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Introdução

Nesta aula, o Prof. Claudio Hansen indica uma divisão regional da África seguindo o Saara como divisor e salienta a importância do Sahel para conter o avanço dos processos de desertificação e também a importância do petróleo em águas profundas no golfo de Guiné, ressaltando suas vantagens em comparação a extração em terra.

Fronteiras e Conflitos na África Subsaariana

Violência e Desinformação na África Subsaariana

O Apartheid

A África é o terceiro maior continente do mundo. Ao todo são 54 países africanos, contendo uma enorme diversidade de climas, paisagens e culturas. De totais desertos a climas equatoriais chuvosos, a África possui uma população que reflete a diversidade da extensão territorial do continente, com cerca de 130 etinias diferentes, além de existirem mais de mil idiomas no continente. Vamos estudar como o continente que foi o berço da humanidade hoje enfrenta consequências e perspectivas de processos históricos passados.

 

Aspectos físicos: clima e regiões da África

• Na África do Norte se encontra o predomínio de clima árido, semiárido e mediterrâneo, com destaque para o deserto do Saara. Ali existe a conexão com o Mar Mediterrâneo, sendo uma área de fronteira entre Europa Ásia e África. Também nessa área passa o rio Nilo, que nasce nas regiões centrais mais úmidas, segue pelo deserto e desagua no mar mediterrâneo. Foi nele que as primeiras civilizações desenvolveram técnicas de irrigação que permitiam plantio mesmo numa região árida.

• Existe, ainda, uma faixa de transição entre a África Saariana e a África Subsaariana que chamamos de Sahel. Ali predomina uma vegetação de savana. Quanto maior a disponibilidade hídrica vai aumentando, em direção ao sul, mais o adensamento florestal se torna perceptível. É nessa região que existe um importante projeto de reflorestamento chamado cinturão verde, onde árvores frutíferas e alimentares são plantadas para conter o avanço da desertificação do Saara. Essa ação humana tem sido responsável pelo aumento da biodiversidade, e pelo incremento de umidade na região.

• A África Subsaariana, ou seja, abaixo do Deserto do Saara, podemos identificar o predomínio de um clima mais úmido, tropical e equatorial de acordo com as latitudes. Ali temos o destaque para produção agrícola. Pela influência equatorial, podemos encontrar também a Floresta do Congo, de grande biodiversidade.

• Mais ao sul, se distanciando do trópico de capricórnio, o clima volta a ser desertíco também pela influência de correntes marinhas frias. Ali encontramos o Deserto da Namíbia e do Calaari. Enquanto mais ao leste, uma corrente quente do Madagascar permite uma maior abundância de chuvas na África do Sul.

Uma forma comum de regionalizar a África é a partir da divisão do deserto do Saara. Por se tratar do segundo maior deserto do mundo, sobretudo nos tempos antigos, esta fronteira estabelecia uma divisão bem delimitada. Os povos acima do deserto do Saara possuiam maior contato com os povos europeus e orientais, e essa falta de articulação com o povo subsaariano foi uma das estratégias utilizadas pelo imperialismo não só no processo de apropriação de territórios, mas no processo de construção da história africana e disputa de narrativas.

Uma classificação regional importante, que vai além da ideia de África Saariana e Subsaariana é a seguinte:

A criação colonial do continente Africano

No século XIX, os europeus tinham demandas econômicas que levaram a necessidade de expansão por matéria prima, mão de obra e mercado consumidor, aumentando sua presença e atuação na África e Ásia. Um dos fatores que influenciou o interesse imperialista foi a grande riqueza natural encontrada no território africano. Devemos destacar os minérios e pedras preciosas em países como República Democratica do Congo e África do Sul. Golfo da Guine, Nigéria e Angola se destacam também por possuirem petróleo em seu território. Além disso, a grande quantidade de terras tropicais transforma o continente numa grande potência agrícola. O continente de modo geral se destaca pela riqueza mineral presente em seu território.

Além das demandas econômicas, é importante ressaltar que o racismo foi um importante motivador para a forma como as relações entre europa e áfrica se estabeleceram. Existem inúmeros escritos daquela época que costatam uma visão europeia sobre os povos africanos, os descrevendo como inferiores, preguiçosos e selvagens. Essa visão, demonstra uma tentativa de desumanização das populações africanas, revelando também a intencionalidade política de legitimar as ações que se realizavam naquele território.

Sobretudo entre 1830 e 1880 o domínio europeu sobre terras Áfricanas se expandiu consideravelmente. O processo que ficou conhecido como Partilha da África começou por meio de políticas conhecidas como imperialistas.

Pode-se dizer que inicialmente, a atuação do império Francês sobre a Argélia e posteriormente a Tunísia, Senegal, Guiné, Níger, Daomé, Mali, Marrocos, Madagascar, entre outras nações. A Inglaterra também exercia domínio, estabelecendo um sistema de protetorado sobre o Egito, e anexando regiões como Sudão, Uganda, Quênia, Serra Leoa, Nigéria e Somália. Alguns países europeus no entanto, como Itália e Alemanha haviam passado por processos de unificação tardia.

Para evitar conflitos internos e fortalecer o continente europeu como uma totalidade, houve a Conferência de Berlim, que visava estabelecer um acordo pacífico para a disputa por territórios africanos. Esta conferência oficializou a chamada partilha da África e criou uma divisão territorial com base nas zonas de exploração de onde os europeus extraíam recursos para suas indústrias.

 

O grande poder bélico dos Europeus foi parte da estratégia de dominação. Além disso, as divisões territoriais desarticulavam os povos, colocando no mesmo território etinias, linguas e culturas diferentes, o que dificultava a articulação dos povos africanos. A resistência cultural nesse período foi muito importante para os africanos, sobretudo a partir dos esforços dos colonizadores de impedir práticas culturais e o exercício da identidade daqueles povos. Os movimentos populares de resistência a esse processo, sobretudo a Conferência de Berlim, só cresciam no século XIX, lutando contra o domínio colonial. Os europeus acreditavam no processo civilizatório dos africanos, desconsiderando sua organização social, costumes, crenças, cultura e desrespeitando sua soberania territorial. Importantes movimentos que devem ser citados são a Frente da Libertação Nacional na Argélia, o Movimento Popular pela Libertação de Angola e a Frente Nacional de Libertação de Angola, a Frente de Libertação de Moçambique, entre muitos outros só alcançaram vitórias significativas, como a independência de várias colônias no pós 2ª GM, quando a Europa já estava enfraquecida no cenário geopolítico.

Fato é que o processo de divisão territorial tal como se estabeleceu e foi reconhecido gera fragilidades e fomenta conflitos. São etinias e culturas muito diferentes no mesmo território nacional. Trata-se de populações com diferentes religiões, valores, línguas, etinias, culturas, hábitos, pertencendo a mesma unidade nacional. Pense que a África é muito grande. Só o deserto do Saara é maior que o Brasil inteiro. A distância implica numa grande diversidade sociocultural. Toda diversidade desse território demandava uma outra divisão territorial.

 

Não se esqueça de que a divisão foi realizada de forma estratégica para desarticular o poder de organização e resistência dos povos. Assim como no período escravocrata, colocavam povos diferentes que muitas das vezes não falavam a mesma língua nos porões dos navios para reduzir a resistência e a capacidade de organização. Era comum também que o regime colonial fomentasse que o grupo minoritário dentro da região detivesse o poder local, o que instigava o conflito e o aumento de regimes ditatoriais, pela falta de aceitação da legitimidade do governo por parte dos outros povos. A frágil organização política facilita tambem maior atuação estrangeira sobre os territórios. Atualmente, o conflito por recursos e soberania gera casos extremos de guerras e conflitos internacionais. Essas guerras geram também campos de refugiados, que muitas das vezes parecem até mesmo cidades inteiras, dado o tamanho e a extrema pobreza e vulnerabilidade social que grande parte da população se encontra. A dificuldade de estabilidade territorial cresce também a atuação de milicias armadas, sendo que essas questões que perpassam e motivam uma gama de conflitos no continente.