Se o indivíduo detem o controle dos meios de produção ele é burguês, se o indivíduo tem que vender sua força de trabalho para sobreviver ele é proletário. Já para Weber a estratificação depende não só do fator financeiro, como também do prestígio e poder. Assim Weber mobiliza as esferas da política, da cultura e da economia para estabelecer uma complexa relação entre atributos que posicionarão o indivíduo na hierarquia social, ressaltando que cada momento histórico tem sua dinâmica própria nessa relação, privilegiando um aspecto sobre outro. Outro pensador a formular uma notável análise sobre a estratificação social é Bourdieu. Segundo ele, além de capital financeiro, os indivíduos possuem outros ativos sociais, elementos que podem ser usados nas relações sociais. Esses capitais são o capital cultural (que envolve formação, instrução e outros conhecimentos considerados socialmente relevantes), capital social (que é representado pela rede de pessoas que o indivíduo pode mobilizar para alcançar algum objetivo) e capital simbólico (que representa a efetiva utilização desses capitais no interior do campo simbólico, ou seja, quando os capitais que o indivíduo possui são valorizados num determinado campo). Sendo assim, nas sociedades modernas, a estratificação social pode ser analisadas de múltiplas perspectivas, sendo, obviamente, o aspecto financeiro o mais relevante.
Mobilidade social
A mobilidade social é um conceito sociológico que diz respeito à mudança de posição dos indivíduos ou grupos sociais no âmbito de uma determinada estrutural social hierárquica. A palavra mobilidade é proveniente do verbo latino movere, que significa deslocar, colocar em movimento. Comumente a mobilidade social é medida em termos quantitativos, ou seja, traduzida em mudanças de ordem econômica como o incremento de renda ou mudanças ocupacionais. Também se pode medir a mobilidade pela utilização do conceito de classe social para analisar a mobilidade social.
É importante observar que a mobilidade social é típica das sociedades modernas, já que outros modelos de estratificação (como o de castas ou estamentos) não permitiam aos indivíduos mudar de posição que era definida em seu nascimento. Com o estabelecimento de relações de produção mais estáveis, a ideia de ascensão social foi utilizada muitas vezes como motivadora das classes trabalhadoras. Enquanto a rigidez de modelos de estratificação anteriores se baseava em justificativas ideológicas, no sistema de classes é a possibilidade de mobilidade social que garante, em parte, a manutenção da hierarquia social, já que estudos comprovam que o advento de mobilidade social de caráter radical é extremamente raro.
Entre os pesquisadores não se tem um consenso sobre o nível desejável de mobilidade social. Uma mobilidade exagerada produziria uma instabilidade social, ao passo que pouca mobilidade leva a estagnação social. Nos dois caso pode haver um processo de anomia social já que instituições sociais teriam dificuldade para se formar ou para dar conta da adesão dos indivíduos. Contudo, observa-se uma clara relação entre desigualdade e mobilidade numa proporção inversa.
Outro fator importante a se pontuar é que a mobilidade social é o movimento dos indivíduos na hierarquia social, ou seja, na estratificação. Disso já sabemos, mas, o que provavelmente está passando desapercebido é que a mobilidade dependerá de fatores estruturantes da estratificação. Através da interpretação weberiana, por exemplo, o fluxo entre estratos sociais pode se dar por diferentes fatores, como prestígio e poder, além de renda. Bourdieu também interpreta as relações sociais como dinamizadas por ativos sociais que são os diferentes tipos de capitais (social, econômico, cultural e simbólico). Qualquer um desses capitais pode ser útil no movimento entre os estratos, ressaltando que, para ambos os autores, cada contexto histórico prioriza um capital em específico.
Há dois tipos principais de mobilidade social: Mobilidade social horizontal e mobilidade social vertical. Este último tipo de mobilidade social, por sua vez, pode ser dividido ainda em mobilidade social ascendente e mobilidade social descendente.
A mobilidade social horizontal é aquela na qual uma pessoa ou grupo adquire uma certa mobilidade social sem, no entanto, mudar seu estrato social. Por exemplo: Uma pessoa que ascende socialmente, mas que continua pertencendo ao mesmo estrato do qual já fazia parte. Nesse caso temos, portanto, uma mobilidade social horizontal. Por outro lado, a mobilidade social vertical ocorre quando a mudança social é suficiente para deslocar aquela pessoa ou grupo de pessoas para outro estrato social. Nesse caso, a mobilidade social pode ser ascendente - quando pessoa ou pessoas ascendem socialmente, ou seja, quando sobem um ou mais degraus na escala social – ou descendente – quando pessoa ou pessoas descendem socialmente, ou seja, quando descem um ou mais degraus na escala social.
Essas classificações podem ser observadas sob duas perspectivas, a da mobilidade intergeracional e intrageracional. Na mobilidade intergeracional é observada a trajetória de indivíduos através de diferentes gerações, enquanto a mobilidade intrageracional observa o movimento dos indivíduos na hierarquia social numa única geração. É importante notarmos que quanto mais estratificada é uma sociedade, mais difícil se torna o processo de mobilidade social. Por exemplo: Na sociedade feudal, que era uma sociedade onde os papéis sociais eram rigidamente definidos, era impossível a mobilidade social. Nesse sentido, no período medieval, quem nascia nobre, morreria sendo nobre; quem nascia servo, morreria servo; quem fazia parte do clero, permaneceria como membro do clero.